Na grande maioria das vezes é subestimado o impacto ambiental da internet, não havendo consciência das consequências significativas das atividades online para o ambiente. Nunca fez tão sentido ter em consideração o “Green Design”, uma abordagem de design que visa criar produtos, serviços e sistemas com considerações ambientais. Conversamos com Rita Remédio, Professora Assistente de UX/UI Design na Ironhack, que nos falou da importância desta prática no sentido em que visa minimizar o impacto negativo no meio ambiente ao longo de todo o ciclo de vida de um produto ou projeto.
Tal como no contexto empresarial ou em outras áreas dentro de uma empresa, a sustentabilidade também deve ser incorporada no departamento de Design, defende a especialista, destacando que o Web Design, em particular, oferece uma excelente oportunidade para as empresas adotarem práticas mais sustentáveis: “Ao implementar estratégias de Green Design, é possível reduzir o consumo de energia, otimizar o desempenho dos websites e minimizar a pegada de carbono”. Estas medidas não contribuem apenas para o meio ambiente, mas também trazem outros benefícios, como “uma imagem corporativa positiva e alinhada com práticas sustentáveis e a satisfação dos clientes que sejam mais conscientes para este tópico”, explica a responsável.
Embora as tecnologias digitais tragam consigo benefícios, como maior eficiência energética e redução do uso de papel, Rita Remédio atenta na importância de se conhecer que também têm impactos negativos significativos: “A rápida obsolescência dos dispositivos eletrónicos e o aumento do consumo de energia relacionado aos servidores e centros de dados têm um impacto ambiental substancial”. De acordo com algumas estimativas, a pegada de carbono dos dispositivos eletrónicos, da internet e dos sistemas que os suportam representa aproximadamente 3,7% das emissões globais de gases de efeito estufa: “Essa quantidade é comparável às emissões globais produzidas pela indústria aérea”, atenta.
“as empresas serão incentivadas a adotar o Green Design como uma estratégia competitiva”
Questionada sobre o facto de as organizações terem em consideração tal impacto, a responsável reconhece que nem todas as organizações estão plenamente conscientes do seu impacto ambiental digital. Ainda assim, já há organizações que estão a liderar o caminho e a “criar websites que não apenas têm um design apelativo e “engaging”, mas também possuem baixas emissões, como a Manoverboard e a C40 Cities”, aponta. Ambos os websites, segundo a especialista, adotam práticas de alojamento “verde”, o que significa que são alojados em servidores que utilizam fontes de energia renovável. Adicionalmente, demonstram uma “abordagem eficaz e clara na comunicação da sua mensagem”, e têm em conta as “cores, tipografia e imagens escolhidas para o website”. Estas escolhas conscientes contribuem para “criar uma experiência visual coerente, e alinhada às práticas de Green Design”, precisa.
Com a crescente consciencialização dos desafios ambientais e a procura dos consumidores por produtos sustentáveis, Rita Remédio acredita que as empresas serão incentivadas a adotar o Green Design como uma estratégia competitiva: “Prevê-se um aumento no investimento em pesquisa e desenvolvimento de tecnologias sustentáveis, bem como uma maior colaboração entre empresas, governos e instituições académicas para impulsionar a inovação sustentável”.
Quais os requisitos para implementar “Green Design”?
No momento de implementar um “design sustentável” há que ter em consideração algumas medidas, como por exemplo, estabelecer um “orçamento” para cada produto digital, ou seja, um orçamento que determina o peso máximo de uma página de web: “Não em quilos, mas em kilobytes ou megabytes”. Especificamente, “estamos a falar do tamanho dos arquivos transferidos pela internet quando uma página da web é carregada”, refere, acrescentando que, assim, existe uma “referência clara de quais os objetivos a cumprir para todos os membros da equipa, de project management, a design e a web development”. No que diz respeito a “UX Research”, a responsável chama a atenção para a importância de se “planear de forma inteligente as user journeys dos utilizadores” para que estes alcancem os seus objetivos de forma eficiente: “Journeys mais curtas não só são apreciadas pelos utilizadores, mas também poupam energia ao reduzir o tempo gasto online e o número de páginas carregadas de forma a concluir os seus objetivos”. Assim, deve-se evitar “design patterns que incentivem o utilizador numa journey mais longa de modo a servir objetivos financeiros, e priorizar sempre as verdadeiras necessidades dos utilizadores”, sustenta. No que toca a “UI (user interface design)”, outra medida relevante é utilizar imagens de forma eficiente: “As imagens representam uma parte considerável do tamanho na maioria dos sites, por isso, garantir que todas as imagens tenham um propósito justificável é uma das melhores estratégias para reduzir o peso da página e o consumo de energia”. Tão importante é discutir as cores a utilizar: “Como seria de esperar, cores mais escuras requerem menos energia para iluminar, sendo o preto a cor de menor consumo energético e o branco a cor mais dispendiosa”. No entanto, as escolhas de cores têm um impacto significativo na acessibilidade de um produto digital: “Ao considerar uma paleta de cores para um projeto, é importante encontrar um equilíbrio entre acessibilidade e eficiência energética”.
Ainda neste âmbito, existem outros recursos práticos, como por exemplo, o Sustainable Web Manifesto, que tem diretrizes claras para uma Internet mais sustentável; o Website Carbon Calculator, onde se pode calcular a pegada de carbono de um website; e o Sustainable Web Design, que tem um repositório de estratégias sustentáveis que englobam as várias equipas envolvidas em projetos digitais, desde operações, a design, marketing e web development.
Resistência, investimento e Divulgação
Quando comparado com outros países, Portugal ainda tem um longo caminho a percorrer no que diz respeito ao Green Design: “Infelizmente, a maioria das empresas não considera esta prática como uma prioridade ao criar os seus websites”. Ainda assim, destaque para a Helexia, empresa portuguesa, que apostou na metodologia Sustainability Web Design para ter um site neutro. Projetado com o objetivo de “reduzir o consumo de energia e, consequentemente, diminuir a sua pegada de carbono”, o novo site da Helexia é hospedado num “data center que utiliza energia verde”, sendo que, a empresa também implementa medidas para “monitorizar as emissões geradas pelas visitas”, comprometendo-se a compensar essas emissões no final do ano: “A Helexia assegura, assim, navegações ´net-zero`”
O que pode dificultar o aceleramento desta prática no país é, de acordo com a docente a resistência à mudança: “A incorporação de práticas sustentáveis pode exigir uma mudança de mentalidade e abordagem por parte dos designers e das organizações”. Por isso, algumas empresas podem resistir à adoção do Green Design devido a “preocupações com custos adicionais ou falta de compreensão dos benefícios a longo prazo”, refere. Outro obstáculo prende-se com a “necessidade de investimentos em infraestrutura, tecnologias e recursos” para implementar o Green Design. E a inda a falta de divulgação: “É importante promover a consciencialização sobre os seus benefícios ambientais e fornecer recursos educacionais para profissionais e estudantes, a fim de incentivar uma adoção mais ampla destas práticas sustentáveis”.
A consciencialização sobre os benefícios ambientais do Green Design e o fornecimento de recursos educacionais para profissionais e estudantes do setor desempenham um papel fundamental na aceleração da tendência no país, considera Rita Remédio, relembrando que o design sustentável pode mesmo “contribuir para a preservação do meio ambiente”, sendo crucial para “inspirar e motivar os profissionais e estudantes do setor a incorporarem essas práticas em seus projetos”. Além disso, atenta a responsável, disponibilizar recursos educacionais é essencial para “capacitar e informar sobre as melhores práticas e tecnologias” disponíveis neste campo: “Ao fornecer informações atualizadas e acessíveis, podemos equipar os profissionais e estudantes com o conhecimento necessário para implementar soluções inovadoras e ecologicamente responsáveis nos seus projetos futuros”.