Estudo revela que 30% dos ecossistemas ribeirinhos a nível mundial estão “severamente degradados”

Um novo estudo revela preocupantes níveis de degradação dos rios em todo o mundo. Liderado por Maria João Feio, do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE) e da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), este análise reuniu três dezenas de investigadores de todo o mundo e visou analisar o estado biológico dos rios, da forma mais ampla possível e com base em dois bioindicadores usados na monitorização dos rios – os macroinvertebrados bentónicos e os peixes.

Assim, foram analisados conjuntamente resultados de programas de monitorização de 45 países (64 regiões de estudo) de todos os continentes e, em particular, um grande número de áreas de países pertencentes ao designado Sul Global (Global South), “que têm as maiores reservas de biodiversidade de águas doces do mundo, mas que têm sido menos estudadas ou cujos dados não são conhecidos”, explica Maria João Feio, clarificando que entre esses países estão a “China, Nepal, Nigéria, Brasil, África do Sul, Vietname ou Camboja”.

De acordo com com um comunicado, divulgado pela Universidade de Coimbra, esta investigação contém também dados de áreas consideradas hotspots de biodiversidade, como é o caso da Amazónia, e de países como o Japão ou a Coreia do Sul, que até agora não estavam acessíveis à comunidade internacional. Os cientistas analisaram igualmente a influência do desenvolvimento humano e alterações antropogénicas sobre a qualidade biológica dos rios, “o que é essencial para perceber que medidas devem ser implementadas a nível global”, destaca a investigadora do MARE/FCTUC.

Os resultados deste estudo, tal como refere Maria João Feio, mostram “preocupantes níveis de degradação nos ecossistemas ribeirinhos, com menos de metade dos troços estudados em boa qualidade biológica (42 a 50%, dependendo do elemento biológico – peixe ou invertebrados) e cerca de 30% severamente degradados. As piores condições foram encontradas em climas áridos e equatoriais”.

A cientista sublinha ainda que, dos fatores estudados, os que mais influenciam negativamente os rios são a “má qualidade físico-química da água (uma realidade especialmente em África, na Ásia e na América do Sul), o facto de existirem menos áreas protegidas para rios e um maior nível de desenvolvimento humano, que se pode traduzir numa maior história de alterações no uso do solo por agricultura, indústria e urbanização”.

Em oposição, o aumento da área de floresta e a melhor qualidade da água são fatores que estão associados a “melhor qualidade biológica dos rios”. No que respeita a países em desenvolvimento, estes apresentam “as maiores percentagens de locais moderadamente impactados, o que pode indicar uma tendência recente para a degradação dos mesmos”, refere.

A análise revela que as comunidades de peixes se encontram em piores condições do que as dos invertebrados. Por exemplo, “na grande bacia australiana de Murray-Darling, 56% dos locais estão severamente alterados, o que pode ser devido ao efeito das quatro mil barreiras à deslocação dos mesmos ao longo do rio, como as barragens ou açudes. Estas encontram-se amplamente espalhadas pelos rios do Mundo, dado que cerca de 63% dos grandes rios já não correm livremente”, explica a investigadora, notando que “isto é particularmente relevante quando se sabe que está a ser planeado um grande número de novos aproveitamentos hidráulicos para a América do Sul e Ásia”.

Num comentário global às conclusões do estudo, Maria João Feio entende que refletem a “perda de biodiversidade das águas doces, bem como a alteração nos padrões de distribuição das espécies, nomeadamente com o crescente aumento de espécies invasoras. Tudo isto altera o funcionamento dos ecossistemas ribeirinhos, levando à perda de serviços fornecidos por estes ecossistemas às populações (desde o fornecimento de água à regulação climática ou à prevenção de doenças)”.

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