Em certas regiões do globo, o acesso à energia é um dado adquirido e uma parte crucial do funcionamento de uma sociedade. A verdade é que, um pouco por todo o mundo, subsistem ainda zonas sem acesso a eletricidade, quer pela pobreza de recursos quer pela dificuldade de alcançar certas áreas geográficas.
A propósito do ARE Energy Access Investment Forum, que decorreu recentemente em Lisboa, a Ambiente Magazine sentou-se à mesa com dois responsáveis daquela que é uma das maiores multinacionais de energia e eletricidade do mundo, a Schneider Electric.
Entre eletrificação de áreas rurais, acesso a eletricidade e desafios num futuro de energias renováveis, François Borghèse, Prosumer Marketing Director e Thomas Andre, Strategy & Performance Director, traçaram perspetivas numa curta conversa que reuniu, no entanto, muita informação que pode ser esclarecedora desta realidade.
No âmbito do tema que esteve em discussão no fórum em Lisboa, os responsáveis começaram por evidenciar a preocupação crescente da Schneider Electric com a eletrificação, em especial, nas áreas rurais e de difícil acesso.
A eletrificação rural é, atualmente uma “das prioridades da agenda na Schneider Electric”, que tem vindo a desenvolver soluções que possam ajudar as pessoas no acesso à energia elétrica. Tal como explicou Thomas Andre, a Schneider é cada vez mais “um provedor de soluções” e não apenas de produtos.
É neste âmbito que a multinacional desenvolve, há cerca de sete anos, o programa “Access to Energy”, focado essencialmente em áreas rurais e em populações que não tenham acesso à rede elétrica.
“Esta é uma nova área de negócio. Se olharmos para os números, toda a gente fala dos 1,2 biliões de pessoas que não têm acesso à eletricidade, e do facto de áreas em África, que continua a enfrentar um crescimento populacional, não terem esse acesso. É um grande desafio e que vai permanecer nos próximos anos”, salientou.
Através deste programa, presente em cerca de 30 países, a empresa decidiu criar uma componente social, com programas de treino para as populações locais. “Nós estamos a desenvolver projetos de treino, assentes em três pilares: investimento, estratégias de negócio e competências humanas”, afirmou.
A par disso, François Borghèse explicou ainda que existem neste momento duas abordagens de trabalho para a Schneider. Por um lado, com o acesso e venda direta dos serviços. Por outro, através de parcerias estabelecidas entre a multinacional e IPP’s (Independent Power Producer. No caso do programa “Access to Energy”, a multinacional francesa tem estabelecido parcerias importante com várias organizações não governamentais.
“Chamamos-lhes ‘parceiros não tradicionais’. Estamos a abrir portas e novos caminhos para este negócio e as ONG’s são o elo de ligação para as comunidades e autoridades locais”, sublinha.
O responsável explicou ainda, que no caso da eletrificação em áreas remotas, cada vez mais se desenvolve uma estratégia através dos parceiros IPP, na ótica de maximização de painéis solares e de energia renováveis, evitando assim o uso de energias fósseis. Neste ponto, ambos os responsáveis sublinharam o uso da tecnologia Microgrid (micro-rede) – um sistema interconectado de energia local, dentro de limites físicos, que incorpora consumidores e geração distribuída, operando como uma entidade de controlo independente. Esta tecnologia pode ser alimentada através de energia eólica, solar ou biomassa.
Ao nível dos desafios para os próximos anos, François Borghèse apontou ainda, a par de alguma falta conhecimento e da informação sobre este tipo de matérias das populações, a falta de infraestruturas, a falta de um modelo de negócio adaptado a estas novas alternativas e a falta de regulação como obstáculos decisivos a enfrentar.
Tempo ainda para falar de algumas novidades que a Schneider tem vindo a desenvolver, onde os responsáveis destacaram um novo sistema solar para casas, em que através de um painel será possível agregar e suportar diversas fontes de energia e ainda do novo produto, Ecostruxure Microgrid Advisor, projetado fundamentalmente para edifícios, promovendo uma gestão mais eficiente da energia.