Os encargos com energia são um dos maiores custos no setor de saneamento de águas residuais. É indiscutível a necessidade de usar de modo eficiente a energia e aumentar a componente de energia renovável consumida nas instalações.
Nas Fábricas de Água (ETAR), por serem infraestruturas projetadas para horizontes de projeto relativamente alargados, dimensionadas em função de pressupostos, que em alguns casos não ocorrem efetivamente, verifica-se em muitos casos a existência principalmente de:
- Linhas de tratamento com utilização real abaixo da sua capacidade instalada;
- Equipamentos desajustados e sem capacidade de ajustamento às condições reais.
Numa fase inicial é relativamente fácil identificar medidas que levem a redução de consumos, em muitos casos apenas com medidas operacionais, ou com investimentos reduzidos, ajustando os equipamentos à realidade da instalação com recurso, por exemplo, a variação de velocidade, ou temporizando equipamentos que funcionam em contínuo desnecessariamente. O desafio encontra-se em manter estas reduções e manter o acompanhamento.
Nem sempre a implementação de medidas pontuais se traduz numa redução do consumo de energia global de uma instalação. Se a monitorização se focar na instalação com um todo, poderá não ser percetível se as medidas implementadas se traduziram numa redução efetiva de consumos, identificando claramente as medidas com sucesso e que possam ser replicadas.
Assim, é recomendável a implementação de um Sistema de Gestão de Energia (SGE), de modo a conhecerem-se efetivamente os consumos de energia em cada uso.
O desenho de um SGE deve assentar principalmente em três vertentes fundamentais, a definição de objetivos, o estabelecimento de metas e o desenvolvimento de Indicadores de Desempenho Energético (IDE). Os objetivos e metas devem de ser claros, específicos, mensuráveis, alcançáveis e com um horizonte temporal bem definido.
Os IDE devem ser adequados à etapa/equipamento que se pretende monitorizar, não se devem basear somente em rácios simples, mas tentar englobar as variáveis relevantes que afetam o desempenho (caudal tratado, carga orgânica, etc), desenvolvendo modelos de correlação entre as mesmas, de forma a obter IDE mais robustos e que melhor traduzam a realidade do desempenho energético.
A monitorização “online” será o ideal para a deteção atempada de desvios nos IDE, permitindo a atuação sem comprometer os objetivos e metas a atingir. Quando se inicia a implementação de um SGE, não é fácil dispor de imediato, de monitorização de energia “on-line”. Numa fase inicial da implementação poder-se-á utilizar uma escala temporal mais alargada, mensal ou semanal que permita o controlo dos IDE e das medidas implementadas.
Com um SGE de acordo com o normativo ISO 50001 consegue-se, de facto, um controlo sistemático e continuo dos consumos de energia e do desempenho das instalações.
Porquê a certificação? Apenas pelo reconhecimento da empresa ser certificada em mais um normativo? Não.
A certificação contribui para a perenidade e manutenção dos planos de eficiência energética, obriga a uma monitorização contínua, à investigação de desvios, à demonstração de resultados e à melhoria contínua. Com a obtenção da certificação, a iniciativa de eficiência energética como um todo ganha maior lastro corporativo, mantendo esta matéria nos compromissos estratégicos das empresas, acautelando caso necessário, os investimentos ano após ano.
No caso da Águas do Tejo Atlântico, o SGE atualmente inclui 10 instalações e permite a monitorização dos consumos destas instalações em relação a um cenário de referência, o conhecimento e acompanhamento do desempenho energético dos diversos usos e a avaliação efetiva dos ganhos energéticos obtidos.
As reduções de consumo anuais estimadas ultrapassam atualmente os 4 milhões de quilowatt-hora, sendo evitadas cerca de 1900 toneladas CO2 equivalente.