Eleições europeias: Dia chave para a construção do nosso futuro comum

A Ambiente Magazine está a auscultar várias vozes em relação às Eleições Europeias, que se realizam a 9 de junho, para descobrir o que é que a próxima comitiva deve priorizar na matéria ambiental. Aqui fica o comentário de Susana Fonseca, Vice-Presidente da ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável.

 

Aproximamo-nos a passos largos das eleições para o Parlamento Europeu que irão decidir a relação de forças entre os diferentes grupos políticos. Tendencialmente é o ato eleitoral que menos atrai os eleitores portugueses, registando habitualmente elevados níveis de abstenção.

Contudo, é ao nível da União Europeia que se decide uma parte significativa do que acontece e acontecerá em Portugal. Por exemplo, na área ambiental, praticamente 80% da legislação é decidida atualmente na União Europeia, por isso o próximo ciclo político europeu 2024-2029 – que vai a votos dia 9 de junho em Portugal – é de uma importância crucial na construção de um futuro digno, saudável e próspero para todos os europeus.

Os indicadores são claros e apontam para a necessidade de acelerarmos o passo rumo a novos paradigmas na mobilidade, na energia, na agricultura, na gestão de recursos e na recuperação de ecossistemas vitais. No entanto, não obstante o consenso científico, estamos muito longe de assistir a consensos políticos ou até sociais sobre o que temos de fazer.

O contexto atual de aumento da conflitualidade e do extremar de posições traz novas ameaças. Os grupos de pressão da indústria, empresas de combustíveis fósseis e populistas apelam a um regresso ao business-as-usual, promovem a desregulamentação e pedem uma ‘pausa’ nas normas ambientais até agora alcançadas ou alavancam grupos que tal defendem, colocando em perigo a segurança e o bem-estar das gerações presentes e futuras.

Após um período onde a União Europeia, através do Pacto Ecológico Europeu, procurou, de facto, dar passos significativos no sentido da sustentabilidade, eis que nos vemos perante fortes movimentos de reação a estas medidas, muitos deles assentes em visões de curto prazo e manipulação de informação, ignorando o que a ciência nos diz sobre o que é necessário fazer para que todos – gerações presentes e futuras – possam viver com bem-estar dentro dos limites do planeta.

Perante as sondagens que apontam para um reforço da extrema-direita é fundamental informarmo-nos sobre quem defende o quê e, dentro do possível, levar em conta o percurso de cada partido até aqui no que diz respeito ao apoio a dossiers críticos na área ambiental.

Para ajudar neste processo de reflexão, cinco grandes ONG de ambiente europeias analisaram os registos de votação do Parlamento Europeu dos últimos cinco anos para fornecer aos cidadãos uma panorâmica interativa que classifica todos os partidos políticos nacionais e grupos parlamentares europeus com base no seu desempenho em termos de votação sobre 30 dossiers ambientais: doze centrados na transição com impacto neutro no clima e socialmente justa; oito focados numa Europa positiva para a natureza  e dez sobre economia circular e transição para a poluição zero.

Este barómetro europeu (de que a ZERO fez eco) demonstra muito claramente qual tem sido o sentido de voto dos diferentes grupos políticos no Parlamento Europeu. O que ficou claro é que quanto mais à direita, menor a propensão para apoiar as políticas ambientais. Contudo, um aspeto muito relevante é que em todos os grupos políticos, com exceção dos da extrema-direita, havia variações significativas nas posições, por exemplo entre dossiers e entre países. Contudo, quando a análise se cinge aos grupos da extrema-direita, o sentido de voto foi sempre muito claro de voto contra as políticas ambientais propostas. Portanto, não se trata de achar que…, de facto, os partidos da extrema-direita, têm, de forma “muito coerente” ao longo dos últimos 5 anos votado contra a esmagadora maioria das medidas ambientais.

Uma análise breve indica que, de entre os partidos portugueses que entram na categoria de protetores, o BE e o PS ficaram acima da média do seu grupo político na UE. O PCP surge abaixo da média do seu grupo político, obtendo apenas a classificação de procrastinador e destoando assim do seu grupo, que na média europeia se classifica como protetor. Entre os pensadores pré-históricos, o PSD está dentro da média do seu grupo (ligeiramente acima) e o CDS-PP está abaixo.

Portanto, não podemos dizer que não sabíamos, que ninguém nos informou da importância de marcar presença no dia 9 de junho e votar em consciência nos partidos políticos que, efetivamente, estejam alinhados com os valores e as propostas que defendemos.

Assim, no próximo dia 9 de junho, na sua mesa de voto habitual ou em qualquer outra mesa de voto no país (sim, será possível votar em qualquer parte do país, mesmo que não seja a nossa área de residência), vote, por si e pelo nosso futuro comum. Tenha presente que: “aqueles que não votam, vivem numa democracia definida por outros e sobre a qual outros decidem”.