A neutralidade carbónica não é apenas um imperativo climático, mas também empresarial. Tal implica que os ativos mais poluentes das várias indústrias sejam reequipados, desmantelados ou vendidos a favor de soluções de baixo impacto carbónico e de tecnologia limpa. Globalmente, esta transição exigirá um investimento de até 150 biliões de dólares. O novo estudo da Boston Consulting Group (BCG), intitulado “The Net-Zero Insurer” mostra que o mercado de seguros está numa posição central para promover tal transformação.
De acordo com a mesma análise, as seguradoras fornecem proteção contra a suspensão do negócio, acidentes de trabalho e aos colaboradores das empresas, sendo por isso uma peça chave para o funcionamento de todos os setores: “Esta podem, por isso, ajudar as empresas a acelerar o seu caminho para a neutralidade carbónica na forma como estabelecem os preços, oferecem aconselhamento e gerem os pagamentos de sinistros. Esta política, em última instância, é benéfica não só para o planeta, mas também para a prosperidade das seguradoras a futuro”.
Neste contexto serão necessárias “clareza e objetividade” sobre quais as prioridades e áreas de atuação. Até à data, as seguradoras têm concentrado os seus esforços nas suas operações internas e de IT, tomado medidas para melhorar a eficiência energética e reduzir as emissões nos seus escritórios. Mas estas representam, em média, menos de 5% da pegada de carbono da sua atividade. Em contraste, a sua carteira de investimentos representa tipicamente entre 50% e 55% da sua produção de emissões. Para obter um impacto real a curto prazo, as seguradoras devem também abordar o seu core de negócio – a sua carteira de subscrições e atividades de gestão de sinistros, que constituem 35% a 40%, lê-se no estudo da BCG.
“A maioria dos investidores, reguladores, clientes e colaboradores reconhecem que a descarbonização é um processo complexo e multianual. A crescente consciência dos impactos negativos das alterações climáticas tem tornado os agentes deste mercado mais ávidos de mudanças profundas – as seguradoras que estão à frente neste caminho comprometem-se abertamente a detalhar as suas ações e serão percecionadas com mais seriedade e legitimidade neste tema”, declara Pedro Pereira, Managing Partner da BCG em Portugal.
Segundo a análise, uma estratégia de neutralidade carbónica pode mesmo permitir uma vantagem competitiva. O estudo mostra que os clientes estão a deixar claro que preferem alternativas com baixo teor de carbono, de forma transversal, mas também em seguros. Assim, “os primeiros a antecipar a forma como os mercados estão a evoluir serão capazes de fixar melhores preços e fornecer aos clientes os serviços mais relevantes. Adicionalmente, seguradoras com uma postura neutra em carbono mais ativa no mercado podem também atrair novos financiamentos”, indica o “The Net-Zero Insurer”.
Entre os enablers críticos neste âmbito estão a comunicação e governance das seguradoras: “é essencial que exista um plano formal de comunicação e de elaboração de relatórios que contemple a estratégia de descarbonização da seguradora”. As partes interessadas procurarão “organizações para delinear e implementar uma política de emissões net-zero no seu próprio negócio e em toda a sua cadeia de valor e, por isso, a transparência é fundamental”, refere o estudo.
O cumprimento dos compromissos globais de neutralidade carbónica em 2050 exigirá um caminho bem delineado por parte das seguradoras. Para o bem do planeta e para proteger os seus próprios resultados, a análise recomenda que as organizações definam globalmente uma “estratégia integrada” que lhes permita acelerar o ritmo de “transição para a neutralidade carbónica dentro dos seus próprios negócios e através das suas esferas de influência”.