No âmbito do Dia Nacional da Água que, se assinalou esta quinta-feira (1 de outubro), o GEOTA – Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente – alertou em comunicado que o problema de escassez de água no país não se resolve com a construção de mais barragens e revela que tal facto poderá trazer ainda mais problemas para o ambiente.
Considerando que Portugal é um dos países que apresenta elevado risco de escassez de água e que cerca de 75% é utilizada na agricultura e pecuária, é notório, para esta organização, que para conseguir fazer uma gestão mais eficiente deste recurso limitado, será necessário “repensar todo o modelo de consumo de água e reduzir a pressão criada por alguns setores”.
Segundo Ricardo Próspero, coordenador técnico e científico no GEOTA, “grande parte do problema passa pela gestão estritamente comercial da água, que se foca sobretudo na sua manutenção para fins de irrigação. Também a falta de conhecimentos ambientais sobre o fluxo da água, a sua taxa de evaporação nas albufeiras, que pode atingir os 15%, entre outros fatores, dificulta o envolvimento de todos os agentes relevantes para criar medidas viáveis que permitam mudar este panorama. Por norma, as soluções apresentadas prendem-se com a construção de mais barragens ao longo do país. Contudo, se não existir um maior índice de precipitação, algo que não controlamos, e não tivermos a capacidade de preservar a água que temos disponível, contruir mais barragens não irá resolver o problema, mas sim criar outros igualmente graves.”
Como possível solução para aumentar a disponibilidade de água no país, o GEOTA sugere a diversificação e rotatividade de culturas, através da seleção de modos de produção e variedades mais adaptados às condições ecológicas do território e clima português.
“As grandes culturas intensivas que hoje predominam, como o olival, o amendoal irrigado ou os cereais de regadio, são responsáveis pelo consumo de grandes quantidades de água e a destruição da fertilidade dos solos. Para contrariar este fenómeno e preservar as reservas de água que temos atualmente nas albufeiras, devemos apostar no cultivo de espécies autóctones que não exigem irrigação, tais como a bolota, assegurando a regeneração dos solos”, acrescenta Ricardo Próspero.
Um estudo divulgado também este ano pela Rede Douro Vivo, projeto liderado pelo GEOTA, em parceria com várias instituições científicas e ambientalistas, revelou ainda que as barragens em Portugal, com especial enfoque na Bacia Hidrográfica do Douro, estão a colocar em risco espécies em vias de extinção.
De acordo com o documento, as mais de mil barreiras identificadas, por potenciarem a deterioração da água e dos habitats ribeirinhos e quebrarem o normal ciclo do rio, estão a pôr em risco a continuidade de dezenas de espécies selvagens, algumas delas em elevado risco de extinção, tais como o mexilhão-de-rio, a lampreia, o salmão e a enguia, afetando ainda o habitat de espécies emblemáticas como a águia-real e o lobo-ibérico. Além disso, das 152 barreiras visitadas no Douro, verificou-se que mais de 25% estão total ou parcialmente destruídas ou abandonadas, não tendo qualquer propósito funcional.