As emissões de gás com efeito de estufa (GEE), geradas pelas energias fósseis, mantiveram-se estáveis pelo terceiro ano consecutivo, um progresso inédito, mas, insuficiente para travar o aquecimento do planeta, concluiu um estudo hoje divulgado, e noticiado pela agência Lusa.
No ano passado, o total das emissões mundiais ligadas à indústria e à combustão de energias fósseis não aumentou e deverá registar uma pequena subida este ano (0.2%), considera o estudo, publicado na Earth System Science Data, à margem da conferência do clima, a decorrer em Marraquexe. Em 2014, a subida das emissões de GEE tinha sido de 0,7%, contra um aumento médio anual de 2,3% na década 2004-2013.
“Este terceiro ano quase sem aumento de emissões não tem precedentes em período de forte crescimento económico”, sublinha a autora principal, Corinne Le Quérè, da universidade britânica East Anglia. “Trata-se de uma contribuição essencial para a luta contra as alterações climáticas, mas não é suficiente”, acrescenta. “As emissões mundiais devem agora baixar rapidamente, e não apenas parar de crescer”.
Para limitar a menos de dois graus centígrados (2ºC) a subida média dos termómetros em relação aos níveis anteriores à Revolução Industrial – limiar crítico estabelecido pela comunidade internacional no final de 2015, em Paris – as emissões devem baixar, em média, 0,9% até 2030, lembra este estudo.
O mundo já emitiu os dois terços do que lhe é permitido, se quiser ficar abaixo deste limite de 2ºC. Ao ritmo atual, este “orçamento carvão” será consumido integralmente nos próximos 30 anos. “Se os negociadores conseguissem em Marraquexe acelerar a redução de emissões, daríamos um enorme passo na luta climática”, insiste Le Quéré.
Devido à inércia dos GEE, que perduram muito tempo, a sua concentração na atmosfera nunca foi tão elevada como no ano passado, sublinha o estudo. “Em 2015 e 2016, as florestas absorveram menos dióxido de carbono (CO2) devido ao calor, ligado nomeadamente ao fenómeno El Nino”, explica a cientista.
Os países emissores mostraram também situações muito diversas. A China, que emite 29% dos GEE, viu as emissões baixarem 0,7% em 2005. Os Estados Unidos, segundo emissor (15%), reduziram as suas emissões 2,6% em 2015, recorrendo ao gás e ao petróleo, mais do que ao carvão. As energias “eólica, solar e o gás continuam a substituir o carvão no consumo elétrico norte-americano”, nota Glen Peters, um dos coautores. Já a UE (10% das emissões globais) conheceu um aumento das emissões de 1,4% em 2015. A Índia continua a aumentar as emissões (5,2% no ano passado).
A comunidade internacional, que se reúne em Marraquexe até sexta-feira, tenta chegar a acordo sobre a aplicação do acordo de Paris contra as alterações climáticas, nomeadamente para reforçar os compromissos nacionais, até agora insuficientes.