Famílias de classe alta têm maior compromisso com a economia circular
Famílias abastadas são as campeãs no compromisso com a economia circular. Esta é uma das conclusões do estudo “Circular Economy Book” lançado pelo Echangeur, um dos centros de investigação económica do departamento Prospetivo do Cetelem – BNP Paribas Personal Finance. O estudo, segundo um comunicado divulgado pelo Cetelem, teve por base os dados do Access Panel, plataforma que reuniu respostas de 14 mil indivíduos na Bélgica, Espanha, França e Portugal em 2020.
O compromisso com a economia circular foi avaliado em 10 perfis de consumo, a que corresponderão os estilos de vida mais comuns em Portugal, identificados através do cruzamento de critérios sociodemográficos – como idade, número de elementos por habitação –, com critérios orçamentais: rendimento líquido, restrições orçamentais, entre outros.
De acordo com o estudo, 9 dos 10 perfis identificados parecem envolver-se com a Economia Circular. Ainda assim, nem todos os consumidores parecem ter abraçado as práticas da mesma forma, principalmente, devido a razões geracionais e a diferentes níveis de conforto financeiro, pode ler-se no comunicado.
Neste campeonato, e após uma análise aos diferentes indicadores, as famílias abastadas são então as campeãs, com o maior grau de compromisso. Seguem-se os simpatizantes com a economia circular: Jovens Adultos Despreocupados; Casais Jovens; Famílias Estrategas e Casais Ouro de meia-idade. Famílias pressionadas, trabalhadores solteiros, Modestos de meia-idade e Casais reformados aparentam estar pouco comprometidos. A grande maioria dos Seniores solitários não revela compromisso com economia circular.
Os perfis que se destacam pelo facto de a preocupação ambiental ser o seu principal critério de escolha de um produto (antes do preço, da facilidade de acesso, etc.) são: as famílias abastadas (26%); os casais reformados (25%); os casais ouro de meia-idade (22%), os jovens trabalhadores (20%) e os trabalhadores solteiros (20%). Todos os outros perfis parecem ter menos este tipo de cuidados na escolha/compra de um produto, sendo as famílias pressionadas (13%) e as famílias estrategas (12%) as que demonstram ter menos preocupação, provavelmente por motivos orçamentais.
10 perfis e a economia circular
- Famílias Abastadas: Campeãs da economia circular
As famílias abastadas aparecem como campeãs da economia circular, pois são o perfil que adotou a economia circular mais profundamente nos seus hábitos. Como beneficiam de margens orçamentais, estão na vanguarda do consumo e podem integrar práticas mais circulares. Estas famílias não hesitam em comprar produtos caros que parecem ser os melhores em termos de qualidade, impacto ambiental e saúde, segundo o estudo.
- Jovens Adultos, Casais Jovens, Famílias Estrategas e Casais Ouro de Meia-Idade Simpatizantes da economia circular
Encarando a economia circular como uma forma de reduzir custos, enquanto vivem experiências de vidas gratificantes, os jovens adultos despreocupados, os casais jovens, as famílias estrategas e os casais ouro de meia-idade são simpatizantes da economia circular. Regra geral, não são proprietários e demonstram interesse pelos serviços de aluguer, sendo também atraídos pelas compras a outros indivíduos (CtoC). Estes encontram- se, também, bastante preocupados com as questões ambientais, refere o relatório.
Os jovens adultos despreocupados têm um orçamento reduzido e, por isso, favorecem os serviços CtoC como a compra ou venda em segunda mão (26%), assim como sites de reservas na Internet ou troca de alojamento (29%). São pró-consumo sustentável, mas a preocupação com os preços dificulta um compromisso mais profundo com a sustentabilidade nas decisões de compra. Contudo, no que toca à tecnologia os jovens adultos estão dispostos a pagar preços mais elevados por artigos de melhor qualidade e duráveis (44%).
Os casais jovens lidam com economia circular como um meio para moldar o futuro do seu agregado familiar com redução de custos, enquanto vivem experiências. Estes incorporaram fortemente os serviços CtoC nas suas práticas, principalmente para fazer face às despesas a que estão sujeitos. De facto, a compra e venda, em segunda mão (32%), sites de reservas na Internet ou troca de alojamento (26%) são muito populares entre este grupo.
As famílias estrategas parecem estar prontas à compra ou venda em segunda mão (30%), pois permite-lhes ter produtos de qualidade a um preço mais baixo. Apesar de estarem conscientes do papel que têm a desempenhar a nível ambiental, não dão prioridade à sustentabilidade quando compram um produto, nomeadamente por razões orçamentais.
Os casais ouro de meia-idade possuem os rendimentos e bens mais elevados de todos os perfis e têm uma capacidade de poupança significativa. Mesmo que a sustentabilidade nas decisões de compra não surja como uma grande preocupação, quando compram um produto são muito sensíveis à boa qualidade e estão dispostos a pagar por isso.
- Famílias Pressionadas, Trabalhadores Solteiros e Modestos de Meia-Idade Indivíduos que estão um pouco envolvidos nas práticas de economia circular
Entendendo a economia circular como um meio para economizar custos e fazer face ao elevado peso das despesas pré-alocadas a que se submetem, as famílias pressionadas, os trabalhadores solteiros e os modestos de meia-idade, aparecem como pouco empenhados na economia circular.
As famílias pressionadas são o perfil mais limitado em termos de orçamento e veem a economia circular como um meio de redução de custos. A sustentabilidade nas decisões de compra não é uma preocupação para estas famílias e não se encontram numa posição em que possam comprar produtos de menor impacto ambiental, por terem um preço mais elevado.
Dentro dos trabalhadores solteiros existem dois grupos: os 30-44 anos e os 45-59 anos. Estão ambos ligados por um traço comum que é o de viverem sozinhos e suportarem as despesas pré-alocadas. Estas duas subpopulações, devido ao seu intervalo geracional, têm hábitos distintos, o que altera a forma como se envolverem na economia circular. Ambos parecem considerar a sustentabilidade como um critério importante na compra de um produto. No entanto, como têm muitas despesas, o preço surge, especialmente para aqueles com mais de 45 anos, como um critério importante nas suas decisões de compra.
Os modestos de meia-idade são indivíduos com baixo rendimento, com bastantes despesas e uma capacidade de poupança limitada. São fiéis ao consumo mais tradicional e não parecem mudar para se envolverem em práticas de economia circular, até porque estão menos envolvidos digitalmente. Apesar de parecerem sensíveis à compra de produtos locais diretamente aos produtores (39%), o seu baixo rendimento impede-os, de considerarem a sustentabilidade como um critério nas decisões de compra (dando preferência a produtos de baixa qualidade).
- Casais Reformados e Seniores Solitários Idosos não são atraídos por serviços ligados à economia circular
Estando mais inclinados para o consumo mais tradicional, onde a propriedade é importante, os casais reformados e os seniores solitários não aparecem como alvos estratégicos dos serviços de economia circular, nomeadamente por razões geracionais.
Contudo, como os casais reformados estão ligados à sustentabilidade, os princípios da economia circular estão bem enraizados na sua mentalidade. Os casais reformados e os seniores solitários estão longe do uso do CtoC, em comparação com os outros perfis.