(Entrevista) Portugal e Brasil trocam experiências sobre energias limpas
Pedro Uczai, deputado federal brasileiro e um dos impulsionadores do evento Sustentar, que se realiza em Moura, de 17 a 19 de Novembro, em entrevista à Ambiente Magazine, considera quais os objectivos do evento sobre energias renováveis que se realiza pela primeira vez em Portugal, que passam sobretudo pela troca de experiências entre ambos os países. » Quais os objectivos do Sustentar? O Sustentar é um espaço de debate, reflexão e discussão dos grandes temas do futuro da humanidade e do planeta a partir da articulação de três eixos: mudanças climáticas e aquecimento global, produção de energias renováveis e produção de alimento. Por isso as três edições no Brasil tiveram um enorme sucesso. É pensar, de forma paralela e complementar, que por um lado precisamos produzir alimento, e por outro lado também produzir energia limpa e renovável. O evento também busca fazer a crítica ao actual modelo de produção e de consumo, e com isso discute novos padrões de produção e de consumo. Um dos principais objectivos também é a troca de experiências, por isso o Sustentar em Moura será um espaço de síntese dessa troca de experiências entre Brasil e Portugal e o aprofundamento do debate iniciado nas edições brasileiras sobre o potencial desses dois países. » Quais as perspectivas da realização pela primeira vez em Portugal do evento? Muito positivas para o Brasil, porque vamos ter a oportunidade de conhecer as experiências existentes em Portugal e as reflexões académicas e políticas que estão sendo produzidas da Europa, especialmente em Portugal. Para Portugal, acredito que será uma oportunidade interessante em receber especialistas e pesquisadores brasileiros para socializar experiências em energia limpa, já que o Brasil é referência mundial nessa área. » Quais os próximos passos do evento? Pretende realizá-lo noutro país dos PALOP? Os organizadores do evento estão abertos ao diálogo. Penso que quanto mais somarmos esforços para internacionalizar esse debate, mais possível será alcançarmos respostas globais. A sustentabilidade do Planeta demanda respostas locais, mas também respostas mundiais, por isso estender o Sustentar para outros países que tenham interesse em ser protagonista deste espaço de reflexão, assim como Portugal, pode ser muito importante. » Qual a sua opinião relativamente ao posicionamento de Portugal na área das energias renováveis? Portugal deu passos importantes nos últimos anos, sobretudo na área de energia eólica e solar, bem como em um marco jurídico. Moura, por exemplo, é uma referência muito importante para o Brasil por ter a maior central fotovoltaica do mundo, mas porque a partir dela foram pensados outros projectos que servem de base para uma estratégia de desenvolvimento regional que vai além da produção de energia renovável. Isso para mim é muito positivo. » Quais as lacunas que considera existirem nesta área em Portugal? Penso que Portugal tem um potencial de expansão ainda maior nessa área de energias renováveis. Por isso pode avançar num planeamento estratégico a médio e longo prazo, com mais investimentos públicos na implantação de novos projectos, sobretudo na produção de energia renovável a partir da biomassa, além de investimento em ciência e tecnologia. » Qual o posicionamento do Brasil nesta temática? O Brasil é referência mundial na produção de energias renováveis, desde a hidroeletricidade à biomassa (etanol), mas ainda são tímidos no país os investimentos e alternativas que causam menos impacto social, como a energia eólica e principalmente a solar. À medida que o Brasil tem água, solo e sol em abundância, além de um grande potencial eólico, pode se transformar numa referência mundial na diversificação de fontes de energias renováveis, ou seja, ter uma matriz energética renovável e diversificada. Ao mesmo, a descoberta de energia fóssil em uma extensa Camada Pré-sal do litoral brasileiro, faz nosso país viver uma grande contradição entre a produção de energia renovável e energia fóssil.