O setor da Água enfrenta várias mudanças, sendo uma das mais evidentes, os efeitos crescentes das alterações climáticas. Também consumidores e clientes cada vez mais exigentes e com maior acesso ao digital, e o envelhecimento visível das infraestruturas, constituem um desafio para estas entidades que lidam ainda com um nível de perdas de água elevado, o que tem implicações diretas na sustentabilidade no uso deste recurso essencial, a Água.
A utilização de tecnologias inteligentes, como o sistema de informação geográfica, pode criar oportunidades na forma como enfrentar e ultrapassar estes desafios.
- 1.O efeito das alterações climáticas
A maioria das alterações climáticas está relacionada com a água, ora porque afeta a produção agrícola, ora porque leva ao aumento do nível do mar. Incêndios florestais, secas, inundações, ou outros fenómenos extremos ocorrem mais frequentemente e com maior intensidade. Estas situações afetam diretamente as áreas costeiras, as infraestruturas de abastecimento e saneamento, e as comunidades envolvidas. A compreensão das vulnerabilidades de cada local é possível obter através da utilização da análise espacial de várias camadas de informação, modelação e criação de cenários, e na procura de soluções que procurem minimizar o risco de colapso das infraestruturas de água em situações de eventos climáticos extremos.
- 2.Clientes mais exigentes e digitais
Os clientes e consumidores estão mais do que nunca capacitados para uma tecnologia digital e cada vez mais exigentes na forma como acedem à informação. Esperam produtos e serviços melhores, maior rapidez e atendimento personalizado. Para atender as estas expectativas as entidades devem procurar garantir elevados níveis de satisfação dos clientes. É importante estarem atentos e desenvolverem soluções que promovam o envolvimento com as comunidades, quer numa óptica de partilha e divulgação de informação, quer no estabelecimento de relacionamento com o cliente, levando-os a construir soluções em cocriação e a participar ativa- mente em ações que envolvam uma melhor e e ciente gestão do recurso água. Os sistemas de informação geográfica permitem comunicar de forma bidirecional com os consumidores e clientes através de storymaps, aplicações web ou móveis de consulta de informação, questionários de participação, reclamação ou satisfação. Promove nas pessoas uma percepção em termos de qualidade e segurança do abastecimento de água e saneamento bem como melhores resultados ambientais.
- 3. O envelhecimento das infraestruturas
A deterioração das infraestruturas é um problema sério em Portugal, e deriva de dois fatores: idade e falta de manutenção. Em Portugal Continental, a reabilitação de condutas é insatisfatória no serviço em alta e no serviço em baixa, indiciando potencial de melhoria com uma prática continuada de reabilitação de condutas (RASARP 2020). Esta situação pode levar a falhas nos sistemas de água, causando problemas sérios que afetam a segurança e a saúde pública. Talvez o maior desafio para lidar com o envelhecimento das infraestruturas de água seja garantir financiamento para iniciativas de melhoria. No entanto, os projetos de serviços públicos de água e saneamento são muito menos visíveis em comparação com a construção de estradas ou rotundas. Infelizmente o que não se vê gera menos interesse político. Mas não basta criar financiamento, é importante conhecer o estado das infraestruturas, priorizar, e atribuir e auditar de forma criteriosa os recursos disponíveis. Um smartphone a mostrar um mapa com imagem de satélite e uma linha vermelha que indica as condutas de água que precisam de ser substituídas é uma ferramenta essencial ao suporte à tomada de decisão. As entidades precisam de um sistema que permita selecionar as condutas certas, a substituir no momento exacto, e que tenha em conta diferentes fatores como a idade da conduta, o histórico de falhas, o material, o fabricante, as condições do solo, entre outros fatores de contexto. No essencial o importante é garantir tomadas de de- cisão mais informadas na definição dos planos de reabilitação e substituição, mantendo o nível de serviço ao cliente, e evitando as perdas de água.
- 4. Perdas de água
Em Portugal, 79 entidades gestoras apresentam índices de perdas de água insatisfatórios, 63 com qualidade mediana e apenas 95 com qualidade de serviço considerada boa. Segundo o regulador, o volume de perdas reais está relacionado com uma “reabilitação insuficiente de condutas de água e não implementação de medidas de redução de perdas de água” e existe “potencial de melhoria”. É expectável que o próximo plano estratégico do setor, que se passará a designar PENSAARP (Plano Estratégico de Abastecimento de Água e Saneamento de Águas Residuais e Pluviais) de na metas de redução de perdas mais ambiciosas, o que irá representar um desafio significativo em tecnologia e inovação para atingir essa redução. As estratégias e metodologias de redução de perdas de água encontram-se largamente divulgadas. Aspetos essenciais como o balanço hídrico, o cálculo do nível económico de perdas, o controlo de caudais e pressões na rede, o controlo ativo de perdas, as técnicas de deteção e localização de fugas, o estabelecimento de ZMC (Zonas de Monitorização e Controlo), são alguns dos requisitos para qualquer processo de redução de perdas. A utilização de sistemas de informação geográfica, o cadastro de infraestruturas, os sistemas de informação de clientes, os modelos hidráulicos das redes e a devida articulação entre todos os departamentos da empresa são o complemento essencial para atingir um objetivo comum. Mas infelizmente, estes aspetos ainda não estão incorporados na prática diária de muitas entidades.
Destacamos importantes inovações e aperfeiçoamentos decorrentes da aplicação de sistemas de informação geográfica. Se ocorrer uma rotura de conduta, a resposta imediata das entidades deve ser assegurada, de forma a minimizar os clientes afetados e o volume de água perdido. Com a Plataforma ArcGIS, as equipas de campo navegam no mapa até à área onde se localiza o problema, analisam a situação, validam no smartphone a localização e registam a gravidade da situação. No gabinete, é possível verificar qual a equipa que está nas proximidades de forma a atribuir a tarefa. A equipa recebe a informação, desloca-se ao local e inicia o trabalho. Analisa a rede, identifica quais as válvulas a fechar, relata o tempo necessário de interrupção do serviço e entende o impacto nos clientes. Todo o andamento do trabalho é monitorizado em tempo real através de dashboards operacionais.
O sistema de informação geográfica permite implementar soluções de gestão das redes, que melhoram a e ciência e a confiança dos dados da infraestrutura física da rede quer pelas suas capacidades de recolha e registo dos dados, quer pelas ferramentas de análise espacial e análise de rede.
A maioria das entidades gestoras já beneficia de um SIG, mas é necessário levar a sua utilização a outro nível, não basta gerir e editar os dados de cadastro, é necessário planear o futuro e permitir que essa edição, gestão e planeamento sejam efectuados no terreno e em colaboração com parceiros e prestadores de serviços e outras partes interessadas.
É necessário evoluir dos tradicionais fluxos de trabalho no terreno, com recurso a documentos de papel, que geralmente resulta em trabalho ineficiente não só pelo aumento do tempo gasto na transferência dos dados recolhidos no campo, como também pelo maior risco de erro e perda de dados e pela comunicação ineficaz entre as diferentes equipas, para fluxos de trabalho digitais. Os smartphones, a internet, as apps móveis prontas a usar impulsionaram esta transformação digital. O acesso, a recolha e a edição de dados pelas equipas operacionais no terreno está no centro desta transformação, na medida em que ajuda as entidades a navegar e localizar facilmente os seus ativos no terreno, permite um registo automático dos da- dos de localização e a hora de recolha e fornece informações em tempo real para toda a organização.
A Plataforma ArcGIS oferece uma gama alargada de aplicações, de simples e rápida configuração, que dão suporte a fluxos de trabalho digitais. As soluções da Esri incluem serviços, mapas e apps que capacitam as entidades a aumentar a sua produtividade e e ciência do trabalho no terreno e em gabinete; a aumentar a consciência operacional; a aceder a um sistema de registo ágil e em tempo real; com possibilidade de ambientes offline e por último com todas as garantias de segurança e colaboração asseguradas.
Associado ao SIG, a utilização de dispositivos de IoT ajudam a gerir melhor as infraestruturas, a reduzir as perdas de água e a suportar a tomada de decisão. Redes inteligentes de água oferecem a oportunidade de melhorar a produtividade e a e ciência, ao mesmo tempo que aperfeiçoa o atendimento ao cliente.
Não basta ter dados, é importante ter informação adequada às necessidades, e para isso é essencial o envolvimento de todas as partes interessadas. São as pessoas que de nem que tipo de informação pretendem e quais os dados que irão satisfazer as suas necessidades. A utilização da tecnologia é apenas um meio, no qual os sistemas de informação usam os dados e convertem-nos em informações úteis e com consciência situacional e operacional.
A utilização de um SIG de forma apropriada, transversal à organização e com o uso das aplicações certas permite garantir a qualidade dos dados e das informações, e obter uma visão tática e estratégica do funcionamento das redes, onde as pessoas podem analisar, questionar, envolver e comprometer-se com os resultados. A visualização e análise dos dados proporcionada pelo SIG é um marco de transformação do sector, na medida em que facilita ativamente tomadas de decisão informadas.
O futuro é desconhecido, ninguém pode ter a certeza absoluta ou prever qual a direção do sector da Água nos próximos anos. Sabemos, porém, que a Esri continuará a querer apoiar as entidades a enfrentar estes desafios e, com a ajuda da Plataforma ArcGIS, os transformar em oportunidades. Deixamos assim o nosso contributo na esperança de transformar o setor da Água, num setor de Excelência
*Este artigo foi publicado na edição 89 da Ambiente Magazine.