A APEMETA (Associação Portuguesa de Empresas de Tecnologias) promoveu esta quinta-feira um webinar sobre “Alterações Climáticas: Respostas e Tendências do Setor do Ambiente”. Este evento teve como foco identificar, debater e discutir os principais desafios que o setor das tecnologias ambientais (água, resíduos, emissões atmosféricas) enfrenta num contexto de alterações climáticas.
O Roteiro para a Neutralidade Carbónica é algo que não pode ficar de fora quando se fala em alterações climáticas. E nas questões climáticas, não há mesmo possibilidade de negociar, a não ser que seja para se tentar perceber como se ajustam os planos de mitigação e adaptação à evidência crescente daquilo que se verifica cada vez mais, como os eventos extremos. Este foi o ponto de partida para Nuno Lacasta, presidente da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), destacar que há um “consenso político” sobre as políticas climáticas e que as “renováveis” e os custos associados são um “pormenor”.
Relativamente à recuperação económica e aos pacotes de recuperação que estão em cima da mesa, o responsável quis chamar a atenção para o facto de, por um lado, se verificar “medidas proativas” para “assegurar a recuperação”, ao mesmo tempo que esses portfólios correspondem a cerca de “dois terços” para a área da descarbonização. Nuno Lacasta não tem dúvidas de que “existe, finalmente, em todas as áreas um ciclo virtuoso entre a recuperação económica e a descarbonização”. Também na vertente de adaptação, o presidente da APA salienta que os “impactos das alterações climáticas” são tão evidentes que “não podemos fazer infraestruturas como se faziam anteriormente”. Além disso, “vamos ter mesmo que redesenhar zonas urbanas e zonas inundáveis” e, ainda, “redesenhar a forma como olhamos para o consumo da água”, sustenta.
Já é do conhecimento de todos que Portugal tem de atingir a neutralidade carbónica até 2050. E a descarbonização até lá implica, segundo Nuno Lacasta, a “quase total” descarbonização do setor energético: “A produção de energia em Portugal será essencialmente de fontes renováveis”. Embora o hidrogénio tenha as suas mais-valias no rumo à descarbonização, o presidente da APA reforça que, no “imediato” e a “mais significativa”, são as energias das renováveis. E a prova está no facto de, mesmo em tempo pandémico, as energias renováveis serem a área de investimento que continuou a crescer: “É ilustrativo desta mudança que está acontecer”, destaca. Algo que parece ser compatível com a política de reindustrialização: “Todas as indústrias (grandes empresas) estão a repensar processos industriais”, diz, exemplificando com a mudança para “novos combustíveis”, a “eletrificação” ou até o “reequacionar” sobre os próprios processos industriais. E os pacotes de apoio e recuperação de industrialização estão focados nessa área: “Em Portugal, o pacote de recuperação e resiliência prevê uma verba de 700 milhões de euros para a descarbonização da indústria”, afirma.
[blockquote style=”2″]Não vislumbro uma estratégia económica que não esteja assente na descarbonização[/blockquote]
Também os projetos inovadores assumem um papel preponderante na componente inovação. Nuno Lacasta reconhece que Portugal tem vindo a dar provas no que à inovação diz respeito mas, ainda assim, é fundamental dar “escala” a esses projetos e fazê-los, desde logo, numa vertente de internacionalização: “Sabemos que a focagem exclusiva no mercado nacional não tem pernas para andar”. O presidente da APA defende “uma nova geração” de cooperação entre setores, universidades e centros de investigação: “A janela de oportunidade é esta década”, vinca. E ainda em matérias de inovação, o responsável não tem dúvidas de que a “estratégia de descarbonização” é a “única estratégia económica” que o país tem pela frente com viabilidade: “Nao vislumbro uma estratégia económica que não esteja assente na descarbonização mas isso implica inovação, sinergias entre setores e mais circularidade”.
Também a “renovação dos edifícios” é um tema que merece especial atenção. Embora seja um tema sempre adiado no país, Nuno Lacasta reconhece que tem sido cada vez mais tido em conta: “Tivermos muitos erros na primeira geração, sobretudo na área de serviço pós-venda”. Segundo o responsável, “temos menos sofisticação, quando comparado com economias como Espanha”, exemplifica. Assim, o desafio na renovação do edifício passa por garantir um “programa de apoio” em que se consiga fazer com que a “renovação tenha em conta não só a renovação propriamente dita mas as questões de eficiência energética e hídrica”, refere.
Na vertente da adaptação, o presidente da APA nota que há ainda grandes falhas. Embora, haja “consciência por parte dos municípios e empresas” relativamente à “vertente da adaptação”, com várias estratégias municipais pelo país, a verdade é que, segundo o responsável, os “custos da adaptação ainda não estão estimados”. Assim, é “fundamental perceber que temos de encontrar soluções à escala e, até, prontas a utilizar”, reforça.
Por fim, o setor da mobilidade será aquele que mais transformações irá sentir no que à descarbonização diz respeito: “Se conseguirmos repensar no setor da mobilidade, vamos atingir a qualidade do ar e, ao mesmo tempo, reduzir outros problemas de saúde”, remata.