Emissões de CO2 da cadeia de abastecimento das empresas são 26 vezes superiores às emissões operacionais

As emissões de carbono das empresas com origem na cadeia de abastecimento (emissões de âmbito 3) foram, em média, 26 vezes superiores às emissões decorrentes de operações diretas (emissões de âmbito 1 e 2) em 2023, segundo o estudo “Scope 3 Upstream: Big challenges, simple remedies”, realizado pela Boston Consulting Group (BCG) em parceria com o Carbon Disclosure Project (CDP). Os setores da indústria transformadora, do retalho e dos materiais foram os que geraram mais emissões na cadeia de abastecimento, contando com uma pegada 1,4 vezes superior ao total de CO2 emitido na União Europeia em 2022.

As emissões decorrentes da cadeia de abastecimento são responsáveis pela maior parte dos gases poluentes emitidos pelas empresas, no entanto apenas 15% daquelas que divulgam informações ao CDP definiram objetivos concretos para mitigá-las. Além disso, a probabilidade de as organizações estabelecerem metas de mitigação para as emissões operacionais e de as calcularem é entre 2 e 2,4 vezes superior à de definirem objetivos de redução e de quantificarem as emissões da cadeia de abastecimento.

“De um modo geral, as empresas têm vindo a lançar a implementação de várias iniciativas de descarbonização para se alinharem com as metas nacionais e europeias. No entanto, as emissões dos seus fornecedores e da sua cadeia de abastecimento, que são tipicamente as maiores fontes de emissões para grande parte das empresas, ainda não são encaradas com a mesma preocupação que as emissões diretas ou operacionais, pelo que a maioria das organizações não tem desenvolvido estratégias sólidas e abrangentes de mitigação das mesmas”, afirma Carlos Elavai, Managing Director e Partner da BCG em Lisboa. “Para o conseguirem fazer, necessitam de avaliar toda a sua cadeia de abastecimento, definindo iniciativas realistas e eficientes em conjunto com os seus parceiros. As responsabilidades e os incentivos para atuar sobre as emissões de âmbito 3 recaem sobre as empresas, mas também sobre os investidores, e é urgente que haja uma quantificação destas emissões, exigências de reporte, fiscalização apertada e uma gestão eficaz dos riscos associados para evitar que uma parte relevante das emissões fique esquecida”.

As emissões com origem na cadeia de abastecimento implicam riscos financeiros para as empresas e para os investidores, sendo que, por exemplo, as emissões deste tipo divulgadas pelos setores da indústria transformadora, retalho e materiais em 2023 representam um passivo ambiental de mais de 335 mil milhões de dólares, o que condiciona a cadeia de abastecimento e pode afetar o desempenho das empresas. Porém, apenas metade das organizações que divulgam informações através do CDP avaliam os riscos financeiros destas emissões de âmbito 3 – sendo que destas, apenas um terço reconhece o risco que implicam para os lucros – e menos de um em cada dez investidores exige que as empresas investidas as divulguem como parte das políticas de avaliação de investimento.

Três fatores-chave para as empresas reduzirem as emissões da cadeia de abastecimento
  1. Implementação de um comité dedicado ao clima. As organizações devem implementar um órgão dedicado aos impactos ambientais da sua atividade, que recorra a consultores externos especializados e faça a análise financeira do risco associado às emissões da cadeia de abastecimento, em articulação com o conselho de administração. Assim, tornam-se mais resilientes na gestão de riscos associados ao clima, garantindo vantagens competitivas. As empresas que já instituíram um comité responsável pelo clima têm cinco vezes maior probabilidade de ter objetivos referentes às emissões de âmbito 3 e uma estratégia alinhada com as metas globais de descarbonização.
  2. Fomento do envolvimento dos fornecedores. A comunicação com os fornecedores e o seu envolvimento em questões ambientais é essencial para as empresas conseguirem gerir eficazmente as emissões da cadeia de abastecimento. A transparência dos dados de emissões dos fornecedores é crucial porque contribui para que as empresas possam definir objetivos concretos e instituir cláusulas contratuais e incentivos para que estes operem em conformidade com as suas estratégias de descarbonização. As empresas que envolvem os fornecedores na discussão de questões ambientais têm quase 7 vezes maior probabilidade de ter objetivos concretos de redução das emissões de âmbito 3 e um plano de transição alinhado com as metas globais de neutralidade carbónica, no entanto, apenas quatro em cada dez organizações adotam esta estratégia
  3. Definição e adoção de preços internos de carbono. As organizações devem definir um preço interno de carbono que seja incluído em todas as decisões de negócio. Aquelas que adotam esta medida têm 4 vezes maior probabilidade de ter objetivos de mitigação das emissões da cadeia de abastecimento delineados, bem como um plano de transição estruturado alinhado com a meta que limita o aquecimento global a 1,5ºC. No que diz respeito aos investidores, é fundamental que exijam a divulgação dos riscos associados às emissões de âmbito 3 e a fixação do preço do carbono pelas empresas para promover transparência e execução de medidas. Além disso, na ausência de dados específicos, os investidores podem utilizar um modelo de avaliação de ativos financeiros adaptado aos impactos climáticos para incorporar o risco de emissões deste âmbito nas análises e garantir avaliações de mercado justas.
Ao priorizar estes fatores, as empresas promovem uma mudança na gestão das emissões de carbono, sobretudo das de âmbito 3, ganhando vantagens competitivas, obtendo melhores resultados financeiros e contribuindo para alcançar as metas globais de neutralidade carbónica.