FIleira do pinheiro garante emprego em zonas “onde não há ninguém”
A fileira do pinheiro em Portugal representa mais de 54 mil empregos, muitos em zonas “onde não há ninguém”, e a Associação para a Valorização da Floresta de Pinho (Centro PINUS) pretende que a área de pinhal aumente, refere a Lusa.
“Esta fileira pesa muito em termos económicos, de trabalho e emprego, e o Governo já tem dito que a área de pinhal é para recuperar, mas tarda. O que acontece é que isto já devia ter sido decidido há muito tempo, já ninguém nos vai salvar de um problema gigantesco no futuro”, disse à agência Lusa João Gonçalves, presidente da Centro PINUS.
De acordo com os últimos indicadores do setor, dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), 80% dos empregos do setor florestal (54.181 postos de trabalho) e 88% das empresas da área industrial estão na fileira do pinho, definida por João Gonçalves como “profunda e complexa, que não é semelhante a nenhuma outra, nem sequer à do eucalipto”.
“Temos mais de 300 empresas na fileira do pinho que estão exatamente onde não está ninguém, as serrações estão perdidas pelas serras, no Interior. No verão, onde é que estão pessoas a trabalhar na floresta? Os resineiros que andam a tirar a resina do pinheiro. E quem trabalha no verão a fazer seleção e tratamento é no pinhal. Por isso, digo que o pinhal tem de ser falado como quase uma causa nacional”, defende o dirigente da Centro PINUS.
Adianta que o volume de negócios do pinho é quase metade (46%) das empresas do setor florestal a as exportações pesam 35% nas indústrias florestais.
“A partir de 2020, estimamos que o défice de madeira seja superior a 50% das necessidades de consumo industrial”, antecipa.
A associação defende a inversão da tendência de redução da área de pinhal e argumenta que “mesmo a nível do Governo há essa consciência”.
“Temos feito alguns projetos, temos apostado na certificação, temos um pomar de sementes que produzimos, temos a primeira área arrendada com pomar de sementes e temos de conseguir que as pessoas acreditem na cultura do pinheiro, na sua rentabilidade, porque há uma perceção de ser menos rentável do que outras alternativas, mas não é verdade”, argumenta João Gonçalves.
Dá o exemplo do pinhal de Leiria, que antes da “calamidade” de outubro de 2017 – ardeu cerca de 85% da sua área – “era das áreas florestais mais rentáveis da Europa, estava bem instalado e produzia produtos de grande valor”.
O dirigente associativo defende uma melhor floresta em Portugal, “de mais qualidade, melhor protegida, que garanta melhores serviços ambientais e maior resistência aos fogos”, alegando, que para tal, “é indiscutivelmente necessária mais área de pinhal”.
Por outro lado, a Centro PINUS aposta na comunicação sobre o que diz ser uma “fileira histórica e pioneira” em Portugal, “que está em risco de definhar” e cujas aplicações estão “um pouco por todo o lado”.
“As pessoas não sabem que nas suas casas, hoje em dia, quando abrem a porta, a porta é madeira de pinheiro. Embora revestida com o que quer que seja, é aglomerado de partículas de pinheiro. A sua cozinha é certamente de aglomerado de partículas, pintada, lacada, o que quer que seja, e dentro de sua casa tem certamente mil quilos de madeira de pinheiro, a mesa da sala, os móveis, o caixote que traz os móveis, as embalagens de cartão de qualidade, têm de levar mais de 80% de madeira de pinheiro”, exemplificou João Gonçalves.
Criada para a valorização da floresta de pinho, a Centro PINUS reúne 24 associados, entre representantes da indústria, universidades e organismos estatais. Comemora os 20 anos de atividade com uma conferência, na sexta-feira, em Coimbra.