Na última semana, o Fórum BPI: O Futuro da Água recebeu um painel intitulado “Sabemos Partilhar a água? Como é que diferentes setores partilham e investem na água”, onde participaram players de diferentes setores.
Entre eles esteve Ana Rosas Oliveira, Administradora Executiva do BPI, que afirmou que o banco tem “um compromisso muito forte com a gestão ambiental”. “No plano estratégico que terminou agora e também no novo que vamos fazer, financiar o crescimento da gestão ambiental é uma das prioridades. E é nesse contexto que surge o tema da água. A água não é só uma questão ambiental, mas também todo o tema de competitividade que traz para as nossas empresas”, afirmou.
O BPI também está interessar em aumentar o seu financiamento em iniciativas sustentáveis: “nos últimos três anos, concedemos 3,5 biliões de financiamento sustentável, dos quais 2,8 biliões para empresas”. Agora, o banco quer atingir o objetivo de investir 4,4 biliões, com a vontade de ajudar mais empresas no seu processo de transição.
“Introduzimos também internamente critérios ambientais na nossa avaliação de risco, o que é, obviamente, também essencial, e passamos a ser mais exigentes em tudo o que tinha a ver com os relatórios de sustentabilidade que as empresas também têm de nos apresentar”, garantiu Ana Rosas Oliveira.
Por sua vez, José Pedro Salema, presidente da EDIA, falou como o Alqueva foi um ativo estratégico dinâmico para o sistema hídrico, mas que atualmente enfrenta desafios devido à sua rápida expansão e à crescente demanda: “a agricultura, que é o principal utilizador de água, passou de regar 30 mil hectares para 130 mil hectares este ano”, exemplificou.
“As nossas melhores expectativas foram ultrapassadas pela realidade e isso obrigou-nos a rever os planos de expansão que tínhamos, na definição do que seria a segunda fase do projeto Alqueva, e a dar um passo atrás para perceber que, se calhar, não podemos ir tão longe como pensado inicialmente e temos que ter mais contenção no crescimento das áreas que servimos”.
No caso da Vitacress Portugal, Carlos Vicente explica que a mesma é uma grande utilizadora de água para produzir alimentos, mas que tem adotado medidas para reduzir o consumo. “Em 2020, a nossa região consumiu em volta de 36 hectómetros de água. No último ano, o consumo foi à volta dos nove hectómetros, ou seja, conseguiu-se reduzir o consumo de água em 25% do que era há cinco anos atrás”.
A empresa investiu até ao momento um milhão de euros em novos sistemas de rega mais eficientes, em sistemas de gestão, reciclagem e reutilização de água, e também nas próprias culturas.
Também o turismo é outro setor que tem sido alvo de medidas para poupar o consumo de água, essencialmente na rega de campos de golfe, e no Algarve, região que no último ano enfrentou um grave stress hídrico.
Cristina Siza Vieira, vice-presidente da AHP (Associação da Hotelaria de Portugal), presente neste painel, afirmou que há um foco crescente na gestão eficiente da água, com medidas comportamentais em hotéis e o apelo a uma maior consciencialização sobre os impactos excessivos do consumo hídrico.
“O grupo Pestana, nos seus oito hotéis e pousadas no Algarve, por conta de alterações comportamentais e equipamentos mais eficientes, poupou 22% nos consumos. Estava obrigado, nos tempos da resolução dos conselhos ministros de 2024 a poupar, depois da redução, 10%, mas poupou 22%. Foi de tal ordem que vão replicar em toda a rede de hotéis”, exemplificou.
A responsável ainda frisou que, no caso do Algarve, “não há exatamente escassez, há problemas na distribuição e, portanto, consideramos que os próprios estabelecimentos hoteleiros e as empresas, porque têm realmente um impacto económico grande nos seus municípios e nas suas comunidades, também têm de ser atores deste movimento de sensibilização de necessidade de investimento público”.
O Fórum BPI: O Futuro da Água decorreu na última quinta-feira, 27 de fevereiro, no auditório da Fundação Champalimaud, em Lisboa, reunindo diferentes especialistas de dentro e fora do setor para discutir em que ponto estamos na preservação e gestão dos recursos hídricos em Portugal.