Excedente alimentar é responsável por 10% dos gases associados ao efeito de estufa

Em Portugal, a temática do desperdício alimentar assume elevada importância num contexto em que, de acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), 2.104 milhões de pessoas se encontram “em risco de pobreza ou exclusão social”, ao passo que, em média, cada português desperdiça anualmente 184 kg de alimentos.

Este não é, contudo, o único problema: cerca de 10% dos gases de efeito de estufa são causados pelo desperdício alimentar. A verdade é que comida em decomposição, por exemplo em aterros sanitários, liberta metano para a atmosfera, o segundo gás que mais contribui para o aquecimento global. Além disto, os recursos naturais usados na confeção dos alimentos e em toda a sua cadeia de valor acabam também por ser desperdiçados juntamente com a comida. Esta percentagem é de tal forma relevante que, segundo dados da Comissão Europeia, se o desperdício alimentar fosse um país, seria o terceiro país mais poluente, sendo apenas ultrapassado pela China e pelos EUA.

Neste sentido, se por um lado importa olhar para as grandes players no setor alimentar, por outro é das casas das famílias que vem a maior parte do desperdício de alimentos no mundo, representando, de acordo com dados das Nações Unidas, 60% do total desperdiçado.

“As fontes de desperdício são muitas e por isso a mudança tem de partir de todos. Não podemos olhar apenas para as grandes indústrias, quando temos dados que nos dizem que as famílias também são o problema. Assim como não podemos procurar nas famílias culpados. O combate ao desperdício é um trabalho de equipa e é por isso que o Movimento Contra o Desperdício é para nós tão importante. É uma iniciativa que visa envolver todos no processo de mudança de comportamentos e que todos os anos arranja novas formas de combater este flagelo”, afirma Francisco Mello e Castro, Coordenador do Movimento Unidos Contra o Desperdício.

O Movimento Unidos Contra o Desperdício conta com mais de 300 entidades e milhares de particulares aderentes, nasceu no dia 29 de setembro de 2020, com o Alto Patrocínio do Presidente da República e com o apoio do Secretário-Geral das Nações Unidas.

Este ano a campanha de sensibilização foi desenvolvida em torno do impacto ambiental do desperdício alimentar, com o objetivo de promover o consumo com consciência, evitando o excedente. Assim, através de um remake da música “O corpo é que paga” de António Variações, rostos conhecidos dos portugueses como João Baião, Carolina Patrocínio, Isabela Valadeiro e Vasco Pereira Coutinho apelam ao facto de ser o planeta quem paga pelo excesso do desperdício alimentar. Reforça, deste modo, que a inconsciência no processo de compra leva a consequências graves para o planeta.