#EconomiaCircular: PlaCarvões transforma plásticos sujos em carvões ativados

A Economia Circular está, hoje, subjacente em muitas empresas. Produtos sustentáveis, amigos do ambiente e com um ciclo de vida longo são, cada vez mais, uma opção. Há também quem ponha em prática estes conceitos e desenvolva os seus próprios produtos. Com o objetivo de dar “voz” a projetos de cariz sustentável, a Ambiente Magazine irá, todas as semanas, apresentar algumas iniciativas aos nossos leitores e dar a conhecer o que se faz em Portugal nesta área. Esta semana, partilhamos o projeto “PlaCarvões”. 

O projeto PlaCarvões – de plásticos a carvões ativados – tem como objetivo principal contribuir para a diminuição do problema ambiental dos plásticos, através da sua valorização como matéria-prima numa perspetiva de economia circular. Quem o diz é Teresa Batista, responsável do PlaCarvões, que destaca ainda o facto do projeto “transformar os plásticos sujos” cujo destino final é a “deposição em aterro” ou a “valorização energética”, em “carvões ativados”, dando-lhe uma nova vida. De acordo com a também chefe da unidade de Ambiente e Desenvolvimento da CIMAC (Comunidade Intermunicipal do Alentejo Central), o carvão ativado tem “diversas aplicações”, nomeadamente a “filtragem e captação de poluentes de meios líquidos e gasosos”, podendo ser utilizado em “efluentes agroindustriais e urbanos” e em “unidades de pequena a média dimensão, de base local e regional”, transformando um resíduo num “produto de elevado interesse económico e ambiental”.

Ambientalmente, o projeto, ao aplicar os “princípios de economia circular” na “cadeia de valor dos plásticos”, com a “valorização de resíduos de plásticos” como o “plástico agrícola”, os “plásticos descartáveis” e a “fração não valorizada dos resíduos urbanos” através da produção de carvões ativados, pretende combater o “problema dos plásticos” que é já uma “preocupação crescente em todo o mundo”, principalmente pelo caso dos oceanos, que “estão cheios de plástico” ou de “microplásticos” que já foram identificados em diversos locais. Em Portugal, lembra Teresa Batista, no ano de 2018, a “percentagem de resíduos urbanos que tinham como destino final a reciclagem foi de 12,9%”. Atualmente, “58% dos resíduos urbanos gerados são depositados em aterro, direta ou indiretamente”, precisa. Já no Alentejo Central, em 2017, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE), os “resíduos urbanos recolhidos foram de 84.384 toneladas”, dos quais apenas “14.122 toneladas foram recolhidos seletivamente”. Desta forma, o PlaCarvões contribui para que “estes resíduos” sejam “desviados dos aterros”, incentivando-se a “separação e recolha dos mesmos”, em particular no “domínio agrícola”. Ao mesmo tempo, destaca a responsável, permite a produção de um “material poroso” que será, depois, aplicado no “tratamento das águas residuais”, nomeadamente, para a “adsorção de poluentes”, como por exemplo, os “fitofármacos”.

[blockquote style=”2″]A economia circular pode ser aplicada em quase todos os setores[/blockquote]

O projeto, liderado pela EDIA (Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva), desenvolveu-se durante o ano de 2018 e conta com o apoio do Fundo Ambiental. De acordo com Teresa Batista, durante o mesmo período, o projeto resultou na construção de uma “unidade piloto” para a “produção de carvões ativados” e em “diversos testes e análises” quer ao “precursor”, quer aos “carvões ativados produzidos”. Além disso, acrescenta a engenheira, foi “testada a capacidade de adsorção dos carvões produzidos”. Nestas tarefas, estiveram envolvidos vários responsáveis do Departamento de Química da Universidade de Évora. Neste momento, está em curso uma nova candidatura ao Programa H2020, para o “aprofundamento dos estudos” e “escalonamento da solução”, avança.

Quando questionada sobre os avanços em Portugal relativamente à temática economia circular, Teresa Batista considera que “já há alguma coisa a ser feita”, além de que, na perspetiva do “novo quadro comunitário de apoio” a economia circular é um dos “eixos estratégicos”. Além do mais, defende a responsável, a “economia circular” pode ser “aplicada” em quase todos os setores, nomeadamente, no “agroindustrial”, nos“plásticos”, na “construção”, na “água” ou na “energia”. De acordo com a engenheira, já são “muitas as boas práticas que existem no território”, como é o caso da “cortiça”, em que “não há desperdício”, de “muitas agroindústrias”, em que os “resíduos são biorresíduos” e são “incorporados no solo como fertilizante”, ou, também, nos “vinhos” e na “reciclagem dos plásticos”. No entanto, se o foco passar para a “problemática dos plásticos” apenas 12% são recolhidos e são valorizados para reciclagem: “Neste e noutros setores estamos muito aquém do que é necessário fazer para alterar o paradigma da economia linear para a economia circular”. Ainda assim, diz a responsável, existem “determinadas medidas” que já estão há “muito tempo implementadas noutros países” e que só há “muito pouco tempo se iniciaram em Portugal”, como é o caso “da recolha de PET e PAD nos espaços comerciais”. Embora, Portugal possa estar a “traçar um caminho”, a responsável não tem dúvidas de que, “ainda há muito a fazer e fazer de forma mais assertiva”.

Do ponto de vista de Teresa Batista, os “instrumentos de financiamento” das “empresas” ou de “projetos em geral” deveriam ter “critérios de valorização” da taxa de financiamento, que privilegiassem as “soluções” que integrem “medidas” ou “ações” de economia circular. Num momento em que estão a ser desenhadas “estratégias” e “programas nacionais, regionais e sub-regionais” para o financiamento do próximo quadro comunitário de apoio, é crucial incluir tais “preocupações” e “critérios”, defende. Assim, se o país quer dar um “passo efetivo” na “integração da economia circular nas empresas” e “contribuir efetivamente para a sustentabilidade dos territórios”, a responsável salienta a necessidade  de “articulação” entre “políticas” e “estratégias”.

Qual é cenário para daqui a 10 anos? 

Se não mudar o paradigma do consumo da sociedade atual, prevejo que o setor dos resíduos vai continuar a crescer, o que por si só, não seria um bom indicador. É imperativo dissociar o crescimento económico do aumento da produção de resíduos, assegurando uma utilização prudente, eficiente e racional dos recursos naturais.

Parceiros do projeto: CIMAC, EDIA, GESAMB e Universidade de Évora Colaboradores do Projeto: Teresa Batista (CIMAC); Luis Metrogos (CIMAC); Barbara Tita (EDIA); Cátia Borges (GESAMB); Gilda Matos (GESAMB); Isabel Cansado, Paulo Mourão e João Nabais (Uevora).

 

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