Um conjunto de estudos sobre a biodiversidade, realizados a nível mundial e no quais trabalhou também uma investigadora do Porto, indicam que 42% das espécies animais e vegetais na Europa diminuíram as suas populações na última década.
Os resultados destes estudos mostram “a continuação do declínio da biodiversidade e dos serviços dos ecossistemas a nível mundial, nas várias regiões analisadas, causando a degradação das condições de vida de muitas pessoas”, disse à Lusa a investigadora do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental da Universidade do Porto (CIIMAR), Isabel Sousa Pinto.
Estes estudos foram realizados pela Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços dos Ecossistemas (IPBES), uma entidade científica da Organização das Nações Unidas (ONU) para a área da biodiversidade, equivalente ao Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC).
As conclusões, apresentadas na 6.ª Assembleia Geral do IPBES, em Medellin (Colômbia), indicam que a tendência registada na Europa deve-se ao aumento da intensidade da agricultura e da silvicultura, “com consequências diretas no declínio da biodiversidade”, referiu a investigadora.
“O mar mostrou-se uma das áreas com menos conhecimento mas com situação mais preocupante, com 27% das espécies e 66% dos habitats marinhos avaliados com estado de conservação desfavorável”, indicou a professora da Universidade do Porto, que coliderou um dos seis capítulos desta avaliação, orientado para as regiões da Europa e Ásia Central.
Segundo Isabel Sousa Pinto, embora a maioria da exploração pesqueira nesta região mostre ainda uma “tendência insustentável”, existem “alguns casos de recuperação de ‘stocks’, resultantes da aplicação de medidas adequadas de gestão, que indicam o caminho a seguir no futuro”.
Entre essas medidas, destacou, encontram-se a redução das pescas, da desflorestação e da poluição, o aumento da promoção de áreas protegidas, a redução da caça e do tráfico de animais e a conservação de aves.
“A Europa não é das zonas com menos problemas. Apesar de termos políticas avançadas em termos de controlo da poluição e de conservação, comparativamente a outras regiões do mundo, também temos uma utilização intensiva dos recursos, que levam a que a biodiversidade seja bastante ameaçada”, salientou.
Na sua opinião, a biodiversidade não pode ser uma preocupação só do Ministério do Ambiente, devendo envolver outras esferas políticas, como é o caso “das pescas, da agricultura, da floresta, dos transportes, do planeamento urbanístico, da zona costeira e da zona marítima e do planeamento energético”.
A professora apontou a agricultura biológica, uma melhor gestão de áreas protegidas, a criação de passagens subterrâneas ou aéreas para a fauna (evitando o seu atropelamento) e a verificação dos locais onde se instalam as torres de energia eólica (para reduzir a mortalidade de aves), como algumas das medidas que podem ser tomadas para controlar o declínio da biodiversidade.
Encomendados pelos governos de diferentes países, estes estudos tiveram a duração de três anos e contaram com a participação de mais de 550 especialistas – entre os quais cinco portugueses -, de cerca de 100 países.
Os investigadores recorreram a trabalhos já publicados sobre a relação entre a biodiversidade com o bem-estar das pessoas e a tendência dos serviços de ecossistema, ao conhecimento indígena e aos depoimentos de pessoas que trabalham nas áreas protegidas e de trabalhadores locais, como agricultores, pescadores e pastores.