A Ambiente Magazine esteve à conversa com o presidente do Conselho de Administração da Águas do Algarve, SA, António Eusébio. Criada em agosto de 2000 para ser concessionária dos 16 concelhos da região, a empresa serve 450 mil habitantes em época baixa e perto de um milhão e meio em época alta, nas áreas de tratamento e distribuição de água, bem como no tratamento dos efluentes domésticos. Numa altura em que tanto se fala de seca no país, e nesta região, quisemos ouvir o que tem a dizer o gestor da Águas do Algarve e que investimentos tem em curso. António Eusébio garante que a Águas do Algarve veio elevar o padrão de qualidade no abastecimento de água para consumo e contribui para munir o Algarve de um sistema seguro, promovendo a qualidade ambiental. Leia aqui a 1ª Parte desta Grande Entrevista.
Desde quando lidera a Águas do Algarve?
Sou Presidente do Conselho de Administração da Empresa, desde o ano 2021, tendo sido previamente administrador executivo, entre os anos 2018 e 2020.
Que competências lhe estão hoje atribuídas?
A empresa tem por objetivo principal o fornecimento de água potável em quantidade e qualidade durante todo o ano, bem como munir a Região algarvia com um sistema seguro, do ponto de vista da saúde pública dos cidadãos, melhorando os níveis de atendimento e promovendo a qualidade ambiental, designadamente a qualidade da água das praias e rios do Algarve, que são fator essencial para o bem-estar da população e para o desenvolvimento económico e turístico da Região.
Como Presidente do Conselho de Administração, considero que a nossa ação necessita de uma liderança estratégica para guiar a empresa e cumprir aos seus objetivos, uma comunicação eficaz para alinhar as partes interessadas e tomar decisões complexas, promovendo uma cultura de governança corporativa sólida e transparente. Além disso, é crucial uma boa colaboração e articulação com outros membros do Conselho, da Holding, do nosso Concedente, dos municípios e demais parceiros, para impulsionar o crescimento e o sucesso da empresa, especialmente numa fase tão exigente como esta que estamos a passar.
Quais os municípios que abrange?
O Sistema, em Alta, abrange os 16 municípios da região Algarvia.
Quais têm sido os principais desafios da Águas do Algarve ao longo do seu percurso?
A Águas do Algarve, ao longo dos anos, tem vindo a efetuar um avultado investimento na região, nomeadamente no Sistema Multimunicipal de Abastecimento de água e de Saneamento do Algarve, da ordem dos 800 milhões de euros, sendo este Sistema um dos investimentos mais importantes dos últimos anos no Algarve. Este sistema, tem como objetivo munir a região do Algarve com um sistema seguro, do ponto de vista da saúde pública dos cidadãos, melhorando os níveis de atendimento e promovendo a qualidade ambiental, designadamente a qualidade da água das praias, e rios do Algarve, que são fator essencial para o bem-estar da população e para o desenvolvimento económico e turístico da região.
Mais recentemente, e devido aos efeitos das alterações climáticas, nomeadamente à redução do regime pluviométrico que se faz sentir na região, a Águas do Algarve tem vindo a executar um programa de investimentos para responder à situação estrutural de escassez de água da região algarvia. Neste âmbito, estão em curso investimentos que integram o Plano Regional de Eficiência Hídrica do Algarve (PREHA), financiado a 100% pelo Programa de Recuperação e Resiliência (PRR) e que vai permitir reforçar as disponibilidades hídricas da região em 69 hm3 até 2026. Além destes investimentos, há vários anos que temos vindo a executar soluções estruturais que visam reforçar o sistema e as disponibilidades hídricas na região para consumo humano, como são disso exemplo, a construção da Grande Reserva do Barlavento executada em 2021, a captação do volume morto das barragens da Bravura e de Odeleite executadas em 2022 e 2023 respetivamente, bem como, a Reabilitação de captações subterrâneas.
A Águas do Algarve é uma empresa que aposta na inovação, tendo em curso investimentos em todo o sistema multimunicipal de saneamento de toda a região, com soluções inovadoras no tratamento, transformando os subprodutos do tratamento em recursos, em especial através da valorização de águas residuais tratadas para reutilização em usos compatíveis como regas agrícolas, de espaços verdes ou campos de golfe, lavagens de viaturas e equipamentos e no tratamento e secagem de lamas de ETAR, entre outros.
Ainda, e como complemento, a consciencialização e educação ambiental, são essenciais para envolver a comunidade na adoção de práticas sustentáveis, como é o caso das campanhas informativas sobre a importância da conservação da água e do uso eficiente dos recursos, apresentando causas e impactos das alterações climáticas. É o caso da campanha que a Águas do Algarve tem em mãos neste momento, intitulada de Água é vida, não a desperdice, junto dos diferentes utilizadores de água, em articulação com outras entidades nacionais e regionais e com o financiamento do Fundo Ambiental do Ministério do Ambiente e Ação Climática.
O problema da seca e da falta de água no Algarve não é de hoje. Mas o Governo colocou recentemente a região em estado de alerta devido à seca. O que levou a este agravamento e qual a situação atual?
Como é do conhecimento geral, o sul de Portugal tem registado um aumento da frequência e severidade de períodos de seca e de escassez de água nas últimas décadas, causando um dos impactos mais significativos das alterações climáticas no nosso país.
O Algarve é uma das regiões do país onde este desafio exige uma resposta urgente e uma abordagem integrada e multissetorial, que permita conciliar o desenvolvimento económico, a qualidade de vida e os interesses dos diferentes utilizadores, garantindo uma gestão sustentável da água.
Que medidas podem e devem ser aplicadas para atenuar este problema no Algarve?
A Águas do Algarve, é responsável pelo abastecimento urbano em alta aos 16 Municípios da região do Algarve, e pelo tratamento das Águas Residuais urbanos, sendo que as medidas já estão atrás referenciadas.
De que forma procura a Águas do Algarve contribuir para que a situação possa melhorar? Qual está a ser o seu contributo?
Além do que já foi referido, após 24 anos de existência da empresa, continuamos a trabalhar na melhoria dos nossos sistemas, tornando-os mais resilientes e mais robustos. Exemplos disso são os projetos de reforço da Interligação Barlavento Sotavento, da Captação dos Volumes mortos das nossas Barragens, da Captação de água no rio Guadiana e da Dessalinizadora, bem como, o trabalho que está a ser desenvolvido para potenciar o uso de Água Reutilizada, nomeadamente para rega de campos de golfe, Agricultura e Espaços Verdes, lavagem de ruas, entre outras, soluções que permitirão poupanças na ordem dos oito milhões de m3 até 2025.