EUA ameaçam saúde pública ao reverter lei sobre mineração superficial de carvão
A Administração Trump e o Congresso norte-americano colocaram em perigo a saúde pública ao reverter legislação sobre os riscos ambientais de remover montanhas, forma superficial de mineração de carvão predominante na Appalachia central, denunciou a Human Rights Watch (HRW), citada pela Lusa.
Num relatório de 88 páginas, intitulado “A Mina de Carvão à Nossa Porta: Como a Desregulamentação da Remoção de Cumes Montanhosos pelo Governo dos Estados Unidos Ameaça a Saúde Pública”, a organização não-governamental Human Rights Watch sustenta que o Congresso falhou na redução dos riscos para a saúde associados a esta forma de exploração do carvão quando votou a favor da retirada de um modesto regulamento destinado a proteger os cursos de água da poluição mineira.
Segundo a HRW, ao reverter este regulamento, “o Congresso tornou mais fácil à indústria do carvão destruir montanhas e enterrar o entulho em riachos, sem monitorizar ou lidar com os impactos ambientais, ao confiar num estudo pouco fidedigno financiado pela indústria e que não foi sujeito à avaliação dos seus pares”.
Além disso, prossegue a organização de defesa dos direitos humanos, a Administração Trump “retirou abruptamente o financiamento a um estudo que poderia ter comprovado a opinião generalizada sobre as consequências para a saúde dessa prática, num aparentemente deliberado esforço para impedir que informação importante sobre os riscos para a saúde das operações de mineração de superfície fosse divulgada”.
“A Administração Trump e o Congresso orgulhosamente livraram o país de um regulamento e um estudo que afirmavam custariam empregos no setor do carvão”, declarou a investigadora nas áreas de negócios e direitos humanos da HRW Sarah Saadoun, citada em comunicado. “Mas aquilo que realmente fizeram foi, de forma imprudente, pôr em perigo a saúde das pessoas de algumas das mais pobres e insalubres comunidades da América”, defendeu.
A mineração de remoção de cumes montanhosos envolve a destruição de até 122 metros verticais de uma montanha com explosivos para explorar os veios de carvão existentes no seu interior. A enorme quantidade de resíduos de rocha é despejada em vales, formando “vales-aterro” com dimensões como 305 metros de largura por 1.609 metros de comprimento.
As explosões e os vales-aterro geram poluição do ar e da água que, se não for regulamentada, pode pôr em perigo a saúde das pessoas que residem em vales próximos, conhecidos como vales ocos, muitas das quais dependem da indústria do carvão para subsistir.
No relatório, a HRW relata visitas às casas de sete famílias situadas perto de uma mina de remoção montanhosa em Coal Mountain, no condado de Wyoming, na Virgínia Ocidental, cujos poços passaram a ter água cinzenta ou alaranjada a cheirar a ovos podres, o que pode indicar poluição da terra ou da superfície relacionada com a atividade mineira.
Análises feitas aos seus poços, bem como aos pertencentes a muitas outras famílias residentes perto da mina que pensam que a sua água perdeu qualidade significativa desde o início da exploração mineira, revelaram níveis elevados de ferro e manganésio e, em alguns casos, arsénico e chumbo.
Desde 2009, investigadores de saúde pública da Universidade da Virgínia Ocidental e de outras instituições publicaram mais de uma dúzia de estudos que mostram percentagens significativamente mais altas de doença cardiovascular, cancro do pulmão e de outros tipos, deficiências congénitas e mortalidade em condados com remoção de cumes montanhosos, em comparação com condados Apalaches com outros tipos de mineração ou sem qualquer exploração mineira, mesmo depois de despistados fatores como a pobreza, o tabagismo, a obesidade, a educação, a raça e a ruralidade.
“O caso das remoções de cumes montanhosos evidencia os perigos de deixar que os interesses da indústria, em vez da ciência, conduzam a política reguladora”, sustentou Sarah Saadoun. “Nenhum Governo deveria fazer as pessoas pagar por empregos com a sua saúde”, comentou.