Em Portugal, 70% das empresas afirmam ter um plano de transição que está alinhado com o target dos 1,5 graus. Mas apenas 6% das empresas têm um plano de ação avançado. Quando comparado com a meta europeia, o nosso país está mais bem posicionado: 50% das empresas europeias afirmam ter um plano de transição climática e só 5% tem um plano de ação avançado.
As conclusões apresentadas esta terça-feira, 20 de junho, em conferência de imprensa, fazem parte do Relatório CDP Europa 2023 da Oliver Wyman, que avalia os planos de transição climática e de descarbonização de 29 países da Europa, incluindo Portugal.
De acordo com Joana Freixa, Principal da Oliver Wyman, os países escandinavos são os que se destacam, com uma maior percentagem de empresas com planos de transição considerados avançados: “Já Espanha (1%) e Itália (0%), têm realmente uma percentagem inferior de empresas com planos de transição avançados”.
Tendo em conta a dimensão de estratégia de execução, o relatório demonstra que Portugal apresenta progressos positivos, quando comparado com a média europeia: “93% das empresas portuguesas implementam iniciativas de redução de emissões”. O estudo demonstra que 80% das empresas de origem portuguesa oferecem produtos/serviços com baixas emissões: contrário do resto da Europa, onde esta média se situa nos dois terços: “Contudo, existem diferenças significativas entre setores (40% dos produtores de alimentos, bebida e tabaco e mais de 90% das empresas de eletricidade oferecem aos seus clientes energia com baixas emissões de CO2)”. Aproximadamente, “1/4 das empresas europeias (1/3 das empresas portuguesas) são capazes de avaliar o alinhamento das suas despesas (OPEX e CAPEX) e receitas com o seu plano de transição a 1,5 graus”, nota ainda Joana Freixa.
No compromisso com a cadeia de valor, a responsável adianta que “60% das empresas portuguesas colaboraram com a sua cadeia de valor de forma holística” (fases antes e depois da sua atividade) em questões climáticas, “um valor inferior quando comparado com a média europeia (73%)”. O âmbito e a profundidade desse compromisso são muitas vezes limitados: “50% das empresas em Portugal integram componentes relacionadas com o clima nos contratos com fornecedores vs. um pouco mais de 1/3 das empresas europeias”.
Nas métricas e objetivos, Joana Freixa refere que “1/3 das empresas portuguesas definiram objetivos para o Scope 3 abaixo de dois graus”, um valor que está em linha com média europeia, mas abaixo do Países Escandinavos e superior à Europa Ocidental e Europa do Sul.
“100% (das empresas portuguesas) incluem especialistas em clima no seu Conselho de Administração”
Na Governança, o relatório também traz dados muito positivos quanto ao tecido empresarial português: “Encontram-se nos vários âmbitos de análise acima da média europeia no que diz respeito à forma de como integram as considerações climáticas nos interesses de governança”. Das empresas portuguesas analisadas neste estudo, 100% dizem monitorizar a transição climática ao nível do Conselho de Administração e também a totalidade inclui especialistas em clima no seu Conselho de Administração: “Um valor positivo e superior ao da média europeia, que ronda os 79%”.
Só 54% das empresas europeias integram indicadores climáticos na remuneração de executivos seniores, quando em Portugal essa percentagem ronda os 72%: “As empresas portuguesas encontram-se acima da média europeia”, precisa a responsável.
Apesar de ser também notória a ação cada vez mais forte sobre a natureza, Joana Freixa refere que ainda são poucas as empresas europeias (e portuguesas) que estão a incorporar todos estes temas dentro dos seus planos de transição.
Banca com objetivos de descarbonização para os diferentes setores
O Relatório CDP Europa 2023 da Oliver Wyman envolveu 1500 empresas europeias, incluindo 20 portuguesas, todas representando os principais setores da economia.
Esta análise dá ênfase ao facto de existir um grau de progresso diferente por setor: “As empresas que operam no setor de eletricidade apresentam uma melhor maturidade média, quando comparadas com outras que operam noutros setores, como a alimentação, a agricultura ou os metais”, refere Joana Freixa, acrescentando que a energia é um setor pioneiro porque é onde existe um “maior foco na transição energética, mais tecnologia, mais apoio de políticas públicas que têm vindo a acelerar a energia renovável e um claro apoio financeiro”.
Apesar do foco não se situar no setor bancário, o relatório demonstra que este ramo de atividade tem definidos objetivos de descarbonização para os diferentes setores: “É um desafio (para este setor), no sentido de como podem acompanhar as empresas que têm progressos limitados no que se refere à transição energética”, remata Joana Freixa.