O grupo ambientalista GEOTA defende que, mais de um mês depois do incêndio na zona de Pedrógão Grande, centro, que provocou 64 mortes, há muitas declarações mas “pouca ação no fundamental”, noticiou a Lusa.
Questionado pela Lusa se o país está a tirar as lições certas da tragédia de Pedrógão, para que não se repita, responde João Joanaz de Melo, do Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente (GEOTA), que ainda não se entendeu se se tirou alguma lição e lamentou que “no ordenamento florestal se tenha feito muito pouco”.
“O mais importante é o ordenamento florestal, e o clima e o despovoamento do interior tende a agravar a situação. O resto são questões conjunturais”, diz o dirigente à Lusa, salientando que é preciso perceber o que não funcionou no dispositivo de combate ao incêndio, ainda que não esteja em causa a boa vontade e abnegação dos bombeiros. Não é, salienta, para atribuir culpas, é antes para aprender com os erros, porque o que aconteceu em Pedrógão não foi nada que não fosse previsível acontecer um dia.
E depois há uma série de questões fundamentais para resolver, como a de o Estado ter perdido capacidade no setor florestal. “Há matérias na área da gestão florestal que precisam da capacidade do Estado e dos privados. O Estado desequipou-se, alienou pessoas, conhecimento, infraestruturas”, diz Joanaz de Melo, lembrando a existência, no passado, de guardas florestais e guarda-rios, de haver muitos mais vigilantes da natureza do que há hoje.
Joanaz de Melo lança outras sugestões, todas elas, entende, vitais. Faz sentido, por exemplo, criar zonas de proteção à volta das localidades e das estradas, porque não se para um incêndio no meio da mata mas nos corta-fogos. E resume-as assim: “O grande problema é a completa ausência de uma estratégia de ordenamento do território. Falta uma estratégia e faltam meios para por essa estratégia em prática. É essencial uma discussão de fundo sobre o que queremos para o país, e isso não vemos acontecer”.
Recentemente, o GEOTA apresentou uma posição sobre a política florestal e disse que as leis que foram discutidas e aprovadas na quarta-feira no parlamento tocam superficialmente o problema do ordenamento e ignoram o despovoamento do mundo rural e as alterações climáticas. O grupo propõe uma floresta com espécies autóctones, melhor coesão territorial, promoção do associativismo florestal, ou então melhorar o cadastro, fazer cumprir a lei e rever a instalação do eucalipto.
E se não se resolve “de um dia par o outro os problemas acumulados por décadas de negligência”, a verdade é que “as soluções essenciais são conhecidas”. “Haja coragem política para assumir o caminho e bom senso para ouvir quem tem de ser ouvido”.
Joanaz de Melo salienta o desleixo a que se votou a floresta desde as últimas quatro décadas e frisa também a necessidade de se voltar a plantar outras espécies que não pinheiros e eucaliptos, e que se acabem as manchas contínuas de floresta, que tornam a prevenção e o combate dos fogos muito mais difícil. E volta à pergunta inicial para dizer que com calamidades como a de Pedrógão não há “uma medida que funcione como uma varinha mágica”.
O que é preciso é uma discussão sobre a floresta, que envolva toda a sociedade. Uma discussão que, diz Joanaz, pode durar um ano. Mas tem de começar agora.
*Foto de Reuters (Fonte: Notícias ao Minuto)