A educação, a legislação, a gestão da vegetação e a cooperação entre as diferentes agências que operam no terreno são as medidas mais eficazes para a prevenção dos fogos rurais e florestais, defende o especialista canadiano Kelvin Hirsch, segundo a Lusa.
A estas medidas, Kelvin Hirsch, que falava à agência Lusa a propósito do workshop “Gestão e Governança de Incêndios Rurais”, que decorre ontem no Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (INESC TEC) no Porto, acrescentou a gestão de situações de emergência e o treino cruzado entre os profissionais que operam no terreno. Estas são algumas das ações estabelecidas no manual “FireSmart” que visa ajudar as comunidades a reduzir o risco de incêndios florestais e que foi desenvolvido pelo grupo canadiano Partners in Protection Association, fundado no início da década de 1990.
“Se todas estas medidas forem seguidas, o risco de incêndios pode ser significativamente reduzido, mas é importante reconhecer que nunca é possível trazer o risco para zero”, frisou. Kelvin Hirsch, que tem liderado uma equipa técnica e científica alargada no Programa de Investigação em Alterações Climáticas do Northern Forestry Centre, é coordenador do projeto de adaptação às alterações climáticas dos Serviços Florestais do Canadá.
Questionado sobre os meios para prevenção e combate aos fogos, referiu que o Canadá dispõe de aproximadamente 200 veículos aéreos, 2.400 bombeiros “altamente treinados” e centenas de bombeiros de ação sustentada, enquanto as comunidades possuem departamentos de bombeiros locais. O especialista destacou ainda o Centro de Incêndio Florestal Interagência Canadiano, que estabelece padrões e permite que os recursos de combate a incêndios florestais (como tripulações, bombas e mangueiras) sejam partilhados entre províncias e territórios, bem como com alguns com outros países, como os Estados Unidos e o México.
Através desses recursos, contou, é possível conter 97% dos incêndios florestais quando estes atingem apenas alguns hectares. Contudo, “há momentos em que o clima é tão quente, seco e ventoso que os fogos fogem do controle e tornam-se grandes”, chegando a consumir milhares de hectares e representando “uma ameaça significativa para as pessoas, propriedades e indústrias florestais”, continuou.
Quando isso acontece, “não é humanamente possível detê-lo, assim como é impossível para os humanos parar um furacão ou um tornado”, notou. “Isso foi reconhecido no Canadá e é por isso que nossas agências de gestão de incêndio florestal prepararam-se proativamente, com sistemas inovadores baseados em ciência, que monitorizam e preveem a propagação de incêndios florestais, fazendo com que as comunidades possam ser avisadas e evacuadas”, acrescentou.
Segundo Kelvin Hirsch, ocorrem anualmente no Canadá cerca de sete mil incêndios, que queimam 2,7 milhões de hectares de área. “Após sérios incêndios florestais no oeste do Canadá, em 2003, ficou claro que não era económica, física e ecologicamente possível erradicá-los”, disse, referindo que, depois disso, as entidades responsáveis e o governo criaram a Estratégia Canadiana de Incêndio Florestal. Esta estratégia, disse ainda, exige uma “abordagem equilibrada” ao nível da gestão dos incêndios, incluindo medidas “inovadoras e eficientes” para a sua supressão e para uma maior mitigação do risco, preparação para emergências e recuperação após os fogos.
O workshop “Gestão e Governança de Incêndios Rurais” aborda a situação e as medidas adotadas no Canadá para prevenção e combate aos incêndios rurais e as instituições que operar nesse âmbito. Esta iniciativa surge no âmbito das atividades de lançamento do Laboratório Colaborativo ForestWISE e é promovido pela Estrutura de Missão para a Instalação do Sistema de Gestão Integrada de Fogos Rurais, com o apoio da Embaixada do Canadá e do INESC TEC.
*Foto de Reuters