A saída do Reino Unido da União Europeia pode aniquilar o papel de liderança do bloco na luta contra as alterações climáticas, além de bloquear os esforços para definir metas mais ambiciosas para a redução da emissão de gases de efeito de estufa, segundo afirmaram recentemente alguns especialistas. O dano pode vir a ser maior se o processo de divórcio entre Reino Unido e a UE for demorado, ou se o Brexit inspirar outras nações a seguir o exemplo, segundo as mesmas fontes.
Líderes europeus reunidos em Bruxelas esta terça-feira, dia 28 de junho, pressionaram o primeiro-ministro britânico, David Cameron, a dar início “o quanto antes” ao processo de retirada do bloco. Esta transição deverá durar dois anos. Cameron declarou, porém, que vai deixar essa tarefa para o seu sucessor, o qual será nomeado a 9 de setembro.
Em relação às políticas climáticas da UE, “vai haver bastante incerteza, transição e volatilidade durante pelo menos dois anos” disse a secretária-executiva da ONU para o Clima, Christiana Figueres, aos delegados da Cúpula para o Clima e Negócios de 2016 realizada em Londres, esta terça-feira.
Os compromissos próprios de redução de emissões do Reino Unido, definidos na legislação nacional, não devem avançar, mesmo se o aquecimento global estiver no topo da agenda do novo governo conservador – o que também é improvável. Esse cenário deverá criar uma situação difícil para os governos, administrativa e economicamente, visto que os compromissos no combate às alterações climáticas que os então 28 países membros do bloco assumiram no Acordo de Paris de 2015 terão de ser reavaliados entre os 27 membros restantes.
“A UE teria de recalibrar os esforços de divisão de deveres”, disse Figueres, referindo-se às negociações internas sobre como os Estados europeus repartem as metas de redução de carbono do bloco.
Novos termos também deverão ser negociados para o acesso da Grã-Bretanha – que importa quase metade da eletricidade que consome – ao mercado europeu da energia.
O Brexit será, ainda, uma grande dor de cabeça para as empresas dos setores energético e climático.
“Dentro da comunidade de negócios, a quantidade de tempo de gestão que será gasto desnecessariamente nessa questão vai desviar o foco das decisões importantes que precisamos fazer”, disse Peter Sweatman, presidente da Estratégia Climática, empresa internacional de consultoria sediada na Espanha.
Num ambiente internacional altamente competitivo, “nós não nos podemos dar ao luxo de focar em coisas não produtivas”, insistiu Sweatman, nessa conferência de dois dias realizada em Londres.
Alguns analistas temem que a saída da Grã-Bretanha prejudique a capacidade da UE de aumentar suas metas de redução de carbono – algo que os cientistas dizem que todos os principais emissores devem fazer para evitar que a Terra sofra os impactos desastrosos das alterações climáticas.