A Ambiente Magazine está a auscultar várias vozes em relação às Eleições Europeias, que se realizam a 9 de junho, para descobrir o que é que a próxima comitiva deve priorizar na matéria ambiental. Aqui fica o comentário de Ana Trigo Morais, CEO da Sociedade Ponto Verde.
Começaram os debates para as eleições europeias que visam esclarecer e informar os portugueses sobre as principais prioridades num espaço que se quer comum e onde o crescimento económico caminha de mãos dadas com uma maior consciência e proteção ambiental.
A função primária da Sociedade Ponto Verde (SPV) é contribuir para um serviço público de gestão da reciclagem de embalagens a favor de Portugal e dos seus cidadãos e, naturalmente, olhamos com especial interesse para a discussão que terá lugar nas próximas semanas.
Consideramos fundamental abordar o atraso na recuperação de muitos recicláveis, que têm de ser entendidos pelo seu valor económico e ambiental.
Urge discutir sem preconceitos ou medos os resultados obtidos e, sobretudo, o alarmante défice de gestão de fluxos de vários materiais, como os biorresíduos, ou os elétricos e eletrónicos, que estão a contribuir para o incumprimento da meta de 55% de reciclagem da UE até 2025.
Esse défice de gestão deve ser um ponto-chave na discussão de soluções eficazes e eficientes para acelerar a reciclagem, a bem da saúde do planeta, do bem-estar dos cidadãos e da uma economia sustentável.
Já para não falar das novas metas nacionais para os resíduos urbanos para 2030 (60%) e 2035 (65%).
Se a ambição de fazer da Europa o primeiro continente neutro em emissões carbónicas até 2050 é um catalisador do esforço comum que é necessário fazer, é fundamental harmonizar a regulamentação europeia e promover maior cooperação entre países, garantindo que as metas são alcançadas de forma eficaz por todos e em tempo.
Os portugueses estão comprometidos com a reciclagem de embalagens, que é o único fluxo de resíduos urbanos que cumpre com as metas nacionais, com a exceção das embalagens de vidro. No resto, o País ainda falha. Não tem de falhar.
Falta montar outros sistemas de recolha seletiva que, por sua vez, permitem melhorar a qualidade dos resíduos de embalagens captados no fluxo indiferenciado. Refiro-me, nomeadamente, aos eletrónicos e eletrodomésticos, aos monos, por exemplo os colchões, mas sobretudo aos biorresíduos. Só estes correspondem a 40% dos resíduos urbanos que produzimos nas nossas casas e a mais de metade dos 3 milhões de toneladas de resíduos que são colocados em aterros.
Há um caminho que temos de percorrer em conjunto e que deve ser prioritário na discussão que antecede estas eleições. Também há boas notícias. Nos últimos anos, os portugueses provaram que consideram estas metas uma prioridade. Os empresários portugueses, corpo da inovação nacional, já descobriram este novo mundo de oportunidades e o enorme valor que existe na boa gestão de resíduos.
Esse é o último, mas sem dúvida um dos temas mais importantes a integrar no léxico eleitoral destas eleições. Existe um enorme espaço de inovação, empreendedorismo e crescimento económico para todos os envolvidos no desafio da reciclagem.
Portugal tem tudo para ser um exemplo europeu neste campo. Só precisamos, finalmente, de falar e agir. Cá e na Europa!