Surgiu no mercado com o exclusivo intuito de medir, reduzir e compensar a pegada de carbono das empresas e particulares. Falámos da Footprint Consulting que, através de um processo de consultoria, consegue fazer a medição, a redução, a compensação e a certificação das emissões de carbono e demais Gases Efeito Estufa (GEE).
À Ambiente Magazine, Tiago Machado, fundador da Footprint Consulting, explica que a consultora recorre à metodologia “Greenhouse Gases Protocol”, que é seguida por 92% das empresas listadas no top 500 da revista “Fortune”: “O Protocolo de GEE foi uma metodologia desenvolvida em 2001 pela WRI (World Resources Institute), em conjunto com a WBSD (World Business Council for Sustainable Development), e é, hoje em dia, a metodologia comummente aceite e a mais aplicada mundialmente na medição das emissões de GEE”. O GHG Protocol obedece a vários princípios: a “Relevância” é o primeiro e passa por “garantir que o inventário de GEEs reflete com exatidão as emissões da Organização, servindo de ferramenta de gestão para os responsáveis. A Relevância é tão importante para efeitos internos como externos à empresa”. A “Integralidade” é o segundo principio, assegurando que “o inventário de GEEs inclui e regista todas as fontes e atividades de emissão, dentro dos limites Operacionais e Organizacionais selecionados. Deverão, também, ser divulgadas e justificadas as exclusões específicas”. Outro princípio é a Consistência: o protocolo utiliza “metodologias consistentes, que permitam as comparações de emissões ao longo do temp”, documentando “de forma transparente as alterações de dados, limites de inventário, métodos, ou quaisquer outros fatores relevantes nesse período de tempo”. O protocolo obedece também aos princípios de “Transparência” (tratando “todas as emissões relevantes de forma coerente e factual, com base numa auditoria transparente” e revelando “todos os pressupostos importantes, bem como referir as metodologias de cálculo, de registo e bases de dados utilizadas”) e de “Rigor” (assegurando “a quantificação da emissão de GEE’s não esteja sistematicamente acima ou abaixo do nível real e que as incertezas sejam reduzidas ao mínimo. A exatidão da informação deverá reforçar a confiança de todos os stakeholders na integridade da informação partilhada, para que decidam sem receios”).
Questionado sobra e importância de se medir a pegada de carbono das empresas, Tiago Machado é perentório: “Não se pode gerir o que não se mede e, por conseguinte, o cálculo da Pegada de Carbono da Organização terá de ser o ponto de partida”. De acordo com o responsável, trata-se de uma informação que vai “permitir um entendimento sólido” sobre o volume das emissões de GEE da sua Organização: “O “GHG Protocol”, estabelece uma metodologia standard global para medir e gerir os GEE do setor privado e setor público”. O cálculo das emissões de GEE, de acordo com o “GHG Protocol”, é organizado em vários “Âmbitos” (Scopes): o Âmbito 1 são as emissões diretas de fontes cuja propriedade é da entidade que reporta ou controladas por esta; o Âmbito 2 são as emissões indiretas que resultam da geração da eletricidade comprada e consumida nas instalações da entidade que reporta ou em instalações controladas por esta; e o Âmbito 3 são uma ampla gama de emissões indiretas que se difundem ao longo de toda a cadeia de valor, incluindo matérias-primas, logística, viagens de negócios, deslocamento de funcionários e muitos outros. É através do acompanhamento da Footprint Consulting que a empresa ou organização tem a possibilidade de adquirir uma compreensão detalhada do impacto que tem no aquecimento global, obtendo um “relatório da Pegada de Carbono” produzido por uma entidade externa, que lhe permite “definir uma estratégia de redução da Pegada de Carbono”, “compensar as emissões inevitáveis”, tornando-se “climate neutral”; bem como “divulgar a Pegada de Carbono a todos os stakeholders”, seja acionistas, clientes, colaboradores, fornecedores ou restante cadeia de valor.
[blockquote style=”1″]…a “obrigação legal” forçará as empresas a fazê-lo em breve trecho, e num “efeito cascata”, as grandes empresas forçarão as mais pequenas a medir a sua pegada[/blockquote]
No entender de Tiago Machado, a definição de uma estratégia de redução das emissões será determinante no processo de “impactar positivamente todos os stakeholders” e não só apenas a empresa, ou seja, há benefícios de curto e de longo prazo. No curto prazo, “as empresas posicionam-se positivamente perante o mercado e todos os seus stakeholders, correspondendo às exigências legais (a diretiva europeia será vertida em lei em Portugal até final de 2022, exigindo a empresas com determinada dimensão a reportarem os riscos de ESG – Environment Social and Governance (sendo que no vertical “E”, se inclui a medição da pegada de carbono)”. Já no longo prazo, “as empresas respondem positivamente às exigências dos seus clientes que exigirão a medição de emissões para contemplá-los na listagem de potenciais fornecedores”.
Tal como em muitas outras métricas da esfera económica, encontram-se várias velocidades e realidades no mercado português, podendo-se dividir em três grupos: um primeiro que se centra no “conjunto das grandes multinacionais, que não só já estão totalmente atentas, como já fazem a medição da sua pegada há vários anos”; um segundo grupo que são “empresas nacionais mais atentas e conscientes com as matérias da sustentabilidade”, denotando interesse em “efetivar o processo” de sustentabilidade carbónica; e o terceiro que diz respeito a um “conjunto de empresas pequenas, que nesta altura, ainda não despertaram para a realidade sustentável e que o serão a breve trecho, seja por influência legal, por pressão financeira exercida pelo sector bancário ou (o motivo mais forte e mais provável) por imposição dos seus grandes clientes”. Tendo em conta este “último grupo” de empresas, Tiago Machado refere que os entraves em avançar e efetivar o processo resultam “como sempre em disponibilidade financeira e consciência coletiva: são empresas que (naturalmente), ainda estão a tentar recuperar da envolvente contextual que resultou da pandemia, guerra, subida vertiginosa dos custos energéticos e inflação forte”. Ao tratar-se de empresas com “pouca solidez financeira”, não lhes permite “olhar para o futuro e tomar decisões planeadas”, circunscrevendo a sua ação a “resolver as dificuldades do imediato”, indica.
Mas há riscos que as empresas devem estar cientes de não acompanharem a tendência da medição, redução e compensação da pegada de carbono: “Entre outros talvez menos evidentes, destaco o desfasamento legal e a falta de condições para continuar a sua ação comercial”. Tal como já se verifica, a “obrigação legal” forçará as empresas a fazê-lo em breve trecho, e num “efeito cascata”, as grandes empresas forçarão as mais pequenas a medir a sua pegada, sob pena de serem penalizadas na medição da sua: “Ao avançarem para a medição do SCOPE 3, caso as pequenas empresas não fizerem a sua medição, serão as grandes a responder pela mesma, o que será evitado a todo o custo”, atenta. Esta realidade traduz-se num “alerta imediato” que passa pela “ameaça que as empresas portuguesas menos preparadas e atentas sofrerão por parte da concorrência dos mercados internacionais”, compostos por um “tecido empresarial muito mais atualizado e pró-ativo em relação a estes assuntos”. Além disso, acresce a “limitação aos mercados financeiros (emissão de obrigações, emissão de ações e crédito), em que apenas as organizações que meçam a sua pegada terão livre acesso às melhores condições disponíveis”, sucinta.
[blockquote style=”1″]Trata-se de um processo complexo, exigente e que certamente não será transposto para a realidade empresarial rapidamente[/blockquote]
Avaliando a “pressão” que já se começa a sentir em relação aos critérios ESG, Tiago Machado considera que se trata de uma tendência global: “Não há como evitar ou fugir à mesma”. Teve início numa “disputa nos EUA que elevou até ao Supremo Tribunal a necessidade “material” de partilha de todos os riscos passíveis de afetar a rentabilidade dos investidores”, lembra o responsável, destacando que, desde então, o efeito foi viral e conduziu à “obrigatoriedade de todas as grandes Gestoras de Ativos de se “defenderem”, obrigando as empresas a reportarem esses riscos, sob pena de não aconselharem os investimentos aos seus clientes”. Sendo uma “pressão” que, por um lado, acarreta “enormes benefícios em termos de transparência”, por outro, leva ao “enrobustecimento das exigências internas das empresas”, impactando na “maior preparação para as eventuais dificuldades futuras resultantes das alterações climáticas, mas não só”, afirma.
Fala-se de “novos conceitos” que estão a ser cada vez mais exigidos às empresas, mas a questão é até que ponto estas “exigências” podem ser um “flop” no que aos objetivos climáticos dizem respeito? Para Tiago Machado, não se pode falar nem de “flop” nem em “êxito”, pois são complementares: “Trata-se de um processo complexo, exigente e que certamente não será transposto para a realidade empresarial rapidamente”. E, tal como todos os processos, terá fases cuja “aplicabilidade dos critérios será mais razoável e possibilitará maior rapidez” e outras cuja “reflexão e complexidade obrigarão a maior rigor e lentidão”, refere. Ainda assim, são critérios que “dificilmente interferirão” com os compromissos que Portugal assumiu, “a não ser permitir um maior envolvimento e compreensão de um tema por natureza denso”. Por isso, “é fundamental que toda a sociedade, desde o setor público até ao privado, sejam plenamente conscientes do grande desafio” em manter as condições de vida no nosso planeta: “Só um enorme esforço conjunto vai permitir obter os resultados desejados” afinca.
A posição da Footprint Consulting baseia-se nas “nas pessoas da sua estrutura”, perspetivando um otimismo em relação ao futuro da sustentabilidade: “Sentimos um pulsar crescente e um despertar lento (mas sólido), que certamente só trará benefícios às empresas que avançarem nas suas estratégias sustentáveis, apoiadas na vertente da redução das emissões de carbono”, remata.