Emissões de CO2 em alta após três anos de estabilidade
As emissões globais de gases com efeito de estufa provenientes dos combustíveis fósseis aumentaram este ano, após três anos de estabilidade, de acordo com um estudo publicado à margem da 23ª conferência sobre clima da ONU (COP23)
As emissões de CO2 da indústria e a combustão de combustíveis fósseis deverão crescer 2% este ano em relação a 2016 (entre 0,8% e 2,9%), atingindo um recorde de 36,8 mil milhões de toneladas, depois da estabilidade dos anos de 2014 a 2016, sublinha o Projeto Global de Carbono na sua 12.ª revisão anual, realizada por cientistas de todo o mundo.
“O mundo não alcançou seu ‘pico’ de emissões”, observam os autores do estudo, publicado nas revistas Nature Climate Change, Environmental Research Letters e Earth System Science Data. “Isso mostra que precisamos de agir com mais força, devemos esquecer a autossatisfação”, acrescentam. “Esta é uma grande deceção”, diz um dos autores, Corinne Le Quéré, da British University of East Anglia.
“Com 41 mil milhões de toneladas de CO2 emitidas estimadas para 2017 (se adicionarmos a deflorestação), corremos o risco de ficar sem tempo para manter a temperatura abaixo de 2 ° C, e em menos 1,5 ° C”, objetivo estabelecido pelo acordo de Paris aprovado no final de 2015 contra o aquecimento global. Para que tal aconteça, “as emissões devem crescer nos próximos anos e depois diminuir rapidamente”, lembra.
A China, que gera 28% desses gases com efeito estufa e melhorou a situação nos últimos anos, reduzindo o uso do carvão, é em grande parte responsável pela degradação de 2017, observam os investigadores. Isto deve-se a um ‘boom’ na produção industrial e produção hidroelétrica que tinha baixado devido aos episódios de seca.
Também nos Estados Unidos, as emissões deverão diminuir menos acentuadamente (-0,4%, em comparação com -1,2% na média anual). Esta é a primeira vez em cinco anos que o consumo de carvão aumentará (+ 0,5%), devido ao alto custo do gás natural.
A Índia vê as suas emissões crescerem um pouco menos (+ 2%), mas tal deve ser temporário, alertam os investigadores. Quanto à União Europeia (UE), as emissões estão a baixar mais lentamente do que na década anterior (-0,2%).
Os 10 maiores emissores são: China, Estados Unidos, Índia, Rússia, Japão, Alemanha, Irão, Arábia Saudita, Coreia do Sul e Canadá (a UE como um todo está na 3ª posição).
“Existem vários fatores que mostram que as emissões globais continuarão a aumentar em 2018”, disse Robert Jackson, da Universidade de Stanford.
No entanto, é pouco provável que recuperem as altas taxas de crescimento dos anos 2000 (mais de 3% anual), dizem os cientistas, que veem taxas bastante positivas ou mesmo estabilidade, de acordo com os compromissos nacionais assumidos nesta fase.
No período 2007-2016, 22 países viram as suas emissões diminuírem, apesar do crescimento económico. Por outro lado, elas cresceram em 101 países.
As energias renováveis estão a desenvolver-se de forma notável (+ 14% ao ano nos últimos cinco anos), mas levará “alguns anos para que tenham um impacto significativo nas emissões globais de CO2”, referem.
A comunidade internacional, reunida na COP23 em Bona até sexta-feira, está a tentar concertar as formas de aplicar o acordo de Paris, em particular para fortalecer os compromissos nacionais.