O apagão geral de 28 de abril deixou dezenas de milhões de consumidores sem acesso a eletricidade, um bem essencial que é a base dos serviços tomados por garantidos. O Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente (GEOTA) reconhece que a análise rigorosa das suas causas pode demorar, mas urge esclarecer rapidamente a população.
“Em momentos críticos como este, serão encontrados bodes expiatórios e falsas soluções. Opiniões avulsas não se podem sobrepor a uma análise transparente, técnica e ponderada dos acontecimentos”, alerta Miguel Macias Sequeira, vice-presidente do GEOTA e investigador na Universidade NOVA de Lisboa.
No entanto, o GEOTA relembra que o histórico da operação da rede elétrica ibérica demonstra que percentagens elevadas de energias renováveis não são, por si só, um fator de risco. A interligação entre Portugal e Espanha favorece a estabilidade do abastecimento energético e, apesar da recente tendência de Portugal importar eletricidade, o país mantém capacidade de produção despachável suficiente para a sua autossuficiência. A importação dentro do mercado ibérico dá-se por motivos meramente económicos, sendo que, no dia 28, durante algumas horas Portugal estaria a ser pago para consumir eletricidade de Espanha.
Ao contrário do que algumas vozes vêm a defender, para o GEOTA, a solução não é nem a reabertura das centrais a carvão (na prática substituídas pelas centrais a gás) nem a energia nuclear (extremamente cara, de construção demorada, com riscos conhecidos, pouco resiliente face a perturbações, e perpetuadora do modelo de rede assente em mega-centrais).
Em alternativa, o GEOTA aponta soluções mais alinhadas com as necessidades e capacidades da rede elétrica. Assim, destacam-se a aposta na eficiência energética para reduzir a demanda, a modernização das redes elétricas e dos sistemas de alerta, o desenvolvimento de uma rede inteligente que permita maior flexibilidade na produção e no consumo e o incremento do armazenamento de energia através de baterias.
Deste modo, o GEOTA reivindica uma maior aposta na eficiência energética e na produção de energia renovável descentralizada em autoconsumo e comunidades de energia. Para além de todas as outras vantagens ambientais, sociais e económicas, esta abordagem promove a resiliência e segurança do abastecimento de eletricidade em situações de crise. No entanto, Miguel Macias Sequeira avisa que “no modelo atual, a grande maioria dos sistemas fotovoltaicos estão acoplados à rede elétrica e desligam-se em caso de apagão”, recomendando que “se pondere a instalação de energia solar com capacidade para operar desconectada da rede elétrica em algumas localizações críticas para resposta a estes eventos muito raros, mesmo que tal comporte custos superiores”.
O GEOTA reforça ainda que é fundamental esclarecer as causas do apagão e a demora na reposição do serviço para reduzir os riscos de eventos semelhantes no futuro. O grupo partilha em comunicado à imprensa a sua preocupação com a rapidez com que as comunicações e outros sistemas críticos falharam, a impreparação da população para eventos deste tipo e a aparente existência de apenas duas centrais elétricas capazes de iniciar o black-start. Ainda assim, este louva o trabalho dos operadores das redes elétricas e das autoridades de proteção civil na resolução da crise.