Três em cada quatro equipamentos elétricos usados, colocados pelos cidadãos na via pública, para recolha posterior por parte dos serviços municipais, são desviados para o mercado paralelo e não chegam às unidades de tratamento onde seriam corretamente descontaminados e reciclados. Esta é uma das grandes conclusões do “Weee-Follow”, um projeto promovido pelo Electrão (Associação de Gestão de Resíduos) entre 2020 e 2021, para identificar os desvios de equipamentos eléctricos e possíveis rotas de mercado paralelo, pode ler-se num comunicado.
O percurso de 73 equipamentos, distribuídos em 12 dos concelhos mais populosos da área de Lisboa e Porto, foi monitorizado em tempo real através de GPS instalados pelo Electrão em cada um dos aparelhos.
A Associação, tal como explica em comunicado, optou por seguir o rasto das tipologias que são mais procuradas pelo mercado paralelo, dado o valor dos seus componentes, como é o caso de frigoríficos, torres de computadores, máquinas de lavar e fogões. A monitorização revelou que “a esmagadora maioria dos aparelhos colocados na via pública, para recolha por parte dos serviços municipais, é canalizada para o circuito informal”, o que significa que “os equipamentos são transformados em muitos casos em sucata metálica sem que seja acautelada a sua descontaminação”, refere o comunicado partilhado pelo Electrão.
Em suma: “Só 25% destes equipamentos teve como destino final um Operador de Tratamento de Resíduos, licenciado para descontaminar os aparelhos e recuperar os materiais reciclados. 75% integrou o mercado paralelo”.
De acordo com a Associação, a monitorização via GPS permitiu perceber que “muitos equipamentos foram encaminhados para operadores que não estão capacitados para o tratamento de equipamentos elétricos e para portos marítimos”, o que significa que “alguns aparelhos acabam por ser exportados”. Mesmo quando são entregues pelos cidadãos em ecocentros e em outros locais fixos das câmaras municipais, de acesso público, “uma parte significativa (37%) destes equipamentos elétricos usados é desviada”, alerta o Electrão. Algo que parece agravar este cenário, tendo com base os resultados do projeto, é que os gases de refrigeração associados aos equipamentos desviados nos canais municipais representaram, em 2020, cerca de 36 toneladas: “Este valor é o equivalente à circulação de 13.500 automóveis durante um ano em Portugal. Em alternativa, seriam necessários 550 hectares de pinheiros para absorver o CO2 equivalente destes equipamentos durante um ano”, lê-se no mesmo comunicado.
Para o director-geral do Electrão, Pedro Nazareth, “o resultado deste projeto demonstra que urge privilegiar soluções para a recolha de equipamentos elétricos usados porta-a-porta, como o Electrão já está a fazer, no âmbito do um projecto piloto, em Lisboa, em complemento com a recolha municipal na via pública”. Pedro Nazareth acredita que o Weee-Follow pode ser uma boa ferramenta para ajudar a pôr fim a más práticas, como a de transformar estes equipamentos em sucata metálica sem acautelar a sua descontaminação: “Este projecto pode ajudar a aumentar o número e a qualidade dos equipamentos eléctricos usados já que permite às autoridades ambientais a possibilidade de realizar acções coordenadas com vista penalizar as origens e os receptadores”.
[blockquote style=”1″]Weee-follow inspira projeto à escala nacional[/blockquote]
Os resultados alcançados no âmbito do projecto Weee-Follow inspiraram um projeto que será dinamizado à escala nacional e alargado às restantes entidades gestoras de equipamentos elétricos. Assim, a lógica do Weee-follow vai ser seguida na Campanha Nacional de Fiscalização de Resíduos de Equipamentos de Eléctricos e Electrónicos (REEE), que foi apresentada publicamente esta quarta-feira, dia 13 de outubro, e que se enquadra no Plano de Acção dos REEE, que decorrerá em articulação com a Agência Portuguesa do Ambiente, Direção-Geral das Actividades Económicas e entidades públicas competentes em matéria de inspecção e fiscalização no contexto de gestão de REEE.
[blockquote style=”1″]14 de Outubro: Dia Internacional dos Resíduos Elétricos[/blockquote]
Pela quarta vez consecutiva o WEEE Forum, a associação internacional que representa diversas entidades gestoras de resíduos eléctricos, volta a assinalar o dia 14 de outubro, como o Dia Internacional dos Resíduos Elétricos. Esta iniciativa conta com a participação de mais de 100 entidades, distribuídas por 70 países.
O Electrão associa-se mais uma vez à comemoração deste dia, desta vez com uma instalação de 216 equipamentos elétricos usados no jardim na Quinta dos Ingleses, em frente à Praia de Carcavelos. A instalação que terá a forma da sigla SOS, pretende “alertar para a questão da separação de equipamentos eléctricos e do seu correcto encaminhamento para reciclagem”. Segundo a Associação, os dados mostram s que são produzidas anualmente em todo o mundo, cerca de 54 milhões de toneladas destes resíduos, e que na Europa apenas 17% destes equipamentos são correctamente reciclados. O SOS surge por isso numa “alegoria à urgência em tomar medidas” que permitam recolher e reciclar cada vez mais equipamentos elétricos, refere o mesmo comunicado.