Empresa faliu e deixou químicos perigosos numa fábrica em Sintra
Mais de uma centena de bidões com vários produtos tóxicos, corrosivos e cancerígenos foram deixados, há cerca de nove anos no interior de um fábrica do setor agroquímico, em Sintra, noticia o jornal Público.
O sítio, em Manique de Cima, está completamente acessível, uma situação que representa “um perigo público”, admitiu o presidente da Câmara de Sintra, Basílio Horta, que no início do ano tinha mandado vedar o local e vai agora ordenar a remoção dos resíduos.
Os produtos em causa encontram-se nas antigas instalações da Herbex e Logofit, entre Linhó e Manique de Cima, acessíveis a partir da rua. A denúncia foi feita pelo jornal Cascais 24. No local estão mais de uma centena de bidões que contêm produtos inflamáveis, tóxicos e corrosivos, alguns cancerígenos, como atestam os avisos toxicológicos visíveis no local. Existe ainda amoníaco, vários ácidos e metanol.
O jornal Público contactou Rui Berkemeier, ativista da Zero e especialista em resíduos, que confirmou o caráter “altamente tóxico” destes produtos. Entre outros, destaca o molitano, um herbicida com toxidade elevada e semi-cancerígeno – “precursor de cancro” -, e fenol, um produto tóxico e cancerígeno, usado como matéria-prima no fabrico de químicos agrícolas.
Os bidões encontram-se inchados, oxidados e, nalguns casos, abertos, com produtos químicos libertados no ar e no solo. O local, para além de abandonado, encontra-se vandalizado com inúmeros graffiti o que denota a presença recente de pessoas nas instalações. Berkemeier destaca a “irresponsabilidade” desta situação, que coloca “em risco a saúde das pessoas”, e que vê como “um verdadeiro crime ambiental.”
Nestas instalações funcionou, entre 1987 e novembro de 2008, a Herbex Produtos Químicos SA, dedicada à produção de agroquímicos. Pedro Brito Correia, fundador e sócio maioritário da Herbex até agosto de 2005 – data em que vendeu as suas ações ao sócio José Manuel Saragga –, afirmou que os produtos existentes no local em 2005 “estavam devidamente embalados e em condições de serem comercializados com segurança.” Brito Correia justifica a não remoção dos produtos da fábrica pelo facto de serem “matérias-primas com valor comercial cujo destino só poderia ser decidido pelo administrador de insolvência.”
A Herbex entrou em insolvência em setembro de 2007 e desde então o terreno está ao abandono, segundo informou a GNR de Sintra numa denúncia feita à Agência Portuguesa do Ambiente em 2015, a que o jornal Público teve acesso. A Logofit, última empresa com sede registada nestas instalações e fundada em 2000 pelos mesmos sócios da Herbex, Pedro Brito Correia e José Manuel Saragga, foi liquidada em outubro de 2014, segundo dados do Cascais 24.