No âmbito da expedição científica Oceano Azul, foi descoberto um novo campo hidrotermal nos Açores.
Localizado a 570 metros de profundidade, no monte submarino Gigante, a 60 milhas da ilha do Faial, este novo campo hidrotermal é uma zona de elevada riqueza biológica e mineral.
É a primeira vez que uma expedição organizada por uma instituição portuguesa, liderada por cientistas Portugueses e utilizando navios e meios nacionais localiza um campo hidrotermal em águas profundas no nosso território marítimo.
A expedição, é organizada pela Fundação Oceano Azul em parceria com a Waitt Foundation e a National Geographic Pristine Seas, e em colaboração com a Marinha Portuguesa através do Instituto Hidrográfico, o Governo Regional dos Açores e a Estrutura de Missão para a Extensão da Plataforma Continental (EMEPC) com o ROV “LUSO”. Esta é uma das mais completas expedições realizadas em águas nacionais, e tem como objetivo explorar zonas ainda pouco conhecidas do mar dos Açores para promover a conservação marinha no âmbito do programa “Blue Azores”.
Participam na expedição cientistas de diversos centros de investigação nacionais, como o IMAR, o MARE, o CCMAR, o CIBIO e a Universidade dos Açores, e internacionais da Universidade do Hawaii, da Universidade da Califórnia em Santa Barbara, da Universidade de Western Australia, e do CSIC, IEO e Museu do Mar de Ceuta em Espanha.
A bordo do navio “NRP Almirante Gago Coutinho” empenhado na missão do Projeto de Mapeamento do Mar Português do Instituto Hidrográfico, a equipa científica dedicada ao estudo dos ecossistemas do mar profundo descobriu, através de mergulhos com o ROV “LUSO” da EMEPC, um novo campo hidrotermal.
Segundo Emanuel Gonçalves, líder da Expedição Oceano Azul e Administrador da Fundação Oceano Azul, “esta é uma descoberta extraordinária pois este campo hidrotermal encontra-se a menor profundidade do que outros conhecidos na Dorsal Médio-Atlântica e apenas a 60 milhas da ilha do Faial, o que para a comunidade científica representa uma oportunidade única, mais acessível, para conhecermos melhor estes ecossistemas dos quais sabemos ainda muito pouco. Esta descoberta reforça o papel único dos Açores como laboratório natural para o estudo do oceano”.
Telmo Morato, coordenador da equipa da expedição Oceano Azul dedicada aos ecossistemas de profundidade e investigador do IMAR e da Universidade dos Açores, refere que “os campos hidrotermais são zonas onde emergem fluídos quentes frequentemente relacionados com vulcanismo, ricos em minerais que criam as condições para o desenvolvimento de um ecossistema único que não depende da luz do sol. O campo hidrotermal agora descoberto é composto por múltiplas chaminés de diferentes alturas. Os fluídos hidrotermais são transparentes, ligeiramente mais quentes que o exterior e ricos em dióxido de carbono. Foram encontradas evidências da existência de bactérias associadas a este campo hidrotermal. Esta descoberta da expedição Oceano Azul vem mostrar que ainda existe muito para descobrir no mar Português, sendo os Açores uma região única para o estudo do mar profundo.”
A maioria dos campos hidrotermais localiza-se em zonas de fronteira de placas tectónicas divergentes, como é o caso da Dorsal Médio-Atlântica que separa o grupo ocidental do grupo central do Arquipélago dos Açores, precisamente onde se encontra o monte submarino Gigante. São zonas de elevada riqueza biológica e mineral, verdadeiros oásis escondidos no oceano profundo, que normalmente são encontrados a quilómetros de profundidade e a centenas de milhas das zonas costeiras.
Atualmente, são conhecidos oito campos hidrotermais profundos no mar Português ao largo dos Açores: “Lucky Strike” (o primeiro a ser descoberto, em 1992), “Menez Gwen”, “Rainbow”, “Saldanha”, “Ewan”, “Bubbylon”, “Seapress” e “Moytirra”. Os estudos científicos neles realizados, nos quais os cientistas do IMAR e da Universidade dos Açores têm tido um papel de relevo ao longo dos anos, representam importantes contribuições para o conhecimento destes ecossistemas e dos recursos minerais a eles associados.