“Um Grito pela Água!”. Este é o mote do ENEG 2023 (Encontro Nacional de Entidades Gestoras de Água e Saneamento), que vai decorrer entre os dias 27 e 30 de novembro, no Multiusos de Gondomar. À Ambiente Magazine, Frederico Martins Fernandes, presidente da Comissão Organizadora, relembra a importância de encontros como o ENEG para o setor da água, fazendo um balanço muito positivo da adesão no número de expositores.
Que mensagem querem transmitir?
Creio que o mote é bastante elucidativo da mensagem desta edição. Existe uma preocupação muito grande com os desafios que o setor irá enfrentar. De uma forma muito breve, as entidades gestoras de água terão de estar preparadas para uma regulação e legislação cada vez mais rigorosas, para fenómenos climáticos extremos, para uma digitalização inevitável, para combater o envelhecimento das infraestruturas, e para lidar com consumidores cada vez mais exigentes. Por outro lado, e para além dos problemas estruturais que ainda subsistem e que comprometem a eficiência e resiliência dos sistemas, o setor tem vindo a reclamar mais atenção e a alertar para uma necessidade premente de investimento, face à tendência menos favorável que alguns dos seus principais indicadores têm vindo a revelar.
Que balanço já é possível fazer sobre os expositores, oradores e conferências?
Apesar de ainda estarmos a cerca de dois meses do evento, os números são muito animadores. A exposição está praticamente toda preenchida e temos assegurada a presença de mais de 100 empresas e organizações no espaço delineado para o efeito. No que respeita às sete mesas-redondas, os oradores convidados estão praticamente todos confirmados e a sua divulgação será feita em breve. Relativamente às comunicações, registamos com agrado um número recorde de resumos submetidos e que estão neste momento a ser avaliados pela Comissão Científica, o que nos deixou com ótimas perspetivas da participação e qualidade da discussão que estas salas irão ter.
Que novidades já podem ser reveladas acerca desta edição?
Destacaria, até ao momento, a estrutura do próprio evento e a organização dos espaços à volta dos principais eixos do setor. Primeiro, a definição dos temas das mesas-redondas à volta daquilo que são os principais desafios do setor como a eficiência dos sistemas, a importância da gestão de ativos, a exigência das novas diretivas europeias, a dificuldade em atrair e reter pessoas, as soluções à volta da economia circular como resposta às alterações climáticas, a afirmação do setor perante a sociedade, e a necessidade de encontrar um financiamento adequado para todos estes desafios.
Também nas salas onde irão decorrer as comunicações foi delineada uma organização em torno dos 4 “P”s da sustentabilidade – Purpose, Profit, People e Planet – procurando agregar as diferentes temáticas do setor em torno de salas específicas, esperando que, com isso, possa ser criar uma maior dinâmica e networking entre os profissionais do setor que irão ocupar estes palcos.
O ENEG já ocupa o lugar de destaque enquanto maior Congresso Nacional do Abastecimento de Água e Saneamento em Portugal? Porquê?
Creio que a principal causa reside na própria APDA. Primeiro, pelo papel que assumiu no setor ao longo das últimas décadas, que lhe proporcionou o lugar de maior associação do setor. E segundo, pela dinâmica da sua atividade, levada a cabo pelas diferentes Comissões Especializadas ao longo do ano, que lhe permite promover uma série de eventos – desde conferências, workshops, webinars e publicações – onde o espaço de discussão propicia a ampla divulgação de boas práticas, que depois procuram no ENEG uma maior amplificação perante uma audiência ainda maior.
De que forma é que se querem diferenciar dos outros eventos sobre a Água?
Desde logo, pela natureza transversal do evento, que agrega diversos fóruns de discussão com a presença de algumas das principais personalidades do setor, um conjunto de comunicações de caráter mais científico, e a maior feira (exposição) do setor onde se apresentam soluções de interesse para o dia-a-dias das operações das entidades gestoras. Aliás, este lado mais técnico está bem presente no Pipe Contest que, desde a sua primeira edição em 2003, tem vindo a trazer diferentes equipas operacionais que competem entre si na montagem de ramais em carga. Para além de tudo isto, o evento conta ainda com alguns momentos mais sociais, como o jantar e gala onde são divulgados os Prémios APDA – Tubos de Ouro, que, a partir desta edição do ENEG, passa a integrar uma nova categoria – o Prémio Carreira, bem como os vencedores do Pipe Contest. De ressalvar também as visitas técnicas e culturais que ocorrem no último dia do evento, permitindo conhecer alguns dos principais pontos de interesse da região, dentro e fora do setor da água.
Enquanto Comissão Organizadora do ENEG 2023, qual a vossa missão com este Encontro?
Refere bem a palavra “missão”, já que integrar uma comissão organizadora de um evento desta dimensão e um histórico de sucesso reconhecido é, por si só, um desafio de enorme responsabilidade. O barómetro final será a capacidade de corresponder ou ultrapassar as expectativas de todos aqueles que vierem a Gondomar este ano. Mas, para além desse “resultado final”, a Comissão Organizadora propôs-se a criar alguns objetivos na edição deste ano, como, por exemplo, a atenção para a sustentabilidade do evento e a capacidade de trazer mais jovens profissionais ao ENEG deste ano. E depois, há uma enorme vontade de conseguirmos dar o máximo eco possível deste “grito pela água” e de todas as discussões levadas a cabo no evento.
Qual é a importância de debater constantemente o tema “Água”?
É mais do que importante. É imperativo e inadiável. Basta estar atento aos problemas que o país tem vindo atravessar, de forma cada vez mais evidente. Notícias com situações de escassez de água, de inundações severas, ou de fenómenos de poluição dos meios hídricos, vieram para ficar e irão agravar-se se não houver uma mobilização de todos os stakeholders da “Água”. E depois há um debate que se deve estender à própria sociedade civil sobre o valor da água, já que insistentemente este é apenas visto pela perspetiva da tarifa, e não pelo lado do valor do recurso hídrico que cada vez está mais ameaçado.
Desde o primeiro ENEG, notam-se evoluções no que ao setor da água diz respeito? Quais, por exemplo?
Muito mudou desde a primeira edição do ENEG no atual formato, em 2001. O país conheceu uma evolução a duas velocidades, com um conjunto de entidades, públicas e privadas, que se profissionalizaram e asseguraram um forte investimento nos sistemas, que, por sua vez, se traduziram numa melhoria substancial dos indicadores de gestão associados ao abastecimento de água e à gestão de águas residuais. Mas, ao mesmo tempo, uma parte significativa do país ficou para trás em matéria de eficiência hídrica e hoje apresenta situações de uma fragilidade indisfarçável, que se tornam ainda mais preocupantes perante o contexto climático que se avizinha.
Quais são as expectativas para o ENEG 2023?
Existem várias métricas e indicadores que podem ser utilizadas na avaliação de um evento deste tipo. Mas creio que o principal indicador de sucesso será a capacidade de inspiração do evento a quem estiver presente. Uma inspiração que motive para fazer mais e melhor nas suas organizações, que robusteça o orgulho de quem trabalha diariamente neste serviço público essencial, e que fomente a criação de novos “embaixadores da Água”, que o setor tanto precisa.
*Esta entrevista foi publicada na edição 102 da Ambiente Magazine