Durante o Fórum BPI: O Futuro da Água, que aconteceu na última quinta-feira, foi apresentado um estudo sobre o valor económico do recurso em Portugal, levado a cabo pela Universidade Católica de Lisboa. O professor Miguel Gouveia contextualizou a atualidade do setor no país, explicando que se enfrentam desafios relacionados com a água devido à distribuição desigual e ao impacto das alterações climáticas.
Nos últimos cem anos, houve uma redução de 2.000 litros de água por ano na precipitação média, o que representa uma perda significativa de 20%. Esse dado ilustra que, apesar de Portugal ter mais água do que muitos países da Europa, o volume de precipitação está cada vez mais escasso, o que agrava os problemas de gestão hídrica.
No estudo, Miguel Gouveia foca nas duas maiores fontes de consumo de água em Portugal: o consumo doméstico e o consumo na agricultura. Em relação ao consumo urbano, ele aponta que o aumento do consumo de água nos meios urbanos até 2030 está relacionado não só ao crescimento económico, mas também ao aumento da dimensão dos agregados familiares. Mesmo que a população total do país diminua, o consumo per capita de água tende a aumentar devido à redução no número de pessoas por família, o que leva a uma maior demanda por água.
Desta forma, o estudo conclui que é necessário subir o preço real da água em cerca de 25,7%. Por metro quadrado, o preço deve subir para 3,198 euros em 2030.
No consumo agrícola, apesar dos poucos dados disponíveis, percebeu-se que o investimento que é feito no hectare de regadio é muito maior do que o investimento que é feito no hectare de secura, portanto, há custos adicionais.
Quando se olha para a utilização média em Portugal de água num hectare em regadio, que é cerca de 4.000m³ por ano, chega-se a um valor da água que é aproximadamente 59 cêntimos.
Neste caso, defende-se que o crescimento económico da agricultura no nosso país passa pelo aumento do regadio, mas também pelo investimento em tecnologia, além da reafectação da terra a culturas de maior valor.
O estudo revela assim, que alguns investimentos propostos no setor podem valer a pena, mas outros podem sair demasiado caros e custar mais do que o valor da água disponibilizada. As estimativas podem ser usadas para avaliar políticas públicas e estes investimentos (armazenamento, redução de perdas, reutilização de águas residuais, dessalinização, transvases).
O Fórum BPI: O Futuro da Água decorreu no dia 27 de fevereiro, no auditório da Fundação Champalimaud, em Lisboa, reunindo diferentes especialistas de dentro e fora do setor para discutir em que ponto estamos na preservação e gestão dos recursos hídricos em Portugal.