O Governo vai lançar o concurso para a construção da interligação elétrica entre Portugal e Marrocos na segunda metade deste ano, depois de concluído o estudo de viabilidade desta interligação, adjudicado no início deste ano, avança hoje o Jornal de Notícias.
“O estudo para a viabilidade da interligação vai estar concluído no primeiro semestre deste ano e estaremos em condições para lançar o concurso para a construção no segundo semestre”, revela ao JN/ Dinheiro Vivo Jorge Seguro Sanches, secretário de Estado da Energia.
O secretário de Estado da Energia considerou que “a ligação entre os dois países é estratégica para Portugal. A sua concretização permitirá solidificar a aposta efetuada nas energias renováveis e fazer de Portugal uma referência mundial nesta área.”
A interligação elétrica para Marrocos tem vindo a ser discutida nos últimos meses e, na prática, consiste na construção de um cabo submarino que permita a passagem de eletricidade de Portugal para Marrocos e vice-versa. Portugal quer aproveitar o potencial cada vez maior em energias renováveis – que este ano representaram 64% do total de eletricidade consumida – para se assumir como exportador de energia para Marrocos. O cabo permitirá também importar energia, a preços mais competitivos.
A construção da interligação elétrica para aquele país do Norte de África também permite reduzir a dependência de Espanha e do mercado Ibérico no que diz respeito às exportações de energia – que este ano atingiram máximos por causa da crise do nuclear em França, que provocou uma procura elevada e alta nos preços. França tem bloqueado o desenvolvimento das interligações, uma vez que a sua principal fonte de eletricidade é a energia nuclear, o que tem dificultado a exportação de energia da Península Ibérica a partir de fontes renováveis. O tema foi alvo de um acordo de princípio em 2014, está a ser debatido entre Lisboa, Madrid e Paris e também ao nível da União Europeia.
Debate em Paris
Ontem, o secretário de Estado da energia este em Paris, na sessão de abertura da conferência anual da Associação Francesa de Energia Renovável, onde reforçou a importância das interligações para a criação de um mercado europeu de energia. “As interligações são uma declaração política que foi feita. Nós entendemos que que as interligações devem ser mais do que isso, devem ser uma própria norma comunitária que imponha a existência de interligações porque não faz sentido nós estarmos a discutir a existência de um mercado europeu de energia se não houver interligações”, afirmou em Paris, citado pela Lusa.
O processo tem “20 anos de debate” mas o governante acredita que “agora que a Comissão Europeia colocou na agenda de discussão um pacote de energia” passe a ser “uma obrigação dos Estados a existência de interligações”. “Acho que o grande objetivo que temos de ter agora pela frente é conseguir que isto seja uma norma do pacote de energia – precisamente a questão das interligações – e não apenas uma declaração política”, concluiu.
Enquanto os contactos políticos decorrem em Paris o estudo para a interligação de Marrocos já arrancou, no início deste ano. O consórcio das empresas internacionais Det Norske Veritas, DNV GL e do INESC Porto e Deloitte é o responsável por este estudo de viabilidade.