A EDP e a Endesa compraram gás natural norte-americano para dar resposta ao aumento do consumo em Portugal, avança hoje o Jornal de Negócios. Os dois navios vindos do outro lado do Atlântico descarregaram o gás recentemente no porto de Sines.
A primeira descarga teve lugar na passada semana, quando o navio Golar Kelvin descarregou aproximadamente 900 gigawatts hora (GWh) de gás natural liquefeito norte-americano para a Endesa Portugal.
“Este gás destina-se principalmente à nossa central portuguesa de ciclo combinado no Pego, mas também ao fornecimento dos nossos clientes domésticos e empresariais em Portugal. Uma pequena parte será ainda transportada para abastecimento do mercado espanhol”, revelou, ao Negócios, o presidente da Endesa Portugal, Nuno Ribeiro da Silva. A EDP, por seu turno, descarregou nos últimos dias em Sines um total de 500 GWh, o equivalente a meio navio de gás natural.
“Este gás serve para balanceamento logístico de curto prazo da nossa carteira em Portugal e, portanto, serve os diversos segmentos num cenário de maior procura, em particular para geração térmica”, avançou fonte oficial da EDP.
O frio registado em Portugal nesta altura do ano ajuda a explicar em parte o aumento do consumo de gás natural que cresceu 48% em janeiro passado, face a igual mês de 2016, segundo os dados da REN. Mas a falta de chuva e de vento provocou uma queda na produção de energia hídrica e eólica, o que tem levado ao aumento de produção por parte das centrais a gás.
Ambas as elétricas adiantam que estas foram compras pontuais. A Endesa diz que tem contratos a prazo com a Argélia, a Nigéria e Trinidad e Tobago, e que complementa estes fornecimentos “com compra «spot», em função do mercado e das necessidades”.
Já a EDP tem contrato de longo prazo com a Argélia e Trinidad e Tobago, mas também com a GALP em Portugal e com a Gas Natural em Espanha, que vendem do seu próprio cabaz de aprovisionamento.
As duas energéticas estrearam-se assim a comprar gás natural norte-americano. A primeira empresa no país a comprar gás de xisto dos Estados Unidos foi a GALP em abril de 2016. Aliás, Portugal foi o primeiro país europeu a receber gás norte-americano quando o navio Creole Spirit descarregou em Sines.
Os Estados Unidos começaram a exportar gás somente no ano passado, o que só foi possível com a revolução do gás de xisto nos EUA.
A EDP faz questão de sublinhar que “não comprou expressamente gás de xisto” e que é impossível saber a sua origem, pois o seu fornecedor “não tem produção própria”, comprando o gás nos EUA para depois entregar.
*Foto de Reuters