Energia deve estar no centro da cooperação entre União Europeia e África
A energia deve ocupar um papel central na cooperação entre União Europeia e África, pois o continente africano só se desenvolverá quando a África subsaariana tiver um acesso amplo à eletricidade, defende um investigador da Bruegel. Em declarações à Lusa, em vésperas da 5ª cimeira UE-África, Simone Tagliapietra, analista da Bruegel, um dos mais conceituados think tanks (grupos de reflexão) de Bruxelas, especializado em assuntos económicos, considera que os continentes europeu e africano devem aproveitar na reunião de Abidjan de 29 e 30 de novembro a boa dinâmica atual em matéria de sensibilização para a necessidade de cooperação energética.
“Esta cimeira UE-África tem lugar depois das reuniões deste ano do G7 (em maio, em Itália) e do G20 (em julho, na Alemanha), que puseram um grande ênfase em África e nas relações energéticas. Era bom que a reunião de Abidjan se baseasse nestas duas experiências recentes para fazer avançar o que já foi discutido”, defendeu o investigador.
Apontando que a estratégia da União Europeia para África assenta em potenciar o desenvolvimento do continente africano, não só no interesse dos africanos mas também no seu próprio interesse, “pois a única forma de os fluxos migratórios deixarem de ser um problema estrutural é através do desenvolvimento de África”, este analista sublinha que tal passa acima de tudo por um investimento da UE que ajude África a ter uma verdadeira rede de energias limpas.
“Sem eletricidade não há desenvolvimento económico ou social”, adverte, apontando que é isso que se passa em pleno século XXI na África subsaariana (já que o cenário é diferente no Magrebe, pois os países do norte do continente estão totalmente eletrificados e estão a apostar nas energias renováveis, até como forma de potenciar as suas exportações para a Europa.
Na África subsaariana, todavia, “duas em cada três pessoas não têm acesso a eletricidade” e cada ano há cerca de 600 mil mortes prematuras causadas por poluição do ar em locais fechados resultante da utilização de combustíveis poluentes para a iluminação e cozinha, aponta.
Dada a magnitude deste problema, que constitui um verdadeiro entrave ao desenvolvimento económico e social de África no seu todo, é necessário um esforço conjunto que envolva os países da África subsaariana e investidores internacionais, públicos e privados, sustenta Tagliapietra, que reconhece todavia ser necessário proporcionar um ambiente que atraia investidores estrangeiros.
“Claro que é necessária estabilidade política e um quadro legal transparente. A corrupção, a falta de um quadro regulador energético e as distorções de mercado são entraves e são problemas que só podem ser resolvidos pelos governos africanos. Se não o fizerem, o investimento não pode chegar”, diz.
Quanto à UE, aconselha-a a ser mais ativa e coordenada, até porque é esse o caso dos Estados Unidos e da China, que coordenam os respetivos esforços de investimento em África “de uma forma muito mais coerente”. “As instituições europeias deviam fazer mais para coordenar a ação da UE neste campo, porque há várias ferramentas financeiras paralelas, temos muitas iniciativas e ainda há as diversas políticas bilaterais dos Estados-membros, pelo que é tudo muito fragmentado. Podemos fazer melhor na coordenação”, sustenta, considerando que a cimeira de Abidjan é uma excelente oportunidade para avançar nesta matéria.