Na última semana, o Fórum BPI: O Futuro da Água recebeu um painel intitulado “Estamos preparados para água a menos?”, onde debateu a escassez hídrica no país, essencialmente na região do Algarve, que no último ano se viu condicionada a várias medidas para combater o problema.
Nesta conversa participou António Pina, presidente da Câmara Municipal de Olhão e presidente da AMAL (Comunidade Intermunicipal do Algarve), que começou por frisar que “se hoje está no terreno um conjunto de investimentos é porque desde 2019, quando tivemos um último aviso, começámos a trabalhar. Aliás, se foi possível, na fase de definição do PRR, ser criado um programa para a resiliência da água no Algarve, com 200 milhões de euros, foi porque o trabalho já estava feito”.
O Algarve tinha, até há alguns anos, cerca de 30% de perdas de água no sistema urbano. Atualmente, o objetivo é chegar a 2030 com apenas 20% – do que deverá depender também a reciclagem da água, visto que a percentagem de água reutilizada em Portugal está apenas nos 2%, como uma das novas fontes alternativas.
O orador chamou ainda a atenção: “para aqueles que têm as preocupações ambientais, não criem estes adamastores, sob determinadas condições, sem experimentar e explorar”. “Há outros pontos de água que ainda podem ser explorados porque, ao contrário do que muitas vezes se diz, que não é possível fazer mais barragens ou mais retenção de água, bom, os gestores fizeram”. “Pode-se também olhar para estas retenções de água como uma forma de continuar a desenvolver e a manter a biodiversidade na região”, observou António Pina.
Por sua vez, Manuela Moreira da Silva, Professora no Instituto Superior de Engenharia da Universidade do Algarve, revelou que o grande desafio neste momento é “termos capacidade para fazermos uma alteração de meio efeito, porque saímos de uma fase em que o grande objetivo do país era construir grandes infraestruturas centralizadas e garantir água que estava nas nossas torneiras. Nós chegámos a essa fase, de termos água segura e termos um plano de segurança de água, e agora o desafio é integrarmos isto com soluções locais”.
Desta forma, a oradora defendeu um novo ciclo urbano da água que deve estar alinhado com os 5 P’s dos ODS (pessoas, planeta, parcerias, paz e prosperidade) e que deve mostrar “uma lógica de poupança de energia”.
Na sua intervenção ainda concebeu a importância de aliar o conhecimento das universidades com a prática em terreno, junto das autarquias e das empresas: “este alinhamento não é só tecnológico, não é só infraestruturas, não são só ferramentas digitais. Este alinhamento é também social”.
“Não será possível diminuir o consumo nas cidades se não houver a mudança de mentalidade no uso da água”
No decorrer da sessão, António Pina falou também da relevância da dessalinizadora que está a ser construída no Algarve e da adaptação da agricultura e do turismo aos consumos de água, numa verdadeira coesão territorial: “se deixar de correr água nas torneiras do Algarve, este perderá a sua marca [valor turístico]”.
Já Manuela Moreira da Silva terminou, afirmando que “tem de haver um desafio comum, centrado naquilo que deve ser o verdadeiro valor da água”, além de desejar que em um ano existisse uma ferramenta digital integrada que permitisse aos diversos municípios perceber quais as origens de água disponíveis ao longo do ano e que conseguissem contabilizar onde vão buscar água.
O Fórum BPI: O Futuro da Água decorreu na última quinta-feira, 27 de fevereiro, no auditório da Fundação Champalimaud, reunindo diferentes especialistas de dentro e fora do setor para discutir em que ponto estamos na preservação e gestão dos recursos hídricos em Portugal.