Sob o tema “Smart Energy & Urban Environment” promovido pelo FICIS – Fórum internacional das Comunidades Inteligentes e Sustentáveis – especialistas debateram as “Smart Cities” , tendo ficado bem presente a notoriedade das cidades e a sua afirmação enquanto pólos de atração e de bem-estar para as comunidades. O encontro foi transmitido esta quinta-feira, em direto, na página de Facebook do FICIS´2020.
Mais do que nunca, é fundamental diagnosticar o desenvolvimento sustentável e a qualidade de vidas nas cidades. E como é que se realiza essa análise? O ISQ desenvolveu a Norma NP ISO 37120, uma metodologia que permite, através de 100 indicadores, uma análise holística ao desenvolvimento das cidades e das regiões. Anabela Bento, Business Line manager do ISQ, explica que esta metodologia é capaz de “nos ajudar a fazer um diagnóstico inicial de como está a cidade ou a comunidade” e, a partir daí, “melhorar o que está menos bem”. Dando o exemplo do contexto atual em que a humanidade vive, e do facto de haver cada vez mais pessoas a regressar ao interior, a responsável atenta que “há territórios de baixa densidade que precisam de ter atratividade e investimento por parte do turismo”. Aqui, este diagnóstico ou análise “poderá ajudar (os territórios) a ter novos modelos de negócio e novas abordagens e visões”, dando a possibilidade de os “tornar mais prósperos e atrativos para os investidores”. Anabela Bento acredita que há aqui uma oportunidade para se “aproveitar este diagnóstico do desenvolvimento sustentável”.
Por outro lado, a responsável salienta que esta metodologia pode ser aplicada a uma “pequena vila ou cidade ou até análise de uma região”, de forma a assegurar a junção de várias cidades e regiões para assim conseguirem ter “capacitação de respostas” face às “diferentes necessidades e às possibilidade de evolução nos diferentes indicadores e nas diferentes atratividades”.
“Todas as questões relacionadas com o ambiente, sustentabilidade, gestão de risco, produção de energia podem ser melhoradas pelo ISQ e a performance das cidades pode ser melhorada por nós”, sublinha.
“Precisamos de um novo olhar sobre as cidades”
O “espaço público” é outra questão que merece reflexão, e agora mais do que nunca: “No pós-Covid-19, tem que haver uma reinvenção das cidades e das comunidades”, diz a responsável, acreditando na necessidade de um “olhar novo sobre as cidades”. Para Anabela Bento, as “cidades devem ser criativas e cívicas”, contando para isso com a “participação de todos”. Focando-se no “Happy City” de Charles Landry, conselheiro internacional e especializado no futuro das cidades, a responsável explica que é o conceito que assenta na necessidade de existirem “infraestruturas mais humanas”, de forma a “evitar situações de violência ou que potenciem problemas de saúde mental”, sendo também aquele que mais se aproxima de se tornarem locais de bem-estar e felicidade para quem o habita. “Queremos cidadãos mais felizes”, salienta.
Um espaço público deve ser visto pela sua “funcionalidade”
Fundamentando-se nas “comunidade energéticas”, Raul Bordalo Junqueiro, head of smart cities and business development da DST Group, acredita que a “energia” é um bloco muito importante para as cidades, até porque as “grids digitais e as grids da energia estão a digitalizar-se cada vez mais”. Essa digitalização é vista pelo responsável como uma “oportunidade” mas que necessita de ser acompanhada pelos “novos modelos de negócios ou novas formas de partilha de energia” para que, no final, haja um “custo-benefício para o consumidor final”. A “economia da partilha” é um conceito que, segundo Raul Bordalo Junqueiro, é “emergente quando se discute as ´Smart Cities`, acreditando que, nos modelos de negócio que acompanham a digitalização, há a oportunidade de se “conseguir produzir, armazenar e vender energia”, seja às autarquias ou, mesmo, a pessoas singulares.
No que diz respeito ao espaço urbano, Raul Bordalo Junqueiro assegura ser fundamental nas “Smart Cities”. Partilhando da mesma opinião de Anabela Bento, o responsável acredita que, no pós-Covid-19, as pessoas “vão querer procurar espaços públicos como nunca”. Além disso, “vão querer perceber se a cidade parou ou se continuou a modernizar-se”, refere, acreditando que um espaço público deve ser visto pela sua “funcionalidade”, denotando “importância da cultura e arte”. No entender do responsável, “há uma correlação muito grande entre a transformação de uma cidade e do espaço urbano”, pelo que “uma deve acompanhar a outra”. Ou seja, “não faz sentido ter uma cidade que se dinamize e depois não ter um espaço público também ele cultural. O espaço público vai ser visto e revivido nas diferentes dimensões”, sucinta.
A importância dos dados é outra questão muito relevante nas “Smart Cities”. Para o responsável, “não é e não pode ser uma novidade o The Data Tsunami”, até porque a “inteligência urbana deve funcionar e ter ter acesso a estes dados” assim como os municípios. Recorrendo ao contexto atual, Raul Bordalo Junqueiro não tem dúvidas de que “se estes dados fossem partilhados dentro das cidades, teríamos acesso a muita informação”, nomeadamente a “origem do vírus, qual a faixa etária que mais atinge ou que equipamentos que estão a ser utilizados no combate à pandemia”. O acesso aos dados é assim uma mais-valia no sentido de “contribuir em muito no poder de resposta e de decisão das cidades”, de forma a “atuar preventivamente” e “acionar as suas forças”, assegura.
“Smart Cities” introduzem uma “competição saudável” na atratividade pelos pólos urbanos
“As cidades são as pessoas. As pessoas é que fazem as cidades”, assegura Francisco Campilho, responsável pela direção de autarquias Norte da EDP Distribuição. Já as “Smart Cities”, um conceito alargado a todo o mundo, vão trazer um “novo paradigma de atração” das pessoas às cidades ou às urbes. “Tradicionalmente, as pessoas eram atraídas para as cidades para uma oportunidade de emprego”, indica o responsável, acreditando que, através das “Smart Cities”, essas mesmas pessoas são “hoje atraídas por outro tipo de sinais”. Aquilo que os gestores das comunidades fazem é “integrar um conjunto de dados complexos e articulados” de forma a colocá-los à “disposição das pessoas e que vão optar por esta ou por aquela cidade”, explica. No sentido lato, as “Smart Cities” introduzem uma “competição saudável” na atratividade pelos pólos urbanos, em função de um “conjunto de ferramentas que serão disponibilizadas”.
Para Francisco Campilho, o tema das comunidades energéticas vai traduzir-se na oportunidade de “responsabilização das pessoas, das autarquias e empresas” para se poderem “auto-organizar e partilhar em rede os benefícios de um conjunto de ações que, usadas individualmente, não eram otimizadas”. Portanto, o responsável acredita que esta “articulação entre os objetivos e necessidades das pessoas em colaboração com os operadores da rede vai ser um desafio muito interessante”.
Outro dado muito relevante para Francisco Campilho é o acesso aos dados: “Há imensos dados disponíveis e a forma como serão articulados e disponibilizados é que vai trazer a diferença para cada um”.
Do ponto de vista de arte urbana, a EDP Distribuição tem dinamizado várias iniciativas com as autarquias, promovendo, por exemplo, artistas locais no sentido de tornarem “infraestruturas mais agradáveis” e que os cidadãos consigam “ver que existe arte”. No que toca ao futuro, o responsável acredita que as “Smart Cities vão ser o futuro e quanto mais depressa lá chegarmos, melhor para todos nós”.