Empresas que liderarem a ação climática podem ter um impacto maior e obter vantagens competitivas, revela estudo
A preocupação com a adoção de medidas de combate às alterações climáticas está a ganhar destaque e traz benefícios às empresas que liderem este tema nos seus setores. A conclusão é de um novo estudo publicado pela Boston Consulting Group (BCG) em colaboração com o World Economic Forum, intitulado Winning the Race to Net Zero: The CEO Guide to Climate Advantage.
Após anos de ações inadequadas no combate à ameaça das alterações climáticas, entidades de todos os setores estão cada vez mais cientes e preparadas para este desafio. Atualmente, segundo o relatório, são 92 os países que já assumiram compromissos para atingir a neutralidade carbónica, sendo que estes representam 78% das emissões globais de CO2. Em 2019, eram apenas 29 países, que representavam 10% das emissões globais. Também a nível organizacional estes compromissos estão em crescimento e mais de duas mil empresas, em todo o mundo, estabelecerem objetivos validados pela iniciativa Science Based Targets (SBTi), contra as 116 registadas em 2015, o que representa um crescimento de 65% por ano.
O relatório realça que, apesar de ser um desafio, esta transição é também uma oportunidade sem precedentes para as empresas ganharem vantagens competitivas. Com base em dados quantitativos e qualitativos, incluindo entrevistas com CEOs e altos executivos de empresas líderes em todas as regiões e indústrias, o relatório mostra benefícios em diversas áreas. Em primeiro lugar, na atração e retenção de talento, já que metade das pessoas que procuram emprego atualmente dão prioridade à sustentabilidade. A nível de negócio, o estudo mostra que as empresas com alternativas verdes crescem até mais 25p.p. do que as que oferecem produtos tradicionais.
O relatório revela ainda que é possível que quase todas as empresas reduzam, pelo menos, um terço das emissões exigidas sem custos líquidos para o seu negócio.
Algumas organizações conseguem até descarbonizar quase totalmente sem estes custos (uma média de 50% de redução de emissões sem custos líquidos em setores- chave). Existe ainda uma redução da exposição ao risco, com uma melhoria entre 2 a 12p.p. na margem de EBIT, devido à redução da obrigação fiscal de carbono, e um acesso a financiamento mais acessível, através da redução do custo médio de capital de 100bp para os líderes em sustentabilidade. Por último, estas organizações têm também um retorno aos seus acionistas em média 3p.p. superior às restantes.
“A mudança está a acontecer muito mais rapidamente do que a maioria das pessoas e das empresas se apercebem. Por exemplo, as previsões para a capacidade solar fotovoltaica em 2030 aumentaram num fator de 36 entre 2002 e 2020, enquanto os custos unitários previstos caíram num fator de três. As empresas que subestimam o ritmo e a magnitude de mudanças como estas, correm o risco de subestimar o impacto que a transformação climática pode ter nos modelos de negócio, produtos, e valor da empresa”, disse Patrick Herhold, managing director e partner do Centro para o Clima e Sustentabilidade da BCG.
O relatório constatou ainda que o maior progresso nos últimos anos advém de uma ação competitiva, desencadeada por uma única empresa que avança à frente do seu setor, e não de uma ação coletiva. As empresas pioneiras elevam a fasquia para as suas indústrias, reformulam o seu contexto de mercado, criam disrupção nos modelos de negócio, mostram que a redução de emissões pode funcionar economicamente, proporcionam aos clientes uma escolha sustentável e forçam o mercado a segui-los.
O setor automóvel oferece exemplos desta realidade: a Tesla introduziu o primeiro veículo 100% elétrico produzido em massa em 2008, quando esta tecnologia era ainda amplamente vista com ceticismo. Mais tarde, em 2019, a Mercedes-Benz tornou-se no primeiro grande incumbente a estabelecer a ambição de ter uma frota de veículos neutra em carbono até 2039. Hoje, apenas três anos depois, não apenas surgiram novos fabricantes da indústria automóvel totalmente elétricos, mas praticamente todas as grandes fabricantes estabeleceram metas ambiciosas de eletrificação e muitas delas planeiam encerrar totalmente as vendas de motores de combustão interna na próxima década ou duas. As empresas pioneiras não estão apenas a criar mais valor, mas também a mudar as regras do “jogo”, à medida que obrigam outras empresas a segui-las.
“A liderança pelo setor privado é fundamental para acelerar a ação climática em conjunto com medidas arrojadas tomadas pelos líderes governamentais. Estamos a assistir a um novo impulso. A COP26 colocou as questões climáticas no centro das atenções a nível mundial, com compromissos significativos a serem assumidos. Na agenda de Davos 2022, esperamos que os líderes empresariais continuem a aumentar os seus compromissos, reconheçam os riscos climáticos emergentes como fundamentais para a sua atividade e traduzam os compromissos em transformação do negócio e em investimentos empresariais a curto prazo. Este relatório descreve como os líderes podem tornar-se sustentáveis e acelerar a ação de que necessitamos para proteger o planeta”, disse Antonia Gawel, Antonia Gawel, responsável pela Plataforma pela Ação Climátiva do World Economic Forum.