O setor do retalho terá de fazer um maior esforço e depressa para conseguir ter um impacto significativo nos seus compromissos ambientais, já que, apesar de ser uma prioridade estratégica para estas empresas, a grande maioria assume estar aquém de alcançar um progresso relevante. Esta conclusão faz parte do estudo – “Sustainability In Retail Is Possible–But There’s Work To Be Done” – da Boston Consulting Group (BCG), em parceria com o Congresso Mundial de Retalho.
O inquérito contou com a participação de 37 grandes empresas em todo o mundo, incluindo grossistas, marcas de moda e de venda de artigos para casa e eletrónica, com receitas anuais que variam entre mil milhões e 500 mil milhões de dólares.
Os resultados, anunciados num comunicado pela BCG, revelam uma “compreensão generalizada das vantagens competitivas de desenvolver uma estratégia para a sustentabilidade”, incluindo a “vantagem sobre os concorrentes, acesso a melhores condições de empréstimos, redução de custos, atração de novos clientes e retenção de colaboradores”, bem como o “potencial para explorar novos fluxos de receitas”. No entanto, apesar de estas empresas serem “quase unânimes” na convicção de que as iniciativas de sustentabilidade vão gerar valor nos próximos cinco a dez anos, apenas metade acredita que as suas empresas vão investir “o que for preciso” para atingir os seus objetivos.
O estudo mostra que há um “claro desencontro entre as ambições ousadas dos retalhistas e o seu progresso na jornada da sustentabilidade”, já que apenas algumas das empresas tinham chegado à fase em que podiam “reivindicar a sustentabilidade como elemento central da estratégia, tomada de decisões e criação de valor da empresa”.
Embora “60% das empresas acreditem que os seu objetivos são ousados e diferenciados, mais de metade ainda não estabeleceu quaisquer indicadores de desempenho de sustentabilidade para medir o progresso”, e “menos de 20% está, de momento, em vias de reduzir as emissões de Âmbito 3, que incluem as dos fornecedores, em quantidade suficiente para cumprir as metas de limitação do aumento da temperatura global a 1,5 graus, estabelecidas pelo Acordo de Paris em 2015”, lê-se no comunicado. Algumas organizações mostram-se presas aos “básicos da sustentabilidade”, fazendo o suficiente para cumprir os regulamentos e satisfazer as expectativas mínimas dos investidores e outros stakeholders.
O relatório salienta a necessidade de uma mudança transformadora nas atitudes e processos para colocar a sustentabilidade no centro da estratégia empresarial, da tomada de decisões e da criação de valor. “Será necessário fazer um maior esforço para aumentar e acelerar as suas respostas para responder a questões como a das embalagens de plástico, que representam 40% da utilização global deste material”, aponta o estudo.
No mesmo comunicado, a BCG apresenta uma estratégia assente em três pilares para conseguir a mudança de paradigma necessária no setor:
- Priorizar: Os objetivos de sustentabilidade devem ter tanto peso como outros parâmetros quando a empresa embarca em novas oportunidades de negócio ou quando avalia o seu desempenho, e os indicadores de sustentabilidade devem ser equiparados aos custos e lucros. A liderança deve não apenas patrocinar esta jornada, mas sim estar envolvida e ser responsabilizada;
- Incorporar: Os retalhistas devem avançar no sentido da integração end-to-end da cadeia de valor, tendo os indicadores de desempenho de sustentabilidade incorporados a todos os níveis do negócio. As empresas devem adotar as novas tecnologias digitais para apoiar a tomada de decisões a partir da transparência emergente sobre os impactos;
- Repensar: As empresas devem reimaginar as suas cadeias de valor. Isto pode ser feito através da relocalização da sua produção ou de integração vertical. Uma interação mais próxima com os fornecedores também será fundamental, assim como uma colaboração forte com os pares da indústria.
Segundo a consultora, as empresas que se encontram em fases muito iniciais da sua estratégia de sustentabilidade devem concentrar-se em dar “pequenos passos e conseguir pequenas vitórias”. De forma agregada, estes passos permitirão uma “mudança permanente e significativa que criará um valor tanto para cada empresa individualmente, como para a indústria”, sustenta.
O estudo conclui ainda que a colaboração a nível da indústria será fundamental para o progresso, com os mais atrasados a poderem aprender com os líderes e retalhistas a procurar oportunidades de colaboração para resolver problemas comuns.