Entrevista (II): “Queremos ser os grandes aceleradores da economia circular no setor das embalagens”
Nesta segunda parte da Grande Entrevista de Ana Isabel Trigo Morais, CEO da Sociedade Ponto Verde (SPV), à Ambiente Magazine, a gestora faz um balanço “muito positivo” de quase três décadas de existência da entidade em Portugal. E assume quais as grandes prioridades à frente da SPV. A entrevista foi publicada na íntegra na edição 106 da Ambiente Magazine.
Com 27 anos de existência, quase três décadas, que balanço é possível fazer da missão da Sociedade Ponto Verde em Portugal?
Fazemos um balanço muito positivo e orgulhamo-nos deste percurso que temos feito em prol da sustentabilidade do país já lá vão quase 30 anos. Somos definitivamente pioneiros na reciclagem de embalagens em Portugal. Em 1996, os portugueses não estavam sequer familiarizados com o termo reciclagem. Fizemos, e continuamos a fazer, um trabalho de educação ambiental em que ensinámos o que era a reciclagem e a separar corretamente os resíduos de embalagens e ajudámos a construir um Sistema Integrado de Gestão de Resíduos de Embalagem, inexistente até então.
De lá para cá mantemos a responsabilidade de sermos líderes de mercado. Mais de 8.000 clientes confiam em nós. Mas, e o mais importante, em 27 anos contribuímos para a reciclagem de 10 milhões de toneladas de resíduos de embalagem. Sublinhamos ainda o investimento que temos feito em inovação, superior aos 16 milhões de euros e o impacto das nossas ações de sensibilização onde investimos 27 milhões de euros só nesta última licença (2017-2023).
Quais as suas grandes prioridades enquanto CEO da SPV para os próximos anos?
A minha grande prioridade é garantir que a Sociedade Ponto Verde continua a liderar o mercado com a melhor proposta de valor para os seus clientes, acelerando a modernização e a sustentabilidade de todo o ecossistema de grande consumo e reciclagem de embalagens.
A aposta na inovação é estratégica, promovendo a contínua parceria com a academias, empresas, start-ups, SGRU e municípios para a melhoria da eficiência de toda a cadeia de valor, da conceção de embalagens até à matéria-prima reciclada. Queremos ser os grandes aceleradores da economia circular no setor das embalagens.
Igualmente prioritário é reforçar o nosso investimento e atuação em educação e sensibilização ambiental junto dos cidadãos, contribuindo para mudança de comportamentos necessária para mais reciclagem de embalagens.
Lançaram também o ano passado, com a Universidade Nova de Lisboa, o programa Circular InNOVA(tion). Já está a decorrer? Está a corresponder às expectativas?
A 1ª edição do CIRCULAR inNOVA(tion) terminou em março deste ano. Trata-se de um programa de ideação e empreendedorismo, desenvolvido em parceria com a NOVA, com o objetivo de estimular a criatividade de forma a responder a desafios específicos, identificados pela SPV no âmbito da nossa atividade. Desafios relacionados com a gestão de resíduos de embalagens como a necessária melhoria e conveniência do serviço ao cidadão.
Recebemos 63 inscrições na fase de candidaturas, que se iniciou em julho de 2023 e terminou em novembro de 2023, o que nos deixou bastante satisfeitos para uma primeira edição do programa. O programa passou por um Bootcamp de ideação com a duração de uma semana, de onde foram selecionados quatro projetos, cujas equipas receberam um fundo de 1000€ para desenvolver o seu protótipo/ideia.
O projeto vencedor “Resíduos na Linha” recebeu um prémio de 5.000€ para desenvolver sensores que possam ser incorporados nos contentores de recolha seletiva para medir quer o peso quer o volume dos resíduos depositados, uma medida que temos vindo a defender como bastante benéfica para melhorar o nível de serviço aos cidadãos, bem como, um sistema RFID para facilitar a implementação de um sistema PAYT.
Qual a estratégia de inovação implementada pela SPV?
A inovação é um pilar fundamental para a Sociedade Ponto Verde, está no nosso ADN, defendemos a sua necessidade e faz parte do nosso plano de ação. Estamos a redesenhar o nosso papel de inovação, desde a visão, missão e toda a estratégia, numa abordagem de ecossistema dinâmico e em constante crescimento. Chamamos-lhe Inovação com Propósito, a liderar o futuro e a impactar a transformação do consumo e da valorização de embalagens como recursos económicos e ambientais.
Um exemplo deste posicionamento é o desenvolvimento de iniciativas como o Re_Source, um programa de inovação colaborativa lançado em 2021 com a parceria da Beta-i e que vai já na sua terceira edição. Dirigido a empreendedores e inovadores, desafiamos start-ups de todo o mundo a juntarem-se a grandes empresas e organizações nacionais para encontrarem soluções para questões concretas que possam aumentar a circularidade das embalagens, trazer mais conveniência e acessibilidade aos cidadãos, e contribuir para a desejada transição digital do setor.
Está criado um verdadeiro ecossistema colaborativo para mais e melhor reciclagem de embalagens, do qual resultaram já 39 parceiros, 403 candidaturas de 49 países e 20 projetos-piloto que acrescentam inovação e valor ao setor dos resíduos.
O Ponto Verde Lab é outra referência em matéria de inovação estimulada e promovida pela Sociedade Ponto Verde. Trata-se de um hub de inovação online onde reunimos informação para promover a valorização dos materiais, incentivar a economia circular e aumentar a reciclagem de embalagens, disponibilizando conteúdos e materiais técnicos sobre temas como a prevenção de resíduos e o ecodesign. Para além disso, apoiamos projetos de I&D para fomentar o desenvolvimento de ideias, estratégias e processos de reciclagem de embalagens, em prol de um futuro mais sustentável. No total, 120 entidades já inovaram connosco através do Ponto Verde Lab e apoiamos 63 projetos concretos, o que representa um investimento superior a 15 milhões de euros.
De que forma tem vindo a SPV a fomentar e apoiar a implementação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)?
A estratégia de sustentabilidade da Sociedade Ponto Verde está interligada com quatro ODS principais. O ODS 9, Indústria, Inovação e Infraestruturas, o ODS 11, Cidades e Comunidades sustentáveis, o ODS 12, Produção e Consumo Sustentáveis, e o ODS 17, Parcerias para a implementação dos Objetivos.
A nossa atividade tem um papel muito particular em estimular a economia circular no que às embalagens diz respeito. Promovemos a inovação necessária à modernização da indústria do setor, através das novas tecnologias. Uma ação que tem impacto no bem-estar das cidades, que precisam de tratar os seus resíduos através da reciclagem, mas também na produção de embalagens mais sustentáveis.
Desenvolvemos um trabalho de comunicação e informação essencial para estimular a produção e consumo sustentáveis. Junto dos nossos clientes estimulamos a adoção de estratégias de design sustentável, a par de uma comunicação transparente e correta evitando alegações ambientais falsas. Junto dos cidadãos estamos continuamente a incentivar a participação no processo de reciclagem de embalagens.
Todo este trabalho só pode ser realizado se devidamente ancorado em parcerias essenciais a um processo que se quer cada vez mais colaborativo, de que são exemplo os programas que aqui referimos: o Re-source e o Circular InNOVA(tion).
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