Cientistas alertaram recentemente que a Grande Barreira de Coral pode perder até um quarto dos recifes nos próximos 40 anos pelo facto de os corais estarem a perder capacidade de tolerar o branqueamento produzido pelo aquecimento das águas. “Com um aumento da temperatura de meio grau centígrado, um quarto dos corais do recife vai perder essa proteção (…) [nos próximos 40 anos] e 80% dentro de um século”, disse Juan Carlos Ortiz, especialista em ecologia marinha da Universidade de Queensland, à agência Efe.
Ortiz é o coautor, com Tracy Ainsworth, da Universidade James Cook, de um estudo publicado na revista Science centrado nas respostas dos corais ao aquecimento global. O estudo, que também contou com especialistas da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA), revela que os corais têm respondido a fenómenos de branqueamento ativando um sinal metabólico que lhes permite preparem-se, com uma antecedência de dias, para o ‘stress’ térmico produzido pelo aquecimento da água do mar.
Os corais geralmente começam a preparar-se para a tensão térmica quando a temperatura aumenta em um grau. Este mecanismo de proteção reduz para metade a mortalidade dos corais durante os episódios de branqueamento. Contudo, se a atual temperatura dos oceanos sobe mais meio grau centígrado, “esse primeiro pico de temperatura” já não vai ser um sinal e “os corais não vão ter a capacidade de se preparem para responder”, explicou o cientista venezuelano.
O cientista defende que sejam tomadas medidas para reduzir a emissão de gases poluentes porque, caso contrário, “os recifes vão degradar-se 20 anos antes do que seria normal se não perdessem esse mecanismo” de proteção contra o ‘stress’ térmico.
Segundo Ortiz, a Grande Barreira de Coral perderia todos os valores pelos quais foi declarada Património da Humanidade, ainda que as implicações afetem todo o planeta, porque o atual branqueamento de corais está a ter efeitos devastadores em lugares como Havai, Nova Caledónia e, previsivelmente no próximo ano, na região do Caribe. “A longo prazo, globalmente, os recifes estão em perigo de desaparecer como ecossistema operacional”, lamentou.
O fenómeno do branqueamento acontece quando, devido à subida da temperatura da água do oceano, os corais expelem as algas simbióticas que vivem nos seus tecidos, que lhes imprimem coloração e lhes fornecem nutrientes. A ausência prolongada desse tipo de alga leva à morte dos pólipos de coral.
A Grande Barreira de Coral, declarada Património da Humanidade em 1981, com 2.500 recifes individuais que albergam corais únicos, 1.500 espécies de peixe e milhares de tipos de moluscos, começou a deteriorar-se na década de 1990 devido ao duplo impacto do aquecimento da água do mar e do aumento do grau de acidez por causa de uma presença maior de dióxido de carbono na atmosfera.
O local, com uma área superior a 345 mil quilómetros quadrados ao largo da costa leste da Austrália, escapou, no ano passado, de ser classificado pela UNESCO como estando em perigo, tendo Camberra anunciando um plano de preservação para as próximas décadas.