Considerada um dos mais relevantes eventos na área das invasões biológicas, o Neobiota reúne especialistas de todo o mundo para discutir as mais recentes abordagens e descobertas sobre espécies exóticas invasoras. Segundo a ONU, os custos anuais com estas espécies já ultrapassam os 390 mil milhões de euros. Prejudicam, na maioria das vezes, a qualidade de vida humana (nomeadamente através da propagação de doenças) e são responsáveis por 60% das extinções recentes. Estes e outros temas em debate entre os dias 03 e 06 de setembro.
Este ano, a conferência internacional decorrerá em Portugal, na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, entre os dias 3 e 6 de setembro. A organização desta edição está a cargo do MARE – Centro de Ciências do Ambiente, com o apoio da instituição de ensino acima referida e da Universidade de Évora.
Ao longo dos três dias de conferência, mais de 460 especialistas oriundos de cerca de 50 países vão partilhar e debater os mais recentes avanços científicos e estratégicos em temas como a avaliação de risco, gestão e controlo de espécies invasoras, ferramentas inovadoras para deteção e monitorização, rotas de introdução e dispersão de espécies, bem como os impactos ambientais e socioeconómicos das invasões biológicas e suas implicações para a conservação da natureza.
“O expressivo número de inscritos superou as expectativas iniciais e evidencia a crescente importância e urgência destes temas a nível global”, começam por explicar Pedro Anastácio, Filipe Ribeiro e Paula Chainho, os responsáveis pela organização. “Um dos destaques da conferência será a participação de dois cientistas de renome internacional: Anthony Ricciardi, que abrirá o evento com a primeira apresentação plenária, e Gregory Ruiz, responsável pela apresentação plenária de encerramento. Ambos são reconhecidos mundialmente pelas suas contribuições na área das invasões biológicas, oferecendo uma perspetiva global e estratégica sobre os desafios e soluções para enfrentar o impacto das espécies invasoras”, continuam.
O mais recente relatório da ONU sobre a temática das espécies invasoras destaca que o impacto global das invasões exóticas é devastador: os custos anuais ultrapassam os 390 mil milhões de euros, e estas espécies são responsáveis por 60% das extinções recentes. Para além disso, prejudicam quase sempre a qualidade de vida humana, nomeadamente através da propagação de doenças.
Em Portugal, o impacto das espécies invasoras tem motivado uma série de ações coordenadas, incluindo projetos de investigação, iniciativas de conservação financiadas pelo programa LIFE, e a implementação de planos de ação específicos para o controlo de espécies particularmente problemáticas. Essas iniciativas são articuladas entre várias entidades, incluindo o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), com o objetivo de conter, controlar ou erradicar espécies invasoras em território nacional.
Pré-Conferência e Outras Atividades
Antes do início oficial da conferência, haverá workshops temáticos gratuitos dedicados a tópicos cruciais como os projetos LIFE focados em invasões biológicas, métodos de avaliação e gestão, o aproveitamento económico de espécies invasoras, a formulação de políticas públicas, e o envolvimento da ciência cidadã. Estes workshops oferecem uma oportunidade única para uma formação especializada e troca de experiências entre profissionais e investigadores.
Paralelamente, a organização preparou visitas técnicas a Sintra, ao Estuário do Sado (Setúbal) e ao Rio Tejo (Santarém), que permitirão aos participantes observar de perto algumas das espécies invasoras presentes em ecossistemas locais e conhecer os projetos em curso para monitorização e controlo dessas espécies.
Planos de Ação e Espécies Problemáticas em Portugal
Em Portugal, destacam-se planos de ação já em vigor para o controlo de espécies como o lagostim-vermelho-da-luisiana (Procambarus clarkii), a erva-das-pampas (Cortaderia selloana) e a ostra-japonesa [Crassostrea (Magallana) gigas]. Outro exemplo relevante é o plano para a erradicação da rã-de-unhas-africana (Xenopus laevis), uma espécie invasora originária do sudeste de África, identificada nas ribeiras da Laje e de Barcarena.
Em curso estão também planos de gestão para a amêijoa-japonesa (Ruditapes philippinarum), uma espécie de bivalve dominante em alguns estuários portugueses e um recurso de importância económica no estuário do Tejo. O peixe-gato ou siluro (Silurus glanis), um predador originário da Europa Central que se tornou uma espécie dominante no Rio Tejo, é outro exemplo de desafio que está a ser abordado.
“Estamos muito entusiasmados com a organização da NEOBIOTA 2024. A qualidade das participações e dos temas em discussão levam-nos a crer que esta conferência será um marco no debate e na formulação de soluções para os problemas das espécies invasoras. O início de setembro vai reunir conhecimento de ponta e promover colaborações internacionais para enfrentar esse desafio crescente. E isso tudo aqui em Lisboa”, concluem Pedro Anastácio, Filipe Ribeiro e Paula Chainho.