Grandes empresas de eletricidade chegam a acordo para prolongar a vida da Central Nuclear de Almaraz
O tenso processo de negociação entre os proprietários da Central Nuclear de Almaraz mostra um debate viciado e baseado exclusivamente nos benefícios da extensão do seu funcionamento. O Movimento Ibérico Antinuclear (MIA) considera que a extensão das autorizações de operação envolverá verificações de segurança caras e complexas, que obrigarão as empresas de eletricidade a investir mil milhões de euros, o que sem dúvida afetará o preço da eletricidade. Por outro lado, o conflito de tensão mostra claramente que a incapacidade de acordo entre os proprietários supõe um risco adicional ao próprio envelhecimento da Central.
O acordo de renovação da Central Nuclear de Almaraz, acordado após meses de tensas negociações entre Iberdrola, Naturgy e Endesa, deixa claro que a única razão para sua existência é a obtenção de um lucro económico adicional. Além disso, este tenso conflito mostra claramente que, como aconteceu em Garoña, o principal perigo da Central é a atitude dos seus proprietários, que parecem apenas considerar o lucro económico.
O MIA exige que o Governo Espanhol não autorize a extensão da licença de operação para a Central Nuclear de Almaraz, que expira em 10 de junho de 2020. As duas unidades da Central atingem 40 anos de operação em 2021 e 2023, respetivamente. As organizações do MIA consideram que não faz sentido sujeitar os dois reatores a inspeções profundas e dispendiosas, em termos económicos e de doses radioativas recebidas pelos trabalhadores na infraestrutura. A Central coloca em risco não só o território espanhol, mas também o português, através da possível dispersão da radioatividade pela atmosfera e pelo rio Tejo, em caso de acidente com fuga radioativa.
Para o Movimento Ibérico Antinuclear, as empresas detentoras da Central não cumprem os requisitos mínimos de fiabilidade para continuar a operar uma energia tão perigosa como a nuclear. Por conseguinte, o MIA exige a não renovação da licença de funcionamento da Central Nuclear de Almaraz, o seu desmantelamento e o estabelecimento de um imposto relativo à propriedade e que garanta financeiramente a insuficiência de fundos previstos para a gestão dos resíduos nucleares para as quais os proprietários da Central são responsáveis.
Como esta organização já assinalou, a possibilidade de estender o calendário de encerramento das Centrais Nucleares espanholas até ao período entre 2025 e 2035, significaria que todos os reatores passariam os 40 anos de funcionamento e, em alguns casos, até os 50. Para o Movimento Ibérico Antinuclear esta proposta é inadmissível. Entre as razões apontadas, vale a pena destacar os problemas de segurança que se tornarão mais agudos à medida que os sistemas das Centrais envelhecem. Assim, a extensão das autorizações de operação envolveria verificações de segurança caras e complexas que forçariam as empresas elétricas a investir mil milhões de euros que, sem dúvida, afetariam futuramente o preço da eletricidade.
Por outro lado, esse prolongamento aumentaria o volume de resíduos nucleares de alta atividade em cerca de 175 toneladas por ano, sem existir ainda um método aceitável para a sua gestão e destino final. O mesmo aconteceria com a produção de resíduos nucleares de média e baixa atividade que não caberiam no cemitério nuclear de El Cabril (Córdoba).
Neste sentido, o Movimento Ibérico Antinuclear, que reúne cerca de 50 organizações ambientais e cívicas de Espanha e de Portugal, entre as quais a Quercus, aponta que o sexto programa de gestão dos resíduos radioativos é uma promessa vã e afirma que a licença de exploração da Central Nuclear de Almaraz (Cáceres), que expira em 8 de junho de 2020, não deve ser renovada, apesar da autorização da construção do Armazém Temporário individualizado (ATI) e da decisão tomada agora pelas empresas que a exploram.