“Economia do Mar – A necessidade sobre uma agenda estratégica” serviu de mote para o economista Jaime Quesado, partilhar uma reflexão sobre a importância de Portugal reforçar o seu papel no desenho de uma estratégia para o Mar.
Recuando 10 anos, o também especialista em inovação e competitividade lembrou o efeito da globalização económica e social que, além da mudança, obrigou os países, inclusive Portugal, a reposicionarem-se num contexto de estratégia internacional. Nesta “agenda de mudança”, João Quesado refere que Portugal está numa posição geoestratégica de qualidade, onde tem o Mar ao seu lado e um reconhecimento histórico nestas matérias: “O nosso país tem que estar presente (e acompanhar a mudança).”
Sendo já reconhecido o papel de Portugal no que ao Mar diz respeito, dando como exemplo o cluster e a rede de centro de inovação e investigação espalhado pelo país, o economista acredita que falta “integração e ligação” em torno de um determinado objetivo: “A agenda europeia é crítica e precisamos dar ao Mar esta lógica de integração”. Acrescem os “desafios económicos globais”, marcados pela pandemia (Covid-19) e, agora pela guerra, com Jaime Quesado a dar garantias que o “mundo nunca mais vai ser igual”, alertando para a importância de se “reagendar ligações” com a América (do Sul), nomeadamente, com o “Brasil”, e com África: “Temos que aproveitar aquilo que são os fatores estratégicos”.
Nesta reflexão, o especialista recorreu a um estudo sobre a Economia do Mar, desenvolvido pela Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, no sentido de partilhar alguns aspetos que demonstram a fraca ligação com assuntos ligados ao tema nomeadamente a necessidade de se “repensar” esta relação. A título de exemplo, o responsável destaca o problema atual nas “cadeia de valor”, com quebras constantes, sustentando que o Mar se assegura com possibilidade de se tornar numa lógica integrada de canal logístico. Outro aspeto que mereceu a atenção do economista é a resiliência, “um fator crítico nesta nova agenda”. Apesar de ser um conceito que nos últimos anos passou a fazer parte do dia-a-dia das empresas e cidadãos, Jaime Quesado considera que a relação com o Mar também depende da resiliência: “É a capacidade de aproveitar o potencial que a ele está associado”.
Quando se fala no futuro da fileira do Mar, o economista atenta na importância de se fazer um “caminho” no sentido de se construir uma cadeia de valor do Mar, enquanto instrumento para gerar valor de negócio: “Tendo como ponto de partida o Mar, precisamos de desenhar essa cadeia e, depois, criar um conjunto de atividades associadas para termos um foco”. Dando o exemplo da Noruega, o responsável refere que o país é hoje reconhecido pela estratégia inteligente: “Conseguiu fazer do Mar um instrumento de grande competitividade”. O desafio é precisamente “saber desenhar a cadeia de valor para o Mar e para as diferentes atividades associadas” e, ao mesmo tempo, “desenvolver a ideia de inovação aberta para o Mar: apesar de existir um cluster e uma rede de centros de inovação, falta uma cultura de inovação aberta ao Mar”, sustenta.
Há quatro agendas que, no entender de Jaime Quesado, se colocam para reposicionar a cadeia de valor e criar uma nova agenda para o Mar. A primeira centra-se no investimento inteligente para o Mar, isto é no investimento estrangeiro e na estratégia para o futuro: “Portugal não tem tido sucesso na captação de grande investimento estrangeiro”. Desta forma, o foco deve centrar-se no desenvolvimento de uma “estratégia de captação focada em investimentos” ligados à inovação e desenvolvimento de novos produtos: “Criar pólos nos principais centros do país e onde empresas de grande dimensão possam impulsionar os centros e trazer inovação e captação”, exemplifica. O desenvolvimento de redes colaborativas focada na criação de valor é a segunda agenda: “Tem faltado na economia da Floresta e do Mar desenvolver uma cultura virada para o mercado, isto é dar escala às pequenas startups e criar redes internacionais: precisamos que as startups portuguesas se aliem a outras e se forme uma cultura de integração europeia”. Como terceira agenda, destaca-se a criação de plataformas estratégicas, com o digital a assumir um papel preponderante no desenvolvimento de negócios. Finalmente, na quarta agenda, destacam-se as “boas práticas”, na qual o responsável alerta para a falta de conhecimento sobre a área: “Poucos sabem que existem centros, startups e trabalho feito do ponto de vista de uma cultura ligada para o Mar”.
Em jeito de conclusão, Jaime Quesado constata que a fileira do Mar representa tanto oportunidades como desafios: “É preciso estratégia e devemos atuar”. Voltando ao investimento inteligente, o economista refere que deve existir uma “noção clara” daquilo que se tem de fazer: “Temos de desenhar a cadeia de valor do Mar”. E ideia de “interação estratégica” na Europa e no mundo deve ser uma realidade: “Os projetos portugueses têm de entregar no domínio internacioal”, sustenta.
O economista falou esta terça-feira, 12 de abril, nas III Jornadas de Inovação, realizadas no âmbito do projeto INOVSEA, promovido pela Associação Empresarial de Viana do Castelo (AEVC) e pela Associação Comercial e Industrial da Figueira da Foz, (ACIFF – Associação Empresarial Regional).
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