A EDP quer exportar a solução de produção solar flutuante de eletricidade, que está a ser testada na central hídrica do Alto Rabagão, em Montalegre, para as barragens que detém no Brasil, estando já a estudar o contexto regulatório, noticia a agência Lusa.
À margem da inauguração da central fotovoltaica flutuante do Alto Rabagão, o presidente da EDP Produção, Rui Teixeira, adiantou que a elétrica está a analisar “com as equipas no Brasil se regulatoriamente se pode exportar esta solução”, que se encontra a produzir energia em Trás-os-Montes desde 30 de novembro.
Se a regulação brasileira permitir implementar esta solução híbrida, em que os painéis solares são instalados nas barragens, a EDP poderá decidir entre um projeto-piloto nas barragens que detém no Brasil ou aguardar pelos resultados do primeiro ano de vida do projeto-piloto.
Este projeto-piloto, um investimento de 450 mil euros da EDP, consiste em 840 painéis solares flutuantes numa espécie de jangada na albufeira da barragem do Alto Rabagão, com uma produção anual estimada de 300 MWh, o equivalente ao consumo de 100 famílias.
Neste momento, após sete meses em produção, a produção ultrapassou em 6% as estimativas, o que resultou de “um inverno atípico com muito sol e especialmente frio”, o que é favorável à produção dos painéis solares.
De acordo com o responsável, o ideal para decidir sobre a passagem a uma fase pré-industrial seria quatro anos para ter representatividade estatística, mas pelo menos um ano de produção tem que ser tido em conta. “Ainda estamos em processo de aprendizagem. Temos que esperar até ao final de novembro para perceber se podemos extrapolar”, declarou Rui Teixeira, à margem da inauguração que contou com a presença do secretário de Estado do Ambiente, Carlos Martins, em representação do Governo.
Na sua intervenção, o secretário de Estado do Ambiente realçou a “inovação” do projeto, mais um contributo para “uma mudança de paradigma” em que “Portugal tem estado na linha da frente”.
O projeto-piloto da primeira central solar fotovoltaica instalada num aproveitamento hídrico na Europa foi instalado na Barragem do Alto Rabagão para testar a solução em condições especialmente adversas, como ventos fortes, variações do nível de água que podem chegar aos 30 metros, uma profundidade de 60 metros e ondulação que pode chegar a 1,5 metros.
“Se funcionar aqui é provável que funcione em todos os outros sítios e, se funcionar, tem potencial de ser escalável”, disse, adiantando que a solução podia ser aplicada em outras barragens, destacando o “grande potencial do Brasil”.
O presidente da EDP Produção ilustrou as potencialidades: “Se apenas 5% da área disponível em albufeiras da EDP fosse utilizada para a instalação de painéis solares significaria uma potência instalada de 1.000 MW”.
O plano da EDP – se o projeto-piloto vier a ser validado – passa por explorar a complementaridade entre as energias hidroelétrica e solar, aproveitando que há mais sol quando há menos chuva e vice-versa, o que implicaria uma regulamentação específica para a entrada da produção no sistema elétrico.
Até lá, a EDP vai avaliar o funcionamento, a exploração e os resultados de exploração desta solução e chegar a valores concorrentes com as soluções tradicionais em terra, que não têm os elevados custos de amarração das plataformas flutuantes ao leito da barragem, mas com maiores custos ambientais, em primeiro lugar por não ser necessário reafetar terrenos. Além disso, em água os painéis podem ser desmontados “sem deixar vestígios” e, portanto, “a pegada é nula”.