Fundo para a Conservação dos Oceanos apresenta vencedores da 3ª edição
O Oceanário de Lisboa e a Fundação Oceano Azul anunciaram os três projetos vencedores da terceira edição do “Fundo para a Conservação dos Oceanos”, sob o tema “Invertebrados Marinhos. Proteger no mar, o futuro na Terra”, com um financiamento total de 150 mil euros.
Das 16 candidaturas válidas, o júri constituído por especialistas nacionais e internacionais na área de conservação, selecionou os projetos:
– DEEPbaseline que se dedicará à conservação de corais e esponjas de profundidade, ao longo de toda a costa de Portugal continental;
– COACH que pretende criar uma cooperativa de mariscadores na ria de Aveiro para se dedicar à conservação e gestão do berbigão;
– The Selvagens’ LImpet Project cujo objetivo é decifrar, através de estudos genéticos, se a lapa gigante das ilhas Selvagens é exclusiva destas ilhas, e definir estratégias de conservação para esta espécie.
Para João Falcato, CEO do Oceanário de Lisboa e administrador da Fundação Oceano Azul, “é urgente reunir esforços para salvar o oceano. Só será possível diminuir a extinção de espécies no planeta, se apostarmos no conhecimento científico e na sua conservação. Ao longo dos últimos três anos, o FUNDO para a conservação dos Oceanos, já investiu 400.000€ e é a maior fonte de financiamento privado em Portugal para promover a conservação dos animais marinhos.O Oceanário de Lisboa e a Fundação Oceano Azul acreditam ser esta uma ferramenta essencial para melhor conhecermos o que temos de proteger”.
Jane Lubchenco, membro do Conselho de Curadores da Fundação Oceano Azul, presente cerimónia, declarou que “precisamos de criar uma nova narrativa sobre o oceano, uma narrativa de esperança, de conhecimento. O ocenano não é demasiado grande para recuperar, mas é grande demais para ignorar”.
Através do “Fundo para a Conservação dos Oceanos”, o Oceanário de Lisboa e a Fundação Oceano Azul pretendem promover a proteção de espécies, através de financiamento e de apoio ao conhecimento científico, a par de uma maior sensibilização para a importância do equilíbrio do oceano, e partilhando a visão de que a conservação do oceano é urgente e é uma responsabilidade de todos.
Com a edição de 2019, este Fundo, totalmente privado, para conservação da biodiversidade marinha, soma 400 mil euros atribuídos, desde 2017, a um total de oitos projetos.
Sobre os projetos vencedores da 3ª edição do Fundo:
– DEEPbaseline – Co-criação de uma plataforma de conhecimento sobre a diversidade e distribuição dos ecossistemas marinhos vulneráveis de corais e esponjas, na plataforma continental portuguesa
Instituições envolvidas: CIIMAR (coordenação); IPMA; Universidade dos Açores
Financiamento atribuído – total: 59.700€
O principal objetivo deste projeto é desenvolver um mecanismo para a co-criação de uma base de conhecimento, envolvendo a comunidade científica, comunidades piscatórias locais, associações e gestores de pesca, sobre a diversidade de esponjas e corais, e dos ecossistemas vulneráveis por eles formados, em zonas entre os 20 e 750 metros de profundidade. O DEEPbaseline reunirá o conhecimento para promover ações sustentáveis de conservação e gestão destas espécies e ecossistemas.
As esponjas e os corais são invertebrados que formam habitats como “jardins”, agregações e recifes. Estes habitats, em Portugal, são particularmente predominantes em zonas profundas, e desempenham papeis fundamentais no equilíbrio dos ecossistemas marinhos. No entanto, por serem habitats de profundidade, sabe-se pouco sobre a sua distribuição e fatores que determinam a sua ocorrência.
A fragilidade destes habitats e exposição a impactos causados pela pesca, exploração petrolífera e alterações climáticas, levou a que fossem reconhecidos como Ecossistemas Marinhos Vulneráveis.
– COACH – Cooperative approACH applied to conservation and management of cockles | Uma abordagem cooperativa aplicada à conservação e gestão do berbigão
Instituições envolvidas: Universidade de Aveiro/CESAM
Financiamento atribuído – total: 56.775€
Os objetivos específicos deste projeto são: avaliar o estado da população de berbigão, através da determinação da sua distribuição, abundância, dinâmica e saúde reprodutiva; identificar as principais causas para o seu declínio e/ou sucesso; estimar a distribuição potencial da população de berbigão na ria de Aveiro e prever tendências futuras sob diferentes cenários; promover o desenvolvimento sustentável da apanha de berbigão e a consequente melhoria dos serviços económicos, sociais e ambientais para a região, através da fundação de uma cooperativa de mariscadores de berbigão.
O berbigão, Cerastoderma edule, desempenha um papel crucial no ecossistema, sendo um elo importante entre cadeias alimentares e é ainda responsável por vários serviços ecossistémicos, como o armazenamento de carbono.
Em várias regiões, é uma espécie intensivamente explorada com alto valor económico.
Para muitas famílias, na zona da ria de Aveiro, esta atividade é mesmo a principal fonte de rendimento pelo que representa uma importante questão socioeconómica. No entanto, a viabilidade desta atividade, a longo prazo, poderá estar em causa provocada por fatores como doenças emergentes, sobrepesca, gestão ineficiente e degradação das condições ambientais.
– The Selvagens’ LImpet Project – Para uma estratégia de conservação da lapa gigante das ilhas Selvagens
Instituições envolvidas: Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias (coordenação); Museu de História Natural do Funchal; Centro de Ciências do Mar da Universidade do Algarve e Instituto Português de Malacologia
Financiamento atribuido: 33.525€
Este projeto pretende desenvolver estudos genéticos que permitam responder às seguintes questões: é a lapa, Patella candei, uma espécie exclusiva das ilhas Selvagens ou é a mesma espécie que existe nas ilhas Canárias, cuja população está circunscrita à ilha de Fuerteventura e praticamente extinta? Esta clarificação será determinante na definição de um estatuto de conservação para a espécie nas ilhas Selvagens e na implementação de medidas concretas de conservação.
A lapa gigante das ilhas Selvagens, Patella candei, é provavelmente um dos invertebrados marinhos mais ameaçados do Atlântico Nordeste. Esta espécie herbívora desempenha um papel fundamental, por exemplo, no controlo do crescimento de algas.
A sua área de distribuição original não é completamente clara: ou abrangeu outrora os arquipélagos das Selvagens e Canárias, estando agora restrita às Selvagens e à ilha de Forteventura, no segundo arquipélago, ou a população das ilhas Selvagens é suficientemente diferente para ser, por si só, considerada uma espécie distinta. Ainda assim, o problema de conservação persiste.
Nas ilhas Selvagens, na zona de entre marés, era comum encontrar-se uma grande abundância de indivíduos desta espécie com grandes dimensões (10–15cm), particularmente na Selvagem Pequena. No entanto, foi-se tornando rara, devido à sua apanha para consumo.