#ENEG2021: Os feitos do passado impactam a inovação no futuro?
“A máquina do tempo – visão do setor em 2050”: este foi o tema de mais uma Mesa Redonda promovida na edição 2021 do ENEG (Encontro Nacional de Entidades Gestoras de Água e Saneamento). O desafio proposto aos oradores foi viajarem até 2050 e partilharem como é que a inovação irá ou não transformar o mundo.
No caso do setor da água, Pedro Fontes, diretor de Inovação e Desenvolvimento da EPAL, foi questionado sobre quais foram os pilares desenvolvidos ao longo dos anos e de que forma é que as entidades gestoras têm acompanhado a inovação e a evolução desses mesmos pilares.Para responder à pergunta, o responsável optou por recuar até 1949 para depois questionar se o setor tem realmente novos pilares. Nesse ano, a EPAL fez um estudo para se perceber como seria feito o abastecimento à cidade de Lisboa e que incluía uma análise aos “ganhos e perdas do ponto de vista energético”, isto é, da água ser captada a jusante de Castelo de Bode ou a montante. Dessa forma, o responsável, considera que a energia já era parte integrante dos estudos feitos na altura: “Aliás, as energias renováveis e gestão de ativos já cá estavam”. Este exemplo é a forma como Pedro Fontes vê o mundo da inovação, algo que apenas acontece “quando nos comparamos não com aquilo que achamos que conseguimos fazer, mas com aquilo que já foi feito”. Outro exemplo demonstrador partilhado pelo responsável é sobre uma citação de 1973 do francês Gilbert Degrémont: “As lamas de ETA são muito interessantes para aplicações na indústria cerâmica, no tratamento de águas residuais e tem um elevado potencial na agricultura. Nós andamos até 2020 para conseguir dar os primeiros passos nesse mundo”, afirma. Estes exemplos são a prova clara de que “não mudou grande coisa” nos pilares do setor da água: “Eles sempre foram os mesmos e a realidade é que os desafios também são os mesmos”. Agora, aquilo que poderia ter mudado, segundo o diretor de Inovação e Desenvolvimento da EPAL, “é o processo de inovação em si”.
Outra questão que Pedro Fontes quis trazer para cima da mesa são os projetos de inovação. E só há duas opções neste campo: “Ou continuamos a insistir numa lógica em que o setor corre o risco; ou então escolher projetos de forma seletiva”. E é esta última opção que o responsável considera ser a opção mais inteligente, sendo que há três considerações a ter em conta: “O projeto tem de permitir que eu consiga fazer um mapa de cash flow, tem de ter escalabilidade e tem de ser abraçada pela organização”. Apesar de serem projetos “difíceis de encontrar”, Pedro Fontes partilha a solução óbvia: “Para os encontrar, é ler para trás”, sucinta.
[blockquote style=”2″]Vamos estar em cidades mais verdes e com um mundo neutro em carbono[/blockquote]
No caso da Galp, a questão colocada foi: “Como é que uma empresa como a Galp sobreviveu à era em que se decidiu acabar com os combustíveis fósseis?”. Para esta resposta, Ana Casaca, global head of Innovation da Galp, começou por viajar até 2050, afirmando que, nesse ano, “vou ter um enorme orgulho do caminho que nós empresas tivemos e a coragem e a força sobre um desafio que marca a geração, que é vivermos num mundo da neutralidade carbónica”. Contudo, a responsável não deixa de reconhecer que, até ao ano 2050, serão muitas as “decisões difíceis a tomar” e que vão implicar uma série de inovações e uma capacidade gigante de se abraçar a tecnologia: “Sou uma otimista com o papel que a tecnologia vai ter nos próximos anos”.
Mas, para falar de todo o processo de evolução, Ana Casaca recua até ao final do século XIX, lembrando que as “diferenças” na mobilidade e os desafios para a saúde pública, exemplificando com Londres, onde se viam 50 mil cavalos a passear pela cidade ou com Nova Iorque, onde se viam 10 mil cavalos: “Na altura, a tecnologia lançou o primeiro motor elétrico – (o primeiro motor foi elétrico) e, apesar de já existir tecnologia, não tinha escalabilidade porque as baterias não eram sustentáveis”. Foi então que surgiu o petróleo e, com ele, aparece a gasolina e o gasóleo: “Era a tecnologia mais barata, mais acessível e mais democratizada e logo mais escalável a nível mundial”. Hoje, “99% do parque automóvel é não elétrico”, refere. E como será em 2050? A responsável não tem dúvidas de que as próximas décadas vão chamar-se de “décadas do eletrão e da molécula verde e limpa”, sendo algo de “excecional para quem trabalha na inovação” e para “as empresas com a dimensão da GALP”. E apesar de ainda não existirem certezas sobre quais as tecnologias e soluções que vão singrar no futuro, Ana Casaca acredita que serão “trabalhadas com os cidadãos” e em “profunda parceria com as empresas concorrentes e com a academia”. É desta forma que, no que a 2050 diz respeito, a responsável está muito otimista: “Vamos estar em cidades mais verdes e com um mundo neutro em carbono”.
Quem também parece concordar com o verdadeiro e vantajoso impacto da tecnologia no mundo, é Bruno Horta Soares, leading Executive Advisor da IDC Portugal: “Em 2050, a tecnologia será menos visível, porque estará na interação de tudo”. E atualmente, uma grande mais-valia da tecnologia é incentivar as comunidades a pensar em ecossistema: “A tecnologia não é um fator para estarmos desligados, mas sim de estarmos unidos”. E quando o assunto é a descarbonização ou ter um mundo mais sustentável, o responsável não tem dúvidas de que é a inovação que vai tornar o planeta melhor: “Nós vamos criar tanta inovação para o bem da sociedade, que será o digital. É pela capacidade de termos consciência dos impactos de medir, otimizar e reduzir o desperdício que o vamos fazer”. Isto não será através ou apenas das “mentes dos cidadãos”, mas também com “aquilo que será tecnologia a aumentar o nosso potencial”, sucinta.
O Tivoli Marina Vilamoura – Centro de Congressos do Algarve foi palco da edição 2021 do ENEG. O evento é organizado bienalmente pela APDA (Associação Portuguesa de Distribuição e Drenagem de Águas)) e nesta edição, entre participantes e expositores, foram registados 988 credenciados.