Empresas mundiais que mais consomem floresta não divulgam dados sobre o seu impacto
A grande maioria das empresas do mundo que mais consomem floresta não divulga os dados sobre esse impacto e das que os divulgam 24% pouco ou nada fazem para reduzir a desflorestação. Os dados fazem parte de um relatório hoje divulgado pela organização ambientalista Carbon Disclosure Project (CDP, com sede no Reino Unido), que tem como objetivo levar empresas e governos a reduzir as emissões de gases com efeito de estufa, e proteger os recursos hídricos e florestais.
No relatório, a que a Lusa teve acesso, a CDP diz que 70% das mais de 1.500 empresas mundiais com maior impacto nas florestas “falhou na transparência” sobre os efeitos que têm na desflorestação mundial. Empresas como a IKEA, REWE Group, Auchan Holding, Oetker-Gruppe ou Parmalat estão no grupo das que não divulgaram dados no ano passado.
Das 306 que divulgaram os dados 24% mostrou não estar a fazer nada ou estar a fazer muito pouco para reduzir a desflorestação do planeta, acusa a CDP. A desflorestação global está a acontecer a uma escala de cinco milhões de hectares por ano, o equivalente a 15 campos de futebol por minuto.
Investidores e grandes organizações de compras pediram às mais de 1.500 empresas para divulgarem dados florestais no ano passado, mas a maioria ignorou o pedido, que incluía quatro medidas ligadas à floresta: a madeira, o óleo de palma, a pecuária e a soja.
A CDP afirma também no documento que mais de 350 empresas se recusaram a responder aos pedidos nos últimos três anos, entre elas a REWE Group (da Alemanha), a IKEA (Suécia), Parmalat (Itália) e Oetker-Gruppe (Alemanha). Neste grupo está ainda o gigante da agricultura Louis Dreyfus (Holanda) ou outro gigante da madeira e do óleo de palma, Rimbunan Hijau (Malásia). Todas são empresas que ou usam diretamente a madeira ou produtos que impulsionam o desmatamento, nota a organização ambientalista.
No documento, a organização refere que a transparência corporativa sobre as florestas é ainda menor do que sobre outras questões ambientais, como as alterações climáticas ou a segurança hídrica. E acontece, salienta, apesar dos “riscos significativos para os negócios advindos da desflorestação, da importância ecológica das florestas e do papel que elas devem desempenhar na solução do problema das alterações climáticas, além do aumento das preocupações ambientais entre investidores, compradores e consumidores”.
O diretor global para as florestas do CDP, Morgan Gillespy, afirmou, citado no documento que “o silêncio é ensurdecedor quando se trata da resposta corporativa à desflorestação”. “Durante demasiado tempo as corporações ignoraram os impactos das suas cadeias de fornecimento nas florestas do mundo e não levaram a sério os riscos que tal representa, tanto para os seus negócios, como para o mundo”, acrescentou Morgan Gillespy.
No relatório recorda-se que se vive tempos em que as preocupações ambientais estão “em alta” e que se exige das empresas medidas decisivas na proteção das florestas, que os consumidores cada vez querem mais saber se o que estão a comprar está a levar à destruição da Amazónia, a provocar a extinção dos orangotangos ou a impulsionar as alterações climáticas.
E deixa-se um aviso: as empresas que queiram manter a participação no mercado têm de estar atentas às reações dos clientes, dos investidores e dos consumidores, cada vez mais atentos ao consumo sustentável.
Das 306 empresas que divulgaram os dados em relação a 2018 cerca de um quarto admitiu que pouco estava a fazer para limitar o desmatamento e mais de um terço também não está a fazer nada com os fornecedores para reduzir a desflorestação.
Só um quarto das empresas relatou os riscos de perdas devido à desflorestação e quase um terço nem sequer incluiu questões relacionadas com a floresta nas suas avaliações de risco. O CDP adianta que cerca de 450 empresas e mais de 50 governos se comprometeram em acabar com a desflorestação até 2020, mas que muitas empresas já admitiram que o prazo não será cumprido.
No entanto, o relatório também “homenageia” algumas empresas que estão a liderar o processo, optando por ações de defesa do ambiente e envolvendo os fornecedores na proteção das florestas, dando dois bons exemplos: a gigante francesa dos produtos de beleza L’Oréal e a fabricante alemã Beiersdorf AG.