A mobilidade elétrica é cada vez mais uma realidade? Esta foi uma das questões levantadas no Painel “Transição Digital e Sustentabilidade no Ecossistema da Mobilidade – Indispensabilidade”, promovido na IV Convenção Nacional da ARAC – Associação Nacional dos Locadores de Veículos.
Apesar de haver um consenso generalizado quanto à eletrificação, os especialistas colocam algumas preocupações que precisam de ser colmatadas, como a legislação sobre o seguro do automóvel: “Precisamos urgentemente de ter uma legislação específica para as indemnizações e que regule o seguro do automóvel”, atenta Paulo Figueiredo, Diretor Coordenador da Direção de Negócio Aut. da Fidelidade, dando nota de que “ não é possível continuar a aplicar o código civil de 1966, quando o seguro é obrigatório desde 1980”. Ou seja, “(não podemos) aplicar uma legislação que é anterior ao seguro automóvel ser obrigatório e uma legislação que é anterior à democratização do uso de um automóvel”, sucinta o responsável, considerando tratar-se de uma “legislação completamente desajustada com veículos autónomos ou sem veículos autónomos”.
Por outro lado, Carlos Pereira, Comercial and Cards Sales Manager da BP Portugal, parece não ter dúvidas de que a locomoção elétrica é a solução de futuro para veículos ligeiros ou semi-ligeiros: “E quando falamos de futuro, não falamos numa perspetiva de cinco anos, pois é algo muito atual e o potencial de crescimento se vai acentuar muito” no curto-prazo. Apesar da eletrificação ser aquela que, no momento, parece ser a mais viável, Carlos Pereira chama a atenção para a “disponibilidade da quantidade de energia”, defendendo uma “transformação profunda do parque automóvel para se conseguir fazer face às exigências a nível europeu e do Governo português, que são imensas e ainda não existe uma estrutura adequada que possa colmatar essa necessidade sempre que falamos da fonte de energia eletricidade”. É certo que esta realidade abre “potencial para outras fontes de energia, que são, seguramente, as preferenciais quando falamos de transporte pesado” ou do “hidrogénio” que, mesmo não sendo para o curto prazo, será uma realidade no mercado português: “Vemos uma oportunidade para o mercado descarbonizar, para as empresas associadas ao ramo automóvel e para as empresas comercializadoras de energia. Entendemos que é uma transição energética rápida, mas que demora em termos de identificar alguns setores do mercado para os quais será a energia adequada para cada um deles”. Mas, no setor ligeiro “falamos de eletricidade no curto e médio prazo”, considera. “O que é preciso não é pensar só nos carros, mas sim em todo o ecossistema que está por de trás dos carros”
Quem parece corroborar com a mesma ideia é Rodolfo Florid Schmid, Administrador da SIVA/PHS: “A eletrificação está cá para ficar(…) e os construtores fizeram grandes investimentos e mudaram todo o seu desenvolvimento de carros de combustão interna para carros de eletrificação”. Neste momento, assiste-se a um mercado de concorrência com “carros e produtos na rua a darem resposta a todas estas necessidades atuais”, refere o responsável, acrescentando que muitas marcas já têm uma estratégia para eletrificação, onde algumas são mais rápidas no processo: “Mas o caminho vai ser eletrificar, até porque há uma norma europeia que estabelece que a partir de 2035 apenas carros elétricos poderão ser matriculados”. Neste processo de eletrificação, Rodolfo Florid Schmid destaca como preocupação a infraestrutura: “Temos os carros e falta definir a infraestrutura que é uma evolução importante”. O responsável acredita ainda que a mudança vai ser feita a duas velocidades: “Nas cidades vai haver uma mudança muito mais rápida e, depois, na parte mais rural, vai demorar mais”.
António Reis Pereira, Country Manager para Portugal da Volvo Financial Services, vê este processo de transição para a eletrificação como “meras transições tecnológicas, (onde) os carros vão ficar melhores”. Agora, a questão é se “(Esta mudança) vai trazer alguma diferença na forma como vemos a mobilidade no meio urbano? Não me parece!”. Para o responsável, atingiu-se um “ponto de saturação” ao nível do tráfego que só é possível alterar com uma mudança de paradigma: “Se continuarmos a fazer aquilo que sempre fizemos, vamos continuar a ter os resultados que sempre tivemos”. Apesar de tudo, António Reis Pereira acredita que haverá uma “mudança de paradigma com os carros autónomos, mas numa fusão com mobilidade partilhada: temos carros que estão 90% do tempo parados, temos famílias com quatro pessoas que têm três carros e, cada vez mais, andamos mais quilómetros”. Esta realidade exige “pensarmos de uma forma distinta”, considera o responsável, acrescentando que a eletrificação e os veículos autónomos são upgrades dos carros (…) e o que é preciso não é pensar só nos carros, mas sim em todo o ecossistema que está por de trás dos carros, trazendo mobilidade às pessoas, utilizando a tecnologia que os carros nos vão trazer”, remata.
Sob o mote “Mobilidade, Sustentabilidade e Digitalização – Novos Desafios”, a IV Convenção da ARAC decorreu na passada sexta-feira, dia 31 de março, em Alcobaça.
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